A temporada de F1 pode começar em julho, possivelmente com o GP da Áustria, dia 5, a 11ª etapa do calendário original. É o que afirma Ross Brawn, diretor da Formula One Management (FOM), o braço executivo na F1 do Liberty Media, grupo americano proprietário dos direitos comerciais desse esporte.
Em entrevista à imprensa inglesa, Brawn expôs o complexo e bem elaborado plano de ações desenvolvido pelo seu grupo de trabalho aliado ao de Jean Todt, presidente da FIA, dos representantes das equipes e dos promotores de GPs.
O projeto acata um princípio essencial para poder ser colocado em prática: garantir que todos os integrantes da F1 que vão às corridas não contaminem os cidadãos dos países do evento. Bem como a própria F1 adotar todas as medidas para que seus profissionais não deixem essas nações contaminados.
Você reparou que a F1 permaneceria quase em uma bolha enquanto se movimenta pelo mundo?
Segundo Brawn, se eles obtiverem êxito nesse projeto, com a largada do campeonato em Spielberg, na Áustria, a temporada poderia ter incrivelmente entre 18 e 19 etapas. Por enquanto, há apenas dois dos 22 GPs originais cancelados: o da Austrália, que estava programado para 15 de março, e o de Mônaco, originalmente previsto para 24 de maio.
O experiente diretor da FOM comentou que seria uma maratona, com GPs em três fins de semana seguidos, um de pausa, e três outros na sequência, por exemplo. E alguns casos, como o da China, a programação seria de apenas dois dias, sábado e domingo, para dar tempo de a F1 chegar, se instalar e realizar o show.
Brawn explicou que todos os aspectos logísticos foram levados em consideração nesses estudos.
FOM, FIA e as escuderias consideram, ainda, a possibilidade de o calendário se estender até o início de 2021. Como os carros de 2021 usarão o mesmo conjunto mecânico deste ano, os cerca de dois meses entre o encerramento do campeonato de 2020, já em janeiro de 2021, e o início do de 2021, em março, não representaria um problema maior para as equipes.
Resgato aqui uma frase oportuna de Brawn: “Não é ideal (referindo-se ao projeto), mas é melhor do que não termos corridas. Lembro existir milhões de pessoas que acompanham o esporte e nesse momento estão sentadas em casa. Muitas estão em isolamento. Poder disponibilizar e manter o esporte vivo seria um grande bônus para enfrentar a crise. Não queremos colocar ninguém em risco”.
Como que respondendo aos que duvidam que a F1 será disputada este ano, caso todo esse planejamento não vá para a frente, Brawn afirmou: “A data limite para darmos a largada é outubro. Precisamos de somente oito etapas para que o campeonato tenha o caráter de um mundial”.
O que é importante para todos os profissionais envolvidos nesse planejamento é a temporada começar, preferencialmente em julho, e depois não ter de parar de novo, dar um tempo, antes de reiniciar. Seria muito ruim para os seus interesses. Isso está sendo levado em conta na definição do novo calendário, ordenar as etapas de maneira a reduzir o risco de paralisação.
Agora, algo não mencionado por Brawn. A principal fonte de renda dos promotores de GP é a arrecadação da venda dos bilhetes. Outra fonte é a associação do nome de empresas ao GP, como GP Petrobras do Brasil de F1, GP Heineken Itália de F1 etc.
O fato de não haver público nas arquibancadas nesse plano de a F1 dar a largada ao seu campeonato está exigindo longas discussões entre a FOM e os promotores de GP. Isso porque o promotor já pagou a FOM previamente pelo direito de organizar sua corrida. Mas agora, na hora de ver o dinheiro da venda dos bilhetes, o pessoal da F1 veio e disse: “Olha, não é bem assim”.
Com certeza, a FOM está descontando na taxa paga pelo promotor o que ele arrecadaria com a comercialização dos bilhetes. Ou seja, devolvendo dinheiro para a conta do promotor. Podemos concluir: apesar de muito provavelmente a F1 realizar seu campeonato este ano, em plena crise provocada pela Covid-19, sua arrecadação geral irá cair significativamente.
Não atingirá, por nada, o tradicional valor anual de US$ 1,2 bilhão, R$ 6 bilhões. É por saber disso que todas as equipes estão mobilizadas, junto dos homens da FOM e da FIA, para reduzir os custos de disputar o campeonato deste ano e o de 2021. E já adiaram para 2022 o que seria a nova F1, com carros e regras bem distintos dos atuais.
O congelamento do conjunto mecânico dos carros para 2020 e 2021 é já uma medida importante. Provavelmente valerá também para as unidades motrizes, ou motores. Sendo possível mudar somente os elementos do conjunto aerodinâmico.
Outra: todos concordaram em antecipar de 2022 para 2021 o teto orçamentário das equipes. E mesmo o valor previamente acordado foi reduzido, de US$ 175 para US$ 150 milhões, com chances de chegar a US$ 125 milhões, R$ 625 milhões.
Assim, Chase Carey, o principal dirigente da F1, designado pelo Liberty Media para liderar a FOM, já avisou aos representantes dos times que, pelo plano elaborado para haver competição este ano, o repasse de verba será menor. Além de menos GPs, a FOM está descontando do valor pago pelos promotores o quanto eles arrecadariam com a venda dos bilhetes.
Para exemplificar com números. Os promotores dos GPs na Europa, exceto Mônaco, depositam US$ 25 milhões, R$ 125 milhões, na conta da FOM. É a taxa cobrada a cada edição do evento. Se provarem que arrecadam US$ 15 milhões, R$ 75 milhões, com a comercialização dos bilhetes, a FOM lhes devolverá esse valor. De novo: não haverá público nos GPs.
A explicação de Brawn à mídia britânica teve como objetivo deixar claro para os patrocinadores das equipes e dos GPs que a F1 irá, sim, apresentar seu espetáculo este ano. Começando em julho, o mais provável, ou no pior cenário, em outubro. Todos precisam dessa que parece ser uma garantia para os contratos de alguma forma serem respeitados, ainda que, obviamente, revistos nos seus valores.
Os fãs da F1 torcem para que na sexta-feira, 3 de julho, os carros deixem os boxes do Circuito Red Bull Ring para o primeiro treino livre do GP da Áustria, o primeiro da 71º temporada da história da Fórmula 1.