Por que o carro elétrico ainda é mais caro que o modelo a combustão? Essa é uma pergunta que nós que trabalhamos com notícias e testes de veículos costumamos ouvir com frequência. A resposta não é tão simples quanto "porque as baterias ainda custam uma fortuna", embora este seja um dos principais motivos. Fique com a gente nessa reportagem para conhecer outras razões.
É fato que o carro elétrico deve se tornar ainda mais comum no Brasil na próxima década. Por aqui, esses modelos correspondem, por ora, a somente 0,05% de todo o cenário nacional automobilístico, mas estimativas dão conta de que até o final de 2030 possam corresponder a 10% do total. Atualmente, temos cerca de 15 modelos à venda no país. Até 2026 a meta é custar muito menos.
Os números de vendas de carros elétricos em todo o mundo comprovam que esses modelos são ou serão uma tendência. Em 2011, foram vendidas cerca de 40 mil unidades; em 2019, último ano cheio contabilizado (ainda não foram divulgados os dados globais do ano passado), foram mais de 21 milhões.
O carro elétrico é uma ótima ideia para economizar dinheiro: para quem roda diariamente somente na cidade, dá para ir e voltar de casa para o trabalho sem precisar reabastecer, é só deixar o carro conectado na tomada durante a noite. Segundo estudos, o custo da energia elétrica que o alimenta durante a pernoite é ínfimo se comparado aos valores gastos com um carro com motor a combustão.
Mas, afinal, por que ele ainda custa tão caro? Vamos aos pontos:
Sim, esse ainda é o principal fator. Os fabricantes não revelam os valores das baterias de íons-de-lítio, a mais comum utilizada por carros elétricos. Mas vamos fazer uma suposição a partir dos custos do JAC iEV20, que custa atualmente R$ 159.900 (com o dólar a R$ 5) e teve nos últimos anos o título de carro elétrico mais barato do país.
Esse carro é exatamente a geração atual do J2 que conhecemos no começo da década, quando a montadora chinesa vendeu o subcompacto por aqui por valores menores que R$ 30 mil. Ok, o dólar em 2012 valia menos que R$ 2, por isso podemos supor que um J2 com motor a combustão custaria hoje o que cobra um Kwid ou um Mobi - algo perto dos R$ 45 mil.
O preço da bateria, nessa analogia, poderia encostar nos R$ 100 mil. Absurdo? Não duvide desse número: o Fusion híbrido (que une um motor a combustão a um elétrico), que não precisava pagar taxas de importação por vir do México devido a um acordo do Mercosul, tinha seu conjunto de baterias vendido por valores entre R$ 32.500 e R$ 39.500 no começo desta década, com o dólar bem mais barato.
Outro fator importante é a aversão dos compradores de ficar sem carga na bateria e parar na rua, sem ter onde recarregar o automóvel. Isso ainda é uma realidade, principalmente no Brasil, onde pontos de recarga ainda são escassos e limitados a metrópoles e grandes cidades. Com isso, as vendas não engrenam - e desse jeito não há como baratear custos.
Muitos projetos têm sido desenvolvidos e foram criados nos últimos anos - como uma eletrovia entre São Paulo e Rio de Janeiro e São Paulo e Curitiba. Mas ainda é pouco para quem mora em outras regiões de um país tão continental como o Brasil. Por isso, para ter um carro elétrico é preciso ter coragem, como este motorista de Uber que sequer possui carregador em casa.
A falta de estrutura se deve a escassez de projetos como os que foram citados no tópico acima. Qual fabricante vai querer levar unidades de carros elétricos para regiões que não possuam investimento ou estrutura para recebê-los? Assim fica difícil as vendas aumentarem - e esse é ainda um dos fatores mais importantes para que os preços dos carros elétricos caiam.
Por questões de tecnologia, atualmente, cada carro elétrico vem com um equipamento conhecido como Wallbox (que pode ser cobrado à parte, como opcional). Ele pode ser instalado na garagem de casa, em uma tomada 220V convencional, e fica responsável pela recarga da bateria durante a noite. Mas e quem mora em prédio?
Muita gente ainda acredita que o tempo de recarga longo das baterias, que funcionam como a de celulares, seja um impeditivo para a compra. Não só pela obrigação de "espetar" o carro na tomada toda noite, mas também porque veículos comuns, com motor a combustão, não têm essa necessidade.
Isso influencia onde? Nas vendas. E, como já dissemos, quanto menos vendas, menor a velocidade do crescimento dessa categoria e redução dos preços.
O carro elétrico é mais caro, mas traz uma série de benefícios. Em grandes cidades brasileiras, por exemplo, são isentos de rodízios e não pagam alguns impostos - como o IPVA, em São Paulo. Outra coisa: o serviço de manutenção é bem mais barato que o de carros com motor a combustão, já que o sistema elétrico é bem mais simples e não vem com uma série de itens de desgaste natural.
Além disso, o maior benefício está na não necessidade de abastecimento: diga adeus ao seu amigo frentista se por acaso você assinar o cheque de um carro elétrico.