É como diz o ditado: o que seria do verde se todos gostassem do amarelo? Se você tem R$ 215 mil para comprar um SUV médio, você pode escolher entre os modelos mais badalados e os cada vez mais desejados utilitários híbridos. Ou remar contra a corrente e comprar um Ford Territory ou um Honda ZR-V Touring.
O SUV médio da Ford somou 612 emplacamentos em janeiro e ficou com a 24ª posição no ranking dos utilitários esportivos do mercado brasileiro. Já o ZR-V teve 166 unidades licenciadas no mesmo período. Este volume botou o Honda na 33ª colocação na lista dos mais vendidos.
De fato, esta dupla está bem distante de bater recordes de popularidade. Mas são modelos com várias qualidades. Confira a seguir qual deles é a melhor opção para você.
O Ford Territory e o Honda ZR-V são dois exemplos da dinâmica globalizada da indústria automobilística atual: ambos são modelos produzidos bem distantes das suas matrizes.
Lançado no Brasil em 2023, o Ford Territory de segunda geração custa R$ 215 mil e tem a cara que se espera dos utilitários esportivos da marca americana.
Com vários elementos cromados no acabamento e uma carroceria larga, que mais parece um caixote, é quase uma versão diminuída dos grandalhões Explorer e Expedition vendidos pela empresa nos Estados Unidos.
Mas apesar de parecer tão americano quanto uma torta de maçã, o Territory ainda é um Pato de Pequim. O SUV é feito na China, numa parceria entre a Ford e a marca local JMC. Origens à parte, o Territory tem medidas generosas: tem 4,63 m de comprimento, 1,94 m de largura, 1,71 m de largura e 2,73 m de entre-eixos.
Já o Honda ZR-V Touring também estreou por aqui em 2023. Importado do México, surgiu como uma espécie de SUV médio acessível.
Tanto que, nos Estados Unidos, é vendido com o nome de HR-V e ocupa a posição de entrada na gama de SUVs da marca. Apesar de não ser exatamente barato no Brasil - sai por R$ 214.500 - tem foco em funcionalidade e custo-benefício, sem o visual inspirado dos sedãs da marca japonesa ou até mesmo do "nosso" HR-V.
É mais conservador e com uma carroceria de linhas menos unânimes. Mas não deixa de ter um toque de sofisticação, já que compartilha a plataforma com o elogiado Civic de 11ª geração.
Falando em tamanho, o ZR-V é ligeiramente menor que o Territory: mede 4,57 m de comprimento, 1,84 m de largura, 1,61 m de altura e 2,66 m no entre-eixos. Além de mais compacto, o SUV da Honda também parece ser mais urbano e menos estradeiro.
Com um longo entre-eixos e cabine bem larga, o SUV da Ford oferece amplo espaço para os passageiros na cabine. É possível levar cinco adultos com bastante conforto, algo raro para um SUV nessa faixa de preço.
E com uma carroceria bem alta, o Territory também tem bancos bem altos, entregando aquela sensação mais próxima de um SUV raiz que de um modelo monobloco e de porte médio. Mas não é só nesse ponto que o Territory agrada bastante.
O acabamento interno também é bom para um SUV médio, com materiais macios ao toque em várias superfícies e bancos e revestimentos com um tom azulado bem elegante. Falando em detalhes elegantes, há imitação de madeira no painel e nas laterais de porta.
E o porta-malas? Tem capacidade para 448 litros, um volume apenas razoável para um modelo desse porte. Por outro lado, a tampa do porta-malas tem acionamento elétrico, o que é uma comodidade a mais para o motorista e os passageiros.
Mas depois de falar tão bem da cabine do Territory, chegou a hora de falar daquilo que eu não gostei: apesar de sofisticado, o Territory se parece mais próximo de um SUV chinês genérico que de um modelo puro da Ford. Isso inclui, por exemplo, o layout do painel de instrumentos e da multimídia. E como um bom carro de origem chinesa, quase não tem botões físicos no painel.
Mesmo com uma cabine claramente menor, o Honda ZR-V não sai da média do segmento e oferece espaço mais do que suficiente para levar quatro adultos com bastante conforto.
Em acabamento, o ZR-V fica um nível abaixo do Territory. É nítido que o objetivo desse SUV da Honda não é parecer sofisticado, mas oferecer um nível de capricho na média dos SUVs médios. Como aquele PF impecável. Saboroso. Mas ainda um PF.
Para aqueles como eu, que não curtem tanto a experiência de ver o trânsito de cima, o ZR-V tem bancos baixos e entrega uma experiência mais próxima à dos sedãs da marca que à dos SUVs raiz. Embora não tão plantada no chão, como no sedã Civic.
Com bancos bem confortáveis e um interior que compartilha muito do estilo dos outros modelos da gama atual da marca, o ZR-V me agradou até mais que o Ford em conforto e ergonomia.
Já o porta-malas do Honda ZR-V tem capacidade para 389 litros. Volume menor que o que alguns SUVs compactos do mercado brasileiro, e menor que a do Territoty. E a tampa do bagageiro é 100% manual.
Tanto o Ford Territory quanto o Honda ZR-V saem de fábrica com ar-condicionado automático de duas zonas, chave presencial, multimídia com espelhamento sem fio, airbags laterais e de cortina, carregador celular por indução, teto solar, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, faróis de LED com acionamento automático, sensor de chuva, pacote ADAS e monitor de pressão dos pneus.
Entre os itens que o ZR-V tem a mais que o Territory estão os airbags de joelho e o assistente de ponto cego por câmera Honda Lane Watch.
Já entre os itens que o SUV da Honda não tem e estão presentes no modelo da Ford estão a tampa do porta-malas com acionamento elétrico, câmera 360°, monitor de pontos cegos por sensor, sistema de estacionamento automático, bancos com ventilação e ajustes elétricos também para o passageiro, além do seletor de modos de condução com quatro opções de ajuste.
O Ford Territory tem motor 1.5 turbo a gasolina com injeção direta de combustível, que desenvolve 169 cv de potência e 25,5 kgf.m de torque entre 1.500 rpm e 3.500 rpm. O câmbio é automatizado de sete marchas com dupla embreagem banhada a óleo.
Não é um carro muito econômico. Registra médias de consumo de 11,8 km/l (estrada) e 9,5 km/l (cidade). Mas como tem um tanque de 60 litros, roda até 708 quilômetros com apenas um abastecimento.
Já o Honda ZR-V tem um conjunto mecânico mais conservador que o do Territory: motor 2.0 aspirado, com injeção multiponto e que também bebe apenas gasolina. O câmbio é automático, do tipo CVT. São 161 cv de potência e 19,1 kgf.m de torque a 4.200 rpm.
Apesar de mais convencional, o conjunto motriz do ZR-V entrega números um pouco melhores de consumo: médias de 12,1 km/l (estrada) e 10,1 km/l (cidade). Como tem um tanque menor, de 53 litros, roda até 641 quilômetros com um abastecimento.
Confesso que esperava que o Territory fosse melhor nesse ponto. Justamente por ser um carro feito na China - os chineses adoram carros macios - e pelo DNA americano no estilo, não seria uma escolha ruim se a Ford tivesse optado por um acerto mais confortável de suspensão.
O SUV da marca do oval tem um acerto firme, que não é tão agradável assim ao trafegar por pisos irregulares. Ao mesmo tempo, a carroceria oscila em velocidades mais altas. A direção, por sua vez, poderia ser mais pesada, já que é leve mesmo no modo esporte de condução.
A ergonomia também fica prejudicada pela quase ausência de botões físicos. Dependendo do que você quiser acessar ou até mesmo para alterar a temperatura do ar-condicionado, é preciso sair do espelhamento da tela do smartphone.
A parte boa é que multimídia tem tela grande, de 12,3 polegadas, e faz o espelhamento do smartphone sem o uso de cabos para Android Auto e Apple CarPlay. E a câmera 360° tem ótima resolução e funcionamento bem eficiente. Gostei.
Se não agradou tanto nos pontos acima, o Ford Territory surpreende - positivamente - no acerto do conjunto motor e câmbio. É claro que o propulsor de 169 cv de potência não faz milagre em um carro de mais de 1.700 quilos.
Mas entrega um desempenho suficiente para a proposta familiar e que te deixa bem longe de passar sufoco em retomadas. O câmbio, aliás, que delícia! Entrega muita suavidade no funcionamento e contribui para o motor girar baixinho e silencioso na maior parte do tempo.
O Honda ZR-V entrega uma experiência de condução melhor que o Territory principalmente no uso urbano. Tem direção mais precisa e com bom peso, e suspensão silenciosa e com um belo ajuste entre conforto e estabilidade. Equipado com um para-brisa acústico, a impressão que eu tive é que o ZR-V é ainda mais silencioso que o quieto Territory. Principalmente no uso urbano.
Mesmo sem um painel 100% digital, o quadro de instrumentos do ZR-V é configurável e bem completo. E o layout da cabine - com aquela boa dose de botões físicos, algo típico dos Honda - e os bancos confortáveis também somam pontos para o SUV da marca japonesa.
Outro ponto a favor do ZR-V é o funcionamento dos sistemas do pacote ADAS Honda Sensing, que são pouco invasivos. Funcionam com eficiência e sem dar sustos no motorista, ajudando a reduzir a carga de estresse nas viagens mais longas.
Mas agora chegou a hora de falar dos pecados do ZR-V. O primeiro deles é a multimídia, que tem tela de nove polegadas e não oferece tantos recursos. Além disso, exige o uso de cabo para espelhar a tela dos smartphones Android. O outro é o desempenho: mesmo pouca coisa menos potente que o Territory e pesando consideráveis 259 quilos a menos, a impressão é que o SUV da Honda tem bem menos fôlego que o SUV da Ford.
Casado com um câmbio automático CVT, o 2.0 aspirado não tem tanta disposição em baixas rotações e exige que o motorista pise fundo para extrair o melhor rendimento da máquina. Os giros sobem. E o ruído do motor invade a cabine mesmo com o isolamento acústico muito eficiente.
Lembrando que, na gringa, esse modelo é oferecido em outros mercados com o mesmo motor 1.5 turbo do HR-V Touring. Uma pena. Faria uma belíssima diferença.
Antes de dar o meu parecer final sobre os carros, bora falar em números. Fiz uma simulação do seguro aqui no Auto Compara e o Territory (R$ 8.287,40) levou essa, com uma pequena vantagem sobre o ZR-V (R$ 9.131,55). Esse valor, é bom destacar, é sem bônus ou possíveis descontos.
E no custo das revisões até os 50 mil quilômetros? Para fazer as manutenções obrigatórias do ZR-V, o proprietário irá desembolsar R$ 4.679,84. Valor bem menor que os R$ 8.417 pedidos pela Ford para o Territory.
E chegou a hora da verdade: o Ford Territory é um carro maior, mais requintado e também bem mais completo. Porém agrada menos ao volante e custa bem mais caro para manter. Já o ZR-V me agradou mais ao volante e é mais barato de manter. Mas oferece menos espaço interno e um desempenho inferior.
Pesando os prós e os contras e levando em consideração que estamos falando de SUVs médios, acho justo dar essa vitória para o Territory.
Mas considerando que a Honda está comercializando o ZR-V com generosos descontos sobre o preço de tabela, pode ser uma boa pelo menos dar aquela passada na concessionária para conhecer o SUV de perto.
Diz aí: qual seria a sua escolha?