Algumas cidades travaram por conta da pandemia do novo coronavírus, mas muita gente precisa manter a rotina de trabalho e rodar com o carro por ai. Se você está nessa turma e planeja sair com seu automóvel que está há alguns meses parado na garagem, a primeira pergunta que vem à cabeça é a mesma: qual combustível devo utilizar agora, etanol ou gasolina?
Já falamos por aqui sobre como preparar o carro para quarentenas e até como lavá-lo em casa. Também abordamos o tema validade da gasolina e de outros combustíveis. Hoje, vamos falar sobre qual deles é melhor para essa retomada, seja na questão financeira ou na de saúde do motor. Para tirar as dúvidas, consultamos engenheiros da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).
Financeiramente, para saber qual deles colocar entre etanol ou gasolina, é preciso fazer uma conta que ficou popularmente conhecido como o "cálculo dos 70%". Isso significa que a decisão de qual escolher colocar depende do valor do litro de cada um.
Funciona da seguinte maneira: você deverá dividir o valor do litro do etanol pelo da gasolina. Se o resultado for menor que "0,7", o ideal é abastecer com etanol. Se for maior, gasolina.
Vamos fazer a conta pelo preço médio dos dois combustíveis em março, de acordo com a ANP. No mês corrente, a média de valor do litro do etanol custou R$ 3,949, enquanto a média de preço do litro da gasolina ficou em R$ 5,492. Divida 3,949 por 5,492 e o resultado será 0,719.
Isso significa que, financeiramente, compensa colocar gasolina. Explicamos a matemática: essa é a conta de especialistas, que afirmam que existe uma diferença nos veículos de 30% de gasto maior com etanol em relação ao que é consumido de gasolina no mesmo tipo de carro.
Em contrapartida, apesar de o etanol parecer mais atraente financeiramente por ser mais barato, alguns engenheiros defendem o uso da gasolina para casos de motores parados há meses - vale lembrar que o combustível fóssil tem validade menor que o vegetal e que, portanto, é preciso renovar todo o tanque em vez de usar gasolina velha.
Na opinião de Eduardo Tomanik, da SAE Brasil, que tem mais de 30 anos de experiência no setor e é especializado em motores de Ciclo Otto -como a maioria dos propulsores à combustão vendidos no Brasil -, a gasolina é mais recomendada em situações como as quarentenas adotadas no Brasil.
"O etanol tem queima mais limpa, mas sua lubricidade é menor, então há uma tendência em forçar mais a bomba de combustível. Portanto, para o caso de trajetos curtos como o da maioria das pessoas que roda pela cidade, onde o motor praticamente não chega à temperatura ideal, a gasolina é mais apropriada", explica o engenheiro.
Tudo isso significa que sua escolha vai depender do trajeto que você faz e do preço dos combustíveis no posto que você abastece. Se o seu carro está parado, ainda tem etanol no tanque e você vai preenchê-lo, compensa completar com o mesmo combustível vegetal, principalmente se o roteiro for de moderado para longo. Afinal, o motor do seu veículo vai esquentar e não vai precisar forçar a bomba de combustível.
Agora, se o seu carro está parado com gasolina, talvez seja boa ideia remover o que está no tanque e preencher um novo com o mesmo combustível - quem sabe, ainda, com aditivada, justamente para dissolver qualquer tipo de goma que possa ter se formado nos dutos, já que esse aditivo é conhecido como "detergente" da "sujeira" acumulada no sistema de injeção. Esse esquema é o mais indicado para quem for rodar pouco e em trajetos curtos.
Tem um restinho de etanol no tanque e quer colocar gasolina? Também não tem problema. A única recomendação da SAE é rodar um pouco após o abastecimento, de 5 a 10 minutos, para que a central eletrônica do carro reconheça o novo combustível - ou a nova "mistura".
"A central eletrônica (ECU) dos carros flex atuais é capaz de identificar os combustíveis. O que não é recomendado é esvaziar o tanque, abastecer com o outro combustível e parar o carro pouco depois, pois a central precisa reconhecer a mudança, quase como um tempo de aprendizado. Isso é pior quando se muda da gasolina para o etanol. O carro pode não funcionar depois", dizem especialistas.