"Muscle car é carro de luxo!", arremessam de um lado. "Negativo. Um pony car é um legítimo esportivo norte-americano, sem frescuras", respondem de outro. Você que curte a categoria já deve ter entrado nessa discussão: afinal, os muscle cars que conhecemos (Chevrolet Camaro, Dodge Challenger, Ford Mustang etc) são carros de luxo ou esportivos?
No Brasil, a resposta é simples: os dois. Lá fora, a história é diferente e você conhece no episódio a seguir. Muscle Culture é a coluna de André Deliberato (@andredeliberato no Twitter e no Instagram) no WM1, portal de notícias da Webmotors, que traz curiosidades sobre a tradicional filosofia norte-americana dos anos 1960 e 1970.
Vamos voltar às origens do nascimento da categoria, lá no começo dos anos 1960. Faça uma breve pesquisa e encontre algo, como na própria Wikipedia: muscle car é a definição de um "grupo de carros americanos, esportivos ou cupês, com duas portas e motor potente". Vale lembrar que já falamos por aqui sobre qual foi o primeiro pony car - "pony" é outro termo que costumamos usar para chamá-los.
Na prática, essa classificação orienta que uma larga gama de carros norte-americanos com motor V8, tração traseira e duas portas são definidos como muscle cars. Por isso é fácil entender que nos Estados Unidos eles nasceram como esportivos, sem necessariamente se voltarem para o lado luxuoso - afinal, naquele país, a presença e utilização de propulsores de oito cilindros é bem comum.
Desse modo, um muscle car pode ser, sim, classificado como esportivo. No Brasil, o Ford Mustang, por exemplo, é registrado pela Fenabrave (associação das concessionárias) como integrante dessa categoria e disputa mensalmente o mercado de vendas contra modelos que não são muscles, mas que também têm alma esporte, como Porsche 911 (um cupê, líder de 2020) e BMW Z4 (um roadster).
Agora, sobre o lance de ser luxuoso a história precisa ser contada de outra maneira. Contada, não, vista. Um muscle car pode, de fato, carregar consigo o máximo de tecnologia que uma empresa pode oferecer - como o Ford Mustang vendido no Brasil, oferecido somente na versão GT 5.0, sempre equipada com motorzão V8 e uma série de equipamentos de última geração.
Desse modo, fica meio óbvio: o preço começa acima da casa dos R$ 300 mil e automaticamente ele também pode ser classificado como carro de luxo.
Agora, vamos para os EUA. Por lá, Mustang, Camaro e Challenger até têm versões com preços que encostam nos valores de carros considerados premium - e elas são exatamente as que são importadas para o Brasil (com exceção do muscle da Dodge, que não vem para cá oficialmente).
Mas naquele país eles também são oferecidos em versões de entrada, com motores mais fracos e menos equipamentos - a única coisa que se mantém é o perfil de cupê esportivo da carroceria.
Isso faz com que seus preços por lá comecem perto dos valores cobrados por sedãs médios (que lá são chamados de compactos). Resumo: na prática, um muscle car nos dias de hoje ainda pode ser visto apenas como esportivo, fora do mercado de luxo. Mas isso é necessariamente fora do Brasil.
Agora que eles foram devidamente classificados - como esportivos nos EUA e esportivos luxuosos no Brasil -, proponho um novo olhar sobre a categoria. Por que não considerá-los em um segmento próprio, do mesmo modo que eu enxergo?
Muscle cars: carros esportivos diferenciados - de motorzão potente, duas portas e tração traseira - que não têm relação com esportivos convencionais nem com modelos de luxo. Mas que podem ser os dois ao mesmo tempo.
Todos os meses a coluna Muscle Culture traz curiosidades e informações sobre a famosa filosofia norte-americana de muscle cars, com André Deliberato. Instragram/Twitter: @andredeliberato.