O preço mais alto do combustível fez e, ainda faz, muita gente buscar o popularmente conhecido serviço de "chipagem". É o famoso "chip flex", que converte o motor do carro movido apenas a gasolina, por meio de sua programação eletrônica, para o de um veículo flex - afinal, o etanol custa menos em algumas regiões do país.
Mas quais são as garantias desse serviço? Vale a pena levar um usado ou um seminovo fora da cobertura de garantia para instalar esse chip e poder abastecê-lo com qualquer um dos combustíveis? Para responder a essa pergunta, consultamos as dicas de engenheiros da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).
A questão do parágrafo acima já responde a primeira dúvida: carro dentro do período de garantia não pode arriscar fazer esse tipo de serviço, já que qualquer alteração na programação do veículo implica na suspensão imediata da cobertura.
Mas e quem tem um carro mais antigo ou mesmo um modelo importado - desde que tenha injeção eletrônica - e quer abastecer o veículo com etanol? Afinal, é comum ver mecânicos de oficinas paralelas oferecerem a instalação do chip flex que converte o carro a gasolina para bicombustível. O preço é baixo: varia de R$ 100 a R$ 300.
Contudo, a resposta com propriedade de engenheiros é de que não vale a pena. Isso porque o motor não recebe uma preparação específica para consumir o combustível vegetal.
Na prática, o chip "engana" o sistema eletrônico para que o propulsor receba etanol. Obviamente, a eficiência não será a mesma que a de um carro que sai de fábrica dessa maneira, já que uma das modificações necessárias - que não pode ser feita só com a instalação do chip flex - é a taxa de compressão maior "exigida" pelo álcool.
Além disso, o carro terá nova programação para injetar etanol, mas mantém peças, mangueiras e dutos que estavam ali preparados para receber gasolina - e este é o maior problema, já que esses equipamentos também deveriam ser modificados para trabalhar com álcool, combustível com maior poder de corrosão. Com o tempo, isso pode gerar problemas graves nessas peças e até no motor.
Segundo os engenheiros da SAE, em até seis meses os carros a gasolina "transformados" em flex já podem ter de trocar a bomba de combustível, por exemplo. E a maior parte das perdas, segundo os especialistas, é irreversível.
Outra coisa que certamente os mecânicos que oferecem o chip flex não comentam é sobre a resolução número 25/98 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que determina que a mudança de combustível de um carro torna obrigatória a inspeção por alguma empresa creditada pelo Inmetro.
Tem mais: além dos problemas já citados, os "falsos" carros flex também poluem mais, uma vez que os chips não costumam receber certificação do Inmetro.
Com isso, o carro funciona com queima de combustível fora das especificações estabelecidas pelo fabricante quanto à emissão de poluentes. De acordo com a SAE, a emissão de gases nocivos ao meio ambiente quase dobra.