Oficialmente, os quatro primeiros GPs do campeonato da F1 estão adiados, como você já sabe. Ato dois: Formula One Management (FOM) e FIA não anunciaram quando o campeonato vai começar.
Motivo: ninguém sabe o prazo necessário para a pandemia do coronavírus ser controlada a ponto de as autoridades de saúde liberarem a realização de disputas esportivas como as da F1.
Fãs da F1, no mundo todo, desejam que a temporada dê a largada o quanto antes possível. É grande a expectativa quanto ao que Max Verstappen, da Red Bull-Honda, por exemplo, pode fazer contra a Mercedes de Lewis Hamilton.
Não foi por outra razão que Christian Horner, diretor da Red Bull, defendeu a realização do GP da Austrália. Seu time acredita que o modelo RB16-Honda pode, pela primeira vez na história da tecnologia híbrida da F1, implantada em 2014, desafiar a Mercedes na luta pelo título. O que, se confirmado, seria ótimo, convenhamos.
Mas para evitar o risco de o coronavírus contaminar ainda mais pessoas, as etapas da Austrália, dia 15, do Barein, 22, Vietnã, estreante na competição, 5 de abril, e China, 19, não serão disputados nas datas originais.
Como a pandemia ainda está na curva ascendente de infecção na Europa, as três etapas programadas para o mês de maio no Velho Mundo dificilmente serão realizadas nas suas datas, embora não seja impossível: Holanda, de volta ao calendário depois de 35 anos, dia 3, Espanha, 10, e a tradicional de Mônaco, 24.
Dessa forma, as chances maiores de abrir a temporada se transferiram para o GP do Azerbaijão, dia 7 de junho, a princípio o oitavo do calendário, com suas provas sempre imprevisíveis e cheias de emoção por conta de um trecho de pista com dois mil metros de aceleração plena.
Acontece que não se pode simplesmente esquecer as sete corridas que deveriam ter sido disputadas. Há o comprometimento da F1 com a torcida, o que em essência a mantém viva, haja vista que o principal dirigente da F1, Chase Carey, diretor executivo da FOM, pediu desculpas ao fãs por o mundial não ter ainda começado.
Há bem mais nessa história, como o fator econômico, pois sem GP a FOM não recebe a exorbitante taxa cobrada dos promotores – a promoter fee - e depois a maior parte repassa às equipes, dentre outras fontes de receita.
Ainda: a necessidade de a F1 recorrer ao seu caráter universal para expor as marcas de empresas presentes nos carros, capacetes, macacão dos pilotos e autódromos. Se pensarmos que são esses investimentos que viabilizam a competição se desenvolver nesse nível...
Carey, Ross Brawn, diretor da FOM, Jean Todt, presidente da FIA, representantes das equipes e promotores das corridas estudam, agora, como poderá ficar o calendário. Partindo da premissa de que o mundial vai mesmo começar em Baku, no Azerbaijão, dia 7 de junho.
Pela programação original, teremos depois: Canadá (14/6), França (28/6), Áustria (5/7), Grã-Bretanha (19/7), Hungria (2/8), Bélgica (30/8), Itália (6/9), Singapura (20/9), Rússia (27/9), Japão (11/10), Estados Unidos (25/10), México (1/11), Brasil (15/11), e Abu Dhabi (29/11).
Por essa disposição das corridas ao longo do ano, no período entre 7 de junho e 29 de novembro, data da última prova de 2020, em Abu Dhabi, temos 11 fins de semana sem corridas de F1. Só lembrando, se não tivermos as provas de maio serão sete a serem reinseridas.
Realisticamente, amigos, não há como montar tudo, levar para a distante Austrália novamente e trazer de volta para, digamos, no fim de semana seguinte estar disponível em outro GP. Do ponto de vista logístico, a F1 não tem como fazer algo do gênero.
Não é só transportar o vasto e complexo material, mas, principalmente, montar e desmontar tudo, com a precisão exigida pelo evento. Assim, o GP da Austrália não tem como ser reintroduzido no calendário.
Outro evento que está correndo sério risco é o de Mônaco. Se não for na data programada, dia 24 de maio, as possibilidades de tudo ser transferido para outro período do ano são pequenas. O pequeno país de 1,8 quilômetro quadrado tem de se mobilizar inteiramente para a organização da corrida nas suas ruas.
Não acabou. Para ir ao Barein, a F1 terá de viajar de onde estiver ao Oriente Médio, o que já fará na fase final do campeonato, para disputar o GP de Abu Dhabi. É pouco provável que os árabes queiram promover duas corridas de F1 na mesma região, separadas por espaços mínimos de tempo.
Poucos na F1 acreditam que o GP de Barein poderá ser realizado este ano. Mas tenha a certeza de que, se as equipes concordarem com um esforço operacional extra, a FOM vai tentar resgatá-lo, apesar das dificuldades de datas compatíveis com a geografia dos movimentos da F1.
Com Austrália, Mônaco e Barein de fora, ficamos com quatro GPs para serem reintroduzidos em 11 fins de semana. Por enquanto, nos limitamos apenas à matemática do desafio de recriar o calendário.
Mas precisamos levar em conta outros aspectos fundamentais, como se estamos respeitando a geografia do deslocamento, sem fazer bate e volta, por razões logísiticas e de custos. E se os promotores dos GPs estão de acordo com as novas datas desejadas. Eles têm seus interesses - e mesmo restrições.
Ross Brawn já disse ser bem provável não haver, este ano, férias em agosto. Os integrantes das equipes já estão curtindo sua família excepcionalmente por não viajarem. Afinal, o campeonato ainda não começou. E os filhos estão em casa, com a paralisação das aulas.
O diretor da FOM comentou, ainda: “Vivemos uma situação bem pouco comum (com a pandemia). Precisamos definir um calendário que possibilite um bom retorno econômico às equipes”. Mexeu no ponto-chave.
Certamente elas estão dispostas a várias concessões, dentro de certos limites, como, por exemplo, disputar três GPs em três fins de semana seguidos e com uma novidade: dois dias apenas de atividade: sábado e domingo, em vez de três, com a inclusão da sexta-feira.
Por esse modelo, proposto por Brawn, haveria um treino livre no sábado de manhã, a classificação, à tarde, e a corrida no domingo.
Uma boa notícia. Os organizadores do GP de Abu Dhabi já concordaram em transferir a prova para dois fins de semana mais à frente, de 29 de novembro para 13 de dezembro. Assim, o grupo liderado por Carey e Brawn ganhou dois fins de semana extras, os de 29 de novembro e 6 de dezembro.
Com quase todos os profissionais da F1 já de volta à Europa, um esboço do novo calendário começou a ganhar corpo, sem que nada possa ser ainda confirmado. Ele leva em conta que as três provas de maio de fato não sejam realizadas e, a partir de junho, tudo volte ao normal.
Está praticamente acertado que os três GPs da Ásia vão encerrar o campeonato. Em conversa com um amigo do meio bem informado, os organizadores dos GPs da China e do Vietnã já foram consultados e adoraram a ideia.
Dá para entender: a definição do título poderia ocorrer nos seus países. E as duas nações não se encontram muito distantes.
Importante: antes da data livre de 29 de novembro, a F1 estará no Brasil, de 13 a 15. O que quer dizer que haverá quase duas semanas para transportar tudo de São Paulo a Xangai. Tranquilo.
Os três últimos GPs do ano seriam estes: 29 de novembro, China, 6 de dezembro, Vietnã, e 13, Abu Dhabi. Se você observar no mapa, verá que a F1 foi do Brasil a China para em seguida começar a voltar na direção da Europa, com os GPs do Vietnã e de Abu Dhabi. Há sentido geográfico, o que facilita muito a logística e a aprovação da mudança.
A próxima tarefa dos responsáveis pelo novo calendário é garantir a realização de dois dos GPs de maio: a volta da prova de Zandvoort, na Holanda, e a corrida de Barcelona. Mas há datas disponíveis em agosto. Lembra que Brawn adiantou que não deverá haver férias?
Se os promotores estiverem de acordo, como deverá ser o caso, o evento da Espanha será dia 9 de agosto, na semana seguinte ao da Hungria, 2. Teríamos então um fim de semana livre, o do dia 16, para a seguir, dia 23, a Holanda fazer a festa com o ídolo Max Verstappen.
Uma semana somente depois e a F1 se desloca por apenas 300 quilômetros para o sul, até o Circuito Spa-Francorchamps, na Bélgica, dia 30. Há de novo lógica geográfica nisso tudo.
Se em maio o coronavírus seguir impossibilitando de a F1 se apresentar pelo mundo, há uma chance razoável de esse ser o arranjo definido entre FOM, FIA, equipes e promotores.
Vamos resumir como ficaria, ainda que tudo possa mudar?
Se consideramos que o calendário original teria 22 GPs, o coronavírus obrigou a F1 começar seu campeonato na metade do ano e mesmo assim 19 corridas poderão, a princípio, ser disputadas, todos só podem ficar felizes. Uma vez esse planejamento confirmado, a F1 sairá no lucro.