Bom dia, boa tarde, boa noite. Se você é fã de carro e tecnologia e crê que o futuro da mobilidade será eletrificado, assim como eu, venha comigo e curta o dessecamento que farei a seguir. Kwid E-Tech x e-JS1 x iCar, os três carros elétricos mais baratos do Brasil, serão destrinchados a partir de agora.
Reunimos os três EVs subcompactos em São Paulo (SP) para fazer um comparativo e responder qual deles, hoje, é mais negócio para você que precisa de um carrinho urbano e quer economizar uma boa grana sem gastar combustível.
O Kwid E-Tech, o maior entre eles, é o mais barato: custa R$ 146.990. O segundo nessa escala de preço é o Caoa Chery iCar, o menor, que cobra R$ 149.990. O terceiro, portanto, é o JAC e-JS1, que também é pequeno, mas não tanto, tem plataforma de Volkswagen up! e pede R$ 159.900.
Como falamos, se espaço for sua necessidade e estes EVs urbanos estiverem em sua mira, deixo meu abraço, o agradecimento pela breve leitura até aqui e um até logo: pare de ler e vá assinar o cheque pelo Kwid. É o maior, o que tem mais espaço para quem senta atrás e também o que tem mais porta-malas.
Em termos de dimensões, o carro da Renault (que nada mais é do que um Kwid tradicional equipado com um motor elétrico) é um pouquinho maior que sua versão movida por motor térmico. São 3,73 m de comprimento, 1,58 m de largura, 1,50 m de altura e 2,42 m de entre-eixos - o Kwid convencional tem 3,68 m, 1,58 m, 1,47 m e 2,42 m, respectivamente. Ambos têm o mesmo bagageiro: 290 litros.
O JAC e-JS1 é praticamente um Volkswagen up! em termos de dimensões: 3,65 m de comprimento, 1,67 m de largura, 1,54 m de altura e 2,39 m de entre-eixos, com 121 l de capacidade no porta-malas. Já o iCar é muito mais enxuto: 3,20 m, 1,67 m, 1,59 m, 2,15 m e apenas 100 litros de bagageiro. Como ouvi de muita gente, ele é quase um smart com dois bancos traseiros.
Agora que todos já estão avisados sobre o tamanho dos carros, vamos falar sobre os conjuntos de motores e baterias de cada um deles.
Como falamos sobre carros elétricos, acredito que o dado mais importante e que deva ser informado primeiro é a autonomia. Nesse quesito, o carro que vai mais longe com uma carga cheia, de acordo com medições oficiais, é o JAC e-JS1, que pode alcançar 302 quilômetros.
Em segundo vem o iCar, com 282 quilômetros, e em terceiro o Kwid, com 265 km.
Para chegar aos mais de 300 quilômetros de autonomia, o e-JS1 utiliza um motor elétrico dianteiro de 62 cv e 15,3 kgf.m de torque, que recebe comandos de um câmbio automático de uma marcha que manda toda a força para o eixo dianteiro.
Já o iCar tem um conjunto de 61 cv e 15,3 kgf.m (números bem próximos, né?) e o mesmo tipo de caixa de transmissão automática de uma marcha, porém com um diferencial incrível, ao meu ver: o motor e a tração do carrinho da Caoa Chery são traseiros, o que faz com que sua tocada ao volante seja bem divertida.
O Kwid, por fim, usa um motor dianteiro de 65 cv e 11,5 kgf.m de torque e também câmbio automático de uma marcha e sistema de tração dianteira.
Só que nem tudo é maravilha para o e-JS1, justamente o que vai mais longe do trio. Isso porque o sistema usado para sua recarga é o chinês, já que a JAC ainda não conseguiu homologar no Brasil o conversor/adaptador oficial para carregamentos rápidos.
Dessa forma, o e-JS1 só pode ser recarregado em carga lenta, seja em tomada 220V ou mesmo em carregadores rápidos, ainda que por meio de um conversor da própria fonte de alimentação - cuja adaptação faça com que a recarga seja bem mais lenta, mesmo em um carregador rápido.
Com isso, o e-JS1 precisa de 5 a 6 horas em um carregador rápido para ter a carga completa. Em tomada 220V, são necessárias até 12 horas, de acordo com a fabricante. Veja o teste que fiz com ele no começo desse ano.
A Caoa Chery é mais direta e diz que a bateria do iCar pode ser carregada completamente em só 36 minutos em estações de recarga ultrarrápida, menos de cinco horas em sistemas de carregamento portátil (como os de shoppings) e em até onze horas em tomadas de 220V de três pinos.
O Renault Kwid, por sua vez, pede 56 minutos para a carga de 0 a 80% em carregadores ultrarrápidos de corrente contínua (DC); 3h45min em carregadores rápidos de corrente alternada (AC) de 32A (amperes) e 6h50min nos AC de 16A; e 10h43min em tomadas de 220V e 18h34min nas tomadas de 127V. Aqui, nosso teste dedicado com o carro na cidade.
Lembrando que para carregamento em tomadas caseiras, em todos os casos, são necessários pinos de 20A aterrados, obrigatoriamente.
Isso significa que se você não tiver uma fonte de recarga em sua casa, prédio ou vaga de trabalho, os dois menores (iCar e e-JS1) claramente dão menos trabalho na hora de abastecer. Isso não é acaso, afinal os dois também têm baterias menores que a do Kwid, apesar de terem mais torque e serem mais rápidos.
Segundo dados oficiais, o Renault Kwid precisa de 14,6 segundos para chegar de 0 a 100 km/h; o Caoa Chery iCar faz a mesma arrancada em 12,9 segundos e o JAC e-JS1 consegue atingir essa velocidade saindo da inércia em 10,7 s - o mais rápido, portanto.
Só que em termos de velocidade final, o tamanho da bateria conta e o resultado é o contrário da aceleração: o Kwid chega até 130 km/h; o iCar a 120 km/h; e o e-JS1 a 110 km/h.
Se você pensa em conforto e nos mimos que o carro oferece, aqui abaixo vamos expor tudo que cada um deles oferece e deixar que você mesmo tome suas decisões. Mas precisamos dizer que, dos três, o único concebido e pensado desde o início para ser um elétrico é o Caoa Chery iCar.
Vamos começar por ele. O bom acabamento impressiona: tem bancos em couro em cor clara (é um tom azul bem legal), apoio de braço central, teto solar panorâmico, freio de estacionamento por botão, tela da central multimídia posicionada na vertical, direção elétrica, ar-condicionado com função automática e câmera de ré.
Além disso, na parte de segurança o iCar tem controle de tração e estabilidade; assistente de partida em rampa e sensor de estacionamento traseiro. E ele é o único dos três que traz controle de descida; retrovisores com aquecimento; ajuste elétrico dos bancos; sensor crepuscular e carregador de celular sem fio. Tudo isso além de ótima qualidade na montagem e encaixe das peças.
O Kwid é o mesmo Kwid que conhecemos de sempre, com a diferença de que a alavanca de marchas convencional é substituída por um comando rotativo de simples utilização em três posições: D, N e R.
Itens de série do elétrico da Renault incluem direção 100% elétrica, ar-condicionado, travas e vidros elétricos, ajuste de altura dos faróis e limitador de velocidade. Obviamente, o carrinho também tem central multimídia (conhecida como Media Evolution), com tela tátil de 7 polegadas, espelhamento de celular via CarPlay e Android Auto e um botão chamado "push to talk", que aciona o comando de voz.
Mas ele tem diferenciais, claro. Um só: é o único dos três com airbags laterais e de cortina, totalizando seis bolsas. Para quem pensa na segurança, isso pode ser muito importante.
Já o e-JS1 tem central multimídia com tela de 10,25" com compatibilidade para Android Auto e Apple CarPlay, câmera de ré e funções mais conhecidas, como conexão Bluetooth, leitor de MP3 e entrada USB. Só acho estranho o formato do final do console, que parece ser um carregador de celular sem fio, mas não é.
Apesar da simplicidade de algumas peças do acabamento, ele tem chave presencial, painel digital de 6,2 polegadas atrás do volante e freio de estacionamento por botão. E só ele tem faróis de LED e um leitor de cartão de memória no sistema multimídia.
Ainda assim, gosto do formato de construção do carrinho da JAC também, assim como o do iCar: é bem estruturado e recebe bem os passageiros, principalmente (e quase que exclusivamente) os que vão na frente.
O Kwid é maior e mais espaçoso, mas é mais empobrecido em termos de acabamento e claramente uma adaptação elétrica feita em cima de um carro popular. Ainda assim, é o mais barato dos três e o que tem a maior rede de apoio de concessionárias espalhadas por todo o país, o que pode ser outro belo diferencial.
Arrisquei viajar com todos os carros do comparativo e para responder a essa pergunta de cima tive que enfrentar alguns perrengues.
Perrengue porque fazer uma viagem com elétricos de curta autonomia, como os três modelos, exige planejamento. Exige que você trace o caminho, defina os pontos de recarga e tenha certeza de que esses locais estejam com carregadores em funcionamento - o que, infelizmente, é algo que sempre temos de fazer em se tratando de Brasil, país ainda com pouca infraestrutura para carros elétricos.
Não dá para arriscar ir de ponto A a 170 quilômetros de distância do ponto B com 200 quilômetros de autonomia apontados no painel, por exemplo. É pouca gordura. E isso vale para os três carros, ok?
Vale a pena ter um deles? Para quem já tem outros carros na garagem, tem fonte caseira para fazer a recarga todas as noites e não anda satisfeito com o preço do combustível, com certeza. De acordo com levantamentos, deixar um desses EVs compactos espetado na tomada toda noite aumenta entre R$ 50 e R$ 80 o valor da conta de luz no final do mês.
Isso sem contar com o plano de manutenção de carros elétricos, muito mais barato do que o de veículos movidos a motores térmicos.
Entre os três, o Kwid é a escolha mais correta para quem precisa de espaço interno e porta-malas, de longe. O iCar é para solteiros ou casais que curtem um carrinho completo e divertido de dirigir - e aqui colocamos "solteiros" porque ele é o único dos três com só duas portas. E o e-JS1 é meio que a mescla das duas propostas: também é completo, tem recarga rápida e é o que vai mais longe.