Estratégia habitual para derrotar um adversário é copiar as virtudes dele e tentar otimizá-las. Tal plano parece ter sido o eleito pela Toyota para desenvolver o Yaris, de olho no Fit, em mais um capítulo da histórica rivalidade com a Honda.
Um passageiro de olhos atados dificilmente saberia distinguir em qual modelo pegou carona. O ambiente dos dois transmite experiências muito semelhantes graças à escalação de motor e câmbio de mesma propriedade: 1.5L flex e transmissão automática do tipo CVT (de relações infinitas).
Conforto, espaço generoso para bagagens e passageiros, além de lista recheada de itens de série também colocam os japoneses radicados no interior de São Paulo em pé de igualdade. Sendo assim, está nítido que este comparativo será decidido nos detalhes.
PREÇO E ITENS DE SÉRIE
Outro exemplo que evidencia quão acirrada é a disputa é o preço de tabela. Enquanto o sorocabano Yaris pede R$ 77.590 pela configuração XLS, o adversário natural de Itirapina (SP) sai por R$ 77.500, na versão EX.
Se a diferença de R$ 90 é ínfima, é preciso destacar que o Toyota já apresenta-se com a versão completona e sem opcionais, enquanto o Honda ainda tem uma configuração ainda mais cara, a EXL, tabelada a R$ 82.900.
Isso interfere em cheio na entrega de itens de série. O Yaris leva vantagem por entregar central multimídia sensível ao toque, bancos revestidos em couro, partida por botão, acendimento automático dos faróis e teto solar. Tudo isso falta ao rival que tem como ressalva apenas o ajuste de profundidade da direção, item importante que o Toyota não oferece.
O Yaris ainda se destaca no quesito segurança. Há seis airbags (frontais, laterais e de cortina), contra quatro do Fit. As rodas também têm tamanhos diferentes. O Honda tem conjunto um pouco maior, com aro 16”, enquanto o hatch novato tem caixa de 15 polegadas. O bom é que todas são de liga-leve.
No mais, ambos oferecem os mesmos equipamentos de série: direção elétrica, volante multifuncional revestido em couro, ar-condicionado automático digital (sensível ao toque, no caso do Fit), vidros, travas e retrovisores elétricos, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, cinto de três pontos para todos os ocupantes, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis, LEDs de uso diurno, faróis de neblina, câmera de ré e controle de cruzeiro (piloto automático).
MÃOS AO VOLANTE
Outra semelhança está no acerto de suspensão. O eixo frontal é do tipo McPherson e o traseiro aposta no eixo de torção com barras estabilizadoras. É nítido que ambas as montadoras focaram em um ajuste 100% voltado ao conforto. As carrocerias rolam de maneira macia, transmitem segurança em curvas de alta velocidade e absorvem com primazia os impactos sobre ruas e estradas maltratadas.
Essa regulagem vai ao encontro da tocada proposta pelo trem de força. Emoção passa longe. Deixa esse negócio para Polo e Argo porque o papo aqui é sobre comodidade.
Por si só, o sistema CVT evidencia que a viagem proposta por nossos personagens tem foco na linearidade. Não se engane: as aletas atrás do volante para trocas manuais foram escaladas somente para minimizar o desconforto que o câmbio causa por não ter escalonamento de marchas. Isto é, quando o carro enfrenta uma ladeira ou faz uma retomada em alta velocidade, o motor gira em rotação elástica porque a transmissão entende que precisa entregar mais torque. O problema é que o sistema demora a sacar que precisa soltar o motor após estas situações e ele fica a berrar por um bom tempo. Um toque na aleta direita ajuda a desprender o propulsor.
Mas é fato também que o motor de Yaris e Fit gostam de rodar com rotação mais alta. Sendo assim, nenhum deles é muito ligeiro ao sair da inércia, mas se dão bem nas estradas ou subidas. O propulsor do Toyota foi pego emprestado do Etios. Ele rende 105/110 cv a 5.600 rpm com gasolina e etanol, respectivamente. Na mesma ordem, o coração do Fit entrega 115/116 cv aos 4.800 giros.
Quando o assunto é torque, a rotação alta continua. O ápice de força motriz de 14,3/14,9 kgf.m do Yaris aparece em 4.000 rpm. No caso do Fit, são 15,2/15,3 kgf.m distribuídos em 4.800 giros. A diferença pequena nos números reflete na realidade. Mais leve, o Honda de 1.099 kg é ligeiramente mais disposto, enquanto o Toyota de 1.150 kg oferece temperamento mais equilibrado.
IGUAIS ATÉ NOS DEFEITOS
Mas os protagonistas deste comparativo são tão parecidos que até no defeito se igualam. Por terem motores de giro alto, consomem mais combustível. Não dá para cravar que são beberrões, porém, levam apenas nota “B” no índice do Inmetro.
Com etanol, o Yaris se sai um pouco melhor. Tem desempenho de 8,8 km/l na cidade e 10 km/l na estrada. Neste mesmo cenário, o Fit faz 8,3 km/l e 9,9 km/l.
Quando o combustível é gasolina, o jogo fica mais equilibrado. O Toyota traz números de 12,6 km/l no perímetro urbano, e 13,8 km/l nas rodovias, enquanto o adversário veterano aparece com 12,3 km/l e 14,1 km/l. É bem verdade que um sistema start/stop cairia bem em ambos.
REFERÊNCIAS
A briga continua boa em termos de dimensão, afinal, estamos falando sobre referências no segmento. O Fit sempre foi o alvo a ser batido com seus 4,09 metros de comprimento, sendo 2,53 m de entre-eixos. Mas o Yaris chegou com o pé na porta com corpanzil de 4,14 m e 2,55 m, respectivamente.
O novato também é mais largo, com 1,73 m, ante 1,69 m do Honda que, por sua vez, é mais alto. Mede 1,53 m, ante 1,49 m do rival.
Apesar da ousadia, o Yaris fica atrás do Fit no quesito espaço por dois motivos: o Honda tem porta-malas de 363 litros (53 litros maior), e, sobretudo, tem uma característica única na categoria. Estamos falando da famigerada modularidade dos bancos, ou seja, a possibilidade de rebater todos os assentos de maneira simples e quase toda plana, de forma que a capacidade do bagageiro sobe para 1.045 litros.
Para as pernas o espaço também é farto, uma vez que, além de bom entre-eixos, os hatches têm túnel central semiplano.
ENTRETENIMENTO LIMITADO
Embora a galera viaje confortável, fica carente de entretenimento. O Fit limita-se a um rádio com tela digital de 5 polegadas com conectividade via bluetooth, USB e cabo auxiliar. Pouco para um carro de R$ 77 mil.
Caminho livre para o Yaris ganhar holofotes com a central multimídia de 7 polegadas sensível ao toque. Mas ela não merece muitos elogios. Apesar de ser intuitiva e consiga espelhar o Waze (somente para smartphones iOS), não há GPS, nem conectividade com Android Auto e Apple CarPlay, que são as melhores soluções de conectividade da atualidade.
ACABAMENTO SEM MIMOS
O maior atributo da central, contudo, é tornar o ambiente do Yaris mais moderno por conta do design contemporâneo. Fora isso, o console não traz nada muito rebuscado, a não ser algumas peças em preto brilhante – existe até uma costura fake no painel que não é de tecido, e sim, de plástico rígido.
No Fit, as coisas não ficam mais animadoras. O grande destaque é o ar-condicionado que tem acionamento feito por toque e entrega layout que agrega um pouco de luxo ao ambiente um tanto batido do carro.
PÓS-VENDA
Mas se tudo caminhava mais ou menos na mesmo toada, quando chegamos em pós-venda, o Toyota Yaris nada de braçadas. Oferece três anos de garantia e cobra R$ 2.914,44 pelas seis primeiras revisões. O Fit também é garantido por três anos, mas pede R$ 4.819,34 pelos mesmos serviços, portanto, R$ 1.904,90 a mais.
Em relação a seguro, nova (e pequena) vantagem para o Toyota. Encontramos apólice de R$ 2.121,25 no AutoCompara, levando em conta o perfil de homem casado, 45 anos, com garagem no trabalho e no apê localizado na Zona Sul de São Paulo (SP). No mesmo perfil, o valor mais em conta para o Fit é de R$ 2.278,16.
FIM DE PAPO
Conforme adiantamos, este comparativo seria definido nos detalhes. Não poderia ser diferente diante de adversários de características muito parecidas. A Toyota parece ter definido como objetivo desenvolver o Yaris à imagem e semelhança do Fit. E não estamos falando de visual, aliás, quesito em que os hatches mais se diferem. Mas em todos os outros aspectos, os modelos caminham juntos tanto nos defeitos, quanto nas virtudes.
Recapitulando, entretenimento e consumo são os vacilos dos japoneses. Por outro lado, eles merecem atenção de quem deseja um modelo que proporciona experiência confortável de guiar, espaço farto para passageiros e bagagens, além de lista vasta de itens de série.
Falando em equipamentos, eles foram determinantes para que o novato Yaris vencesse esta disputa. Não são quaisquer itens tendo em vista o preço elevado dos produtos. Central multimídia sensível ao toque, bancos revestidos em couro, partida por botão, acendimento automático dos faróis e teto solar valorizam o investimento de quem quer um carro completão.
Fora isso, o novato ainda oferece pós-venda mais chamativo, principalmente, em relação ao preço de revisões.
Lembramos, então, da primeira frase do texto, em que mencionamos a estratégia comum de procurar inspiração no adversário e otimizar os pontos fortes dele para vencer uma batalha. Eis que a Toyota cumpriu a missão com primazia.