Ferrari: Sainz Jr ou Ricciardo no lugar de Vettel

Equipe italiana anunciou ter chegado a um acordo com Vettel para que no fim do ano cada um siga seu caminho

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Livio Oricchio
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Reconheçamos: a não renovação do contrato de Sebastian Vettel pela Ferrari, anunciada nesta terça-feira (12/05), não surpreende.

O piloto alemão de 32 anos demonstrou no ano passado ser, na média, menos eficiente, tanto nas sessões de classificação quanto nas corridas, que o jovem monegasco Charles Leclerc, 22, estreante na Ferrari e com um salário dez vezes menor (isso mesmo, dez vezes).

Pior: ao tentar acompanhar o ritmo de Leclerc, vencer a disputa com o companheiro, mostrar porque foi tetracampeão do mundo, Vettel se desestabilizava emocionalmente. A ponto de comprometer a conquista de melhores resultados da equipe.

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O exemplo mais importante desse comportamento indesejável para a Ferrari foi o ocorrido no GP Brasil, em Interlagos. Ao fechar a porta para Leclerc, que tentava, na Reta Oposta, reconquistar a posição perdida pouco antes, os dois se chocaram, ocasionando o duplo abandono.

Some a esse desequilíbrio vários outros erros cometidos nos últimos anos, como no GP da Alemanha de 2018, quando bateu sozinho, na liderança. Ou na largada do GP de Singapura de 2017, levando ao abandono dele e do parceiro de Ferrari, Kimi Raikkonen. Esses erros ainda não foram totalmente digeridos pelos italianos.

Vettel tem contrato com a Ferrari. Disputará o campeonato programado para começar dia 5 de julho em Spielberg, na Áustria. Será interessante ver o tratamento que Mattia Binotto, diretor da Ferrari, lhe dará.

Vettel em sua última vitória no GP de Singapura de 2019: tetracampeão não renovará com a Ferrari
Crédito: Divulgação
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Se vai concentrar seu interesse em Leclerc, representante do futuro da Ferrari, ou permitirá que Vettel realize seu trabalho, receba a bandeirada na frente do monegasco quando não houver nenhum piloto entre os dois na volta final.

Mercado agitado

O anúncio da Ferrari reflete o que está acontecendo nos bastidores da F1 nesses tempos de reclusão por causa da pandemia do coronavírus: o mercado de pilotos está agitadíssimo. A temporada ainda não deu a largada, mas as negociações entre chefes de equipe e pilotos já avança há pelo menos um mês.

Sabe por quê? Simples: nada menos de 14 pilotos dos 20 do grid não têm contrato para 2021. Apenas 6 sabem, ao certo, o que vão fazer no campeonato do ano que vem.

Os responsáveis pelas escuderias não podem esperar o último momento para negociar, definir seus pilotos. Eles ainda são parte muito importante para a conquista dos melhores resultados.

A hora de procurar ter os mais capazes, dentro das possibilidades de cada um, é agora.

Convido-o a uma viagem, em dois capítulos, por entre as dez equipes para melhor entender o que está em curso e até como pode ser a cara da F1 em 2021 quanto à formação de pilotos e escuderias.

No capítulo de hoje ficaremos apenas com a Ferrari, diante da notícia do dia. E amanhã (13/05) apresentamos as demais nove escuderias.

O ultrapromissor Leclerc assinou em dezembro um contrato de cinco anos, até o fim de 2024. O valor é conhecido no paddock: US$ 100 milhões – R$ 580 milhões -, o que lhe dá US$ 20 milhões por ano. Se for campeão, receberá um aumento.

O novo companheiro de Leclerc

A pergunta que está no ar agora é quem ocupará a vaga de Vettel na mais tradicional escuderia da F1, a mítica Ferrari, sonho da maioria, "dona" de 15 títulos mundiais de pilotos e 16 de construtores, primeira em tudo.

Conto aqui, antes, um pouco da história do divórcio entre Vettel e a Ferrari. Por duas vezes Vettel e Binotto conversaram, recentemente, no início de abril e na semana passada, visando a renovação de seu contrato que termina no fim do ano.

A oferta da Ferrari previa um corte pela metade do pago a ele, seria o mesmo valor recebido, agora, por Leclerc. E o novo compromisso seria de um ano apenas. Não se esqueça de que a partir de 2022 começa a chamada “Nova F1”, com carros e regras diferentes.

Carlos Sainz Jr: jovem espanhol já tem boa "estrada" na Fórmula 1 e é o mais cotado para o lugar de Vettel
Crédito: Divulgação
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A reação de intransigência de Vettel, em especial no último encontro, muito mais em relação ao tempo de contrato do que à redução no salário, levou Binotto a pensar em quem poderia substituí-lo.

Daniel Ricciardo, da Renault, australiano, 30 anos, seria o candidato natural, pois seu contrato com a Renault termina no fim do ano e os dois se flertam há anos. Agora estão conversando um pouco mais sério.

Mas os italianos não querem pagar mais do destinado a Leclerc, US$ 20 milhões – R$ 116 milhões – por temporada, o oferecido a Vettel. Todas as dez equipes vão ter um repasse de dinheiro menor, em 2021, por causa da queda de receita, este ano, da Formula One Management (FOM).

Acontece que Ricciardo assinou com a Renault por dois anos, 2019 e 2020, por US$ 25 milhões – R$ 145 milhões – por temporada. Soubemos quando seu ex-conselheiro entrou na justiça para cobrar uma comissão. Em outras palavras, o competente australiano tornou-se um piloto caro.

O que fez Binotto? Procurou o pai de Carlos Sainz Júnior, o campeão mundial de rali Carlos Sainz. Seu filho, espanhol, 25 anos, da McLaren-Renault, foi o melhor dos “mortais” em 2019, ou seja: sétimo colocado no mundial, atrás apenas dos pilotos de Mercedes, Red Bull e Ferrari. E já tem experiência (102 GPs), estreou na F1 em 2015, pela Toro Rosso. O contrato de Sainz Júnior com a McLaren termina no fim do ano.

Daniel Ricciardo: australiano receberia menos na Ferrari do que ganha na Renault
Crédito: Divulgação
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Em resumo, as opções de Binotto são estas: Ricciardo, se concordar em receber menos que hoje, ou Sainz Júnior, jovem, talentoso, de relação aparentemente menos difícil com Leclerc e, muito importante hoje, não caro. A Ferrari provavelmente não lhe pagaria mais de US$ 6 milhões – R$ 34 milhões.

Nesta terça-feira, profissionais de imprensa italianos, com contatos dentro da Ferrari, souberam haver bem mais possibilidades de o espanhol ser o escolhido, mas ainda não há nada resolvido.

O destino do alemão

Outra pergunta importante: para aonde vai Vettel? Ele tem duas opções. A mais lógica é ocupar a vaga de Ricciardo na Renault na hipótese de o australiano se transferir para a Ferrari.

A questão financeira não seria problema, pois os franceses repetiriam os valores pagos a Ricciardo, menos do que Vettel ganha na Ferrari, exorbitantes US$ 40 milhões – R$ 232 milhões. Mas, mesmo assim, muito acima da realidade do mundo hoje.

Cyril Abiteboul, diretor da Renault, já disse que Vettel interessa no caso de Ricciardo deixar a escuderia.

Outro possível rumo para Vettel – e talvez mais provável - é o de Woking, sede da McLaren, ao sul de Londres.

Se Sainz Júnior for para a Ferrari, com certeza Zak Brown, diretor executivo do Grupo McLaren, e Andreas Seidl, diretor do time de F1, se interessariam pelo alemão. Na verdade, os dois lados já conversam.

Desde o primeiro instante do impasse com Binotto, há mais de um mês, Vettel começou a se mexer, estudando alternativas. Aos 32 anos, sente ter ainda muito a oferecer para a F1. Ninguém é por acaso quatro vezes seguidas campeão do mundo, de 2010 a 2013, pela Red Bull-Renault, conquista 53 vitórias, 120 pódios e 57 pole positions.

Existe para Vettel um atrativo e talvez um impedimento nas conversas com a McLaren. O time inglês passará a competir com unidade motriz (motor) Mercedes a partir de 2021. A própria Mercedes deve estar vendo com bons olhos uma eventual transferência do alemão Vettel para lá.

O que pode emperrar as negociações é a limitação de orçamento da McLaren, sem um patrocinador principal há anos. Se a oferta chegar na da Ferrari, será já algo para o alemão celebrar. São as outras empresas do Grupo McLaren, como a McLaren Applied Technologies, as maiores responsáveis pelos investimentos na equipe.

Seja onde for, Vettel sabe que se tudo der certo ganhará, no máximo, pouco mais da metade do que recebe hoje.

Para o momento de McLaren e Renault, um piloto com o perfil de Vettel é absolutamente perfeito. A McLaren reencontrou, finalmente, no caminho da evolução no ano passado, quarta entre os construtores. E a reestruturação da Renault já produziu um carro que, pelo demonstrado na pré-temporada, parece também lhe permitir avançar bastante este ano.

O conhecimento, a liderança e força de trabalho de Vettel dariam diretrizes seguras para o desenvolvimento de ambas. E nas pistas, ainda que não seja mais tão eficiente quanto já foi, segue sendo um piloto capaz de vencer corridas e estabelecer pole positions.

Não há indícios de que essa história se estenda por muito tempo. Tanto o companheiro de Leclerc em 2021 quanto o destino de Vettel deverão se conhecidos em um futuro relativamente próximo, embora na F1 as coisas possam seguir rotas inesperadas.

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