A rápida evolução da epidemia provocara pelo coronavírus (COVID-19) nos últimos dias - a ponto de a Organização Mundial de Saúde (OMS) defini-la como pandemia - levou o CEO da Fórmula 1, Chase Carey, o presidente da FIA, Jean Todt, os representantes das dez equipes e os promotores de GP a estabelecer um novo início para o campeonato: 7 de junho, com o GP do Azerbaijão, em Baku.
Dessa forma, já está decidido que a corrida do Barein, dia 22, Vietnã, 5 de abril, China, 19, Holanda, 3 de maio, Espanha, 10, e Mônaco, 24, não serão realizadas, ao menos nas datas originais. Um choque para os fãs da competição e um desastre para a F1 como negócio, não apenas esporte.
Mas os responsáveis pelo evento já trabalham para que a prova de Zandvoort, na Holanda, seja disputada no dia 16 de agosto, no período das férias da F1 -não mais necessárias - e as de Hanoi, no Vietnã, estreante no mundial, e Xangai, China, possam ocorrer no fim do ano.
Nesta sexta-feira (13), contudo, os organizadores do GP de Barein distribuíram nota para informar que a prova também foi somente “adiada” e não cancelada.
Os organizadores do GP de Abu Dhabi, originalmente 22º e último do calendário, dia 29 de novembro, concordaram em levá-lo mais para a frente: 13 de dezembro. A fim de que FIA, FOM e as equipes encontrem datas para inserir as duas etapas da Ásia, no Vietnã e na China, e no Oriente Médio, Barein. Um desafio e tanto por razões logísticas.
Nós já conversávamos sobre como poderia ser a luta entre Lewis Hamilton, da Mercedes, e Max Verstappen, da Red Bull-Honda, se o time austríaco confirmasse o avanço demonstrado nos testes de Barcelona, em fevereiro.
Falamos também do momento da Ferrari: se o modelo SF1000 de Charles Leclerc seria mais competitivo nas primeiras etapas do ano. Pois, no Circuito da Catalunha, não demonstrou acompanhar o ritmo do W11 da Mercedes e do RB16, da Red Bull.
Pois transfira toda essa expectativa para daqui a três meses. Não teremos carro de F1 na pista até, a princípio, os primeiros treinos livres da que seria a oitava etapa do calendário, em Baku, dia 5 de junho.
Se consideramos que a última competição aconteceu no dia 1º dezembro de 2019, no Circuito Yas Marina, em Abu Dhabi, quem gosta de F1 ficará privado de torcer por seus ídolos por seis meses.
Quer saber de uma coisa? Se quem adora seguir a F1 está chateado, para os diretores técnicos de times que nos testes de Barcelona não foram bem - os modelos de 2020 evidenciaram problemas -, a prorrogação do início do mundial foi muito bem vinda.
É o caso da Mercedes. Andy Cowell terá mais tempo para tentar resolver a falta de confiabilidade da sua unidade motriz (motor), com cinco quebras em seis dias de treinos - três na Mercedes e duas na Williams.
Mattia Binotto, da Ferrari, também recebeu bem, nesse sentido, transferir a abertura do campeonato para o Azerbaijão. São três meses a mais para rever o projeto SF1000 da Ferrari, ao que parece com algumas dificuldades aerodinâmicas e mesmo de unidade motriz importantes.
Vejamos, pois, tudo o que está se passando pelo lado positivo. Há uma chance maior de no bloco da frente da F1 assistirmos a uma melhor disputa. Em essência o que todo fã mais deseja.
Voltando aos estudos do novo calendário, Carey, Todt, Toto Wolff, da Mercedes, Binotto, Christian Horner, Red Bull, e seus colegas, bem como os promotores de GP, devem estar quebrando a cabeça para evitar o cancelamento de ainda mais eventos dos já definidos: Austrália, Barein, Espanha e Mônaco.
Lembrando, por favor, que essa decisão pode ser revista.
Se for esse mesmo o andamento dos acontecimentos, a F1 ficará sem a sua corrida mais glamorosa e importante do ponto de pista financeiro: a de Mônaco, sempre no último fim de semana de maio. O GP representa uma das maiores oportunidades de marketing de relacionamento do mundo esportivo. A F1 capitaliza em várias frentes com sua vitrine de luxo.
A emblemática disputa entrou no calendário da F1 em 1950, ano de estreia do campeonato, não esteve nas edições de 1952 a 1954, mas voltou em 1955 e nunca mais saiu. Se a pandemia do COVID-19 não for controlada logo - a tendência, a curto prazo, é de crescimento -, a corrida que transferiu o título de Mister Mônaco de Graham Hill para Ayrton Senna ficará de fora do mundial. Hill a venceu cinco vezes e Senna, seis.
Antes ainda de o cancelamento do GP da Austrália ser confirmado, nesta sexta-feira (13), Claire Williams, diretora da escuderia criada por seu pai, Frank Williams, manifestou preocupação com as consequências econômicas para a F1 se outras provas viessem a não ser disputadas.
Vale a pena nos apegarmos a essa importante questão. Você sabe a razão de os promotores do evento em Melbourne, nesta sexta-feira, não anunciarem o cancelamento do GP e afirmarem, aos quatro cantos, que sua programação não sofreria mudanças?
Simples: estavam deixando claro, para efeitos jurídicos, que a decisão de não colocar os carros na pista ao meio dia, horário do primeiro treino livre, era dos representantes das equipes. Com apoio da FOM e da FIA.
É bem provável que o CEO da Australian GP Corporation, Andrew Westacott, já até tenha se adiantado nas discussões com o CEO da F1 sobre o pagamento da famosa promoter fee, a taxa cobrada pela FOM dos promotores a cada edição de um GP.
No caso da Austrália, possivelmente a mesma que está agora sendo cobrada dos promotores do GP Brasil: US$ 35 milhões, algo como R$ 175 milhões.
Sem GP não há como pagar. E aquele procedimento de deixar as coisas rolarem até o meio dia de Melbourne, hora que os carros deveriam deixar os boxes, era para lhe dar um respaldo jurídico, retirando de si a responsabilidade por não haver GP da Austrália.
A respeito do que comentou Claire Williams, com menos GPs no calendário, por enquanto quatro, se for esse mesmo o desfecho da história, condicionada ao controle do COVID-19, a arrecadação da FOM será menor da programada este ano.
Não apenas por não receber a promoter fee, hoje a maior fonte de receita da F1, mas também por não explorar outras formas de o evento gerar dinheiro, como a venda de publicidade nos autódromos e os famosos VIP clubs, áreas reservadas nos eventos. A arrecadação com bilheteria é dos promotores.
Isso tudo quer dizer menor participação das equipes no bolo da FOM. Para escuderias como Mercedes, Ferrari, Red Bull, Renault, não muda nada. Mas para quem faz as contas na ponta do lápis, como a Williams, qualquer redução no orçamento já crítico é ameaçador, em especial nesta temporada, diante do desafio de trabalhar no modelo deste ano e no complexo projeto de 2021, quando haverá uma transformação radical da F1.
Há um outro aspecto muito importante nisso tudo e que os líderes da F1 levam a sério. Outras competições de caráter global, como a FE, destinada a carros elétricos, o WEC, corridas de endurance, longa duração, campeonatos internacionais de futebol, por exemplo, já haviam anunciado a revisão de seus calendários por conta da pandemia.
O que a F1 tem de diferente de outros esportes de natureza semelhante? É preciso que Mercedes, Red Bull, Ferrari, Renault, todas as empresas investidoras deem exemplo do que fazer para salvar vidas, acima de qualquer interesse do esporte e dos negócios.
Se a F1 usa como uma das suas principais bandeiras a vanguarda tecnológica, então deve, também, estar à frente de toda iniciativa destinada a reduzir o impacto da contaminação pelo coronavírus.
Nada menos de 14 integrantes da McLaren estão em quarentena no seu hotel, em Melbourne. Terão de permanecer lá 14 dias. Além, claro, do profissional do grupo identificado como portator do coronavírus. No comunicado à imprensa da equipe, já estava claro que não iria para o Barein.
A Red Bull fez o mesmo. No seu comunicado escreveu que todos estavam voltado para sua sede na Inglaterra, em Milton Keynes, próxima ao Circuito de Silverstone.
Curiosamente, o CEO da F1, Carey, não escondeu que a Red Bull, seu outro time, Alpha Tauri, e a Racing Point foram as únicas que votaram pela disputa do GP da Austrália e não o cancelamento. Instantes depois, sua postura foi oposta, ao deixar implícito que não iria para o Barein e Vietnã.
Apesar de, como mencionado, os carros entrarem na pista, agora, só no dia 5 de junho, em Baku, fora dos circuitos a F1 estará muito ativa. Vamos acompanhar todas essas negociações que podem até mesmo mudar o que já foi anunciado.