Cada escolha uma renúncia? Para a maioria das coisas na vida este ‘dito popular’ pode até fazer sentido, mas não cabe mais para o papai ou a mamãe que está pensando em comprar um carro para levar a família para cima e para baixo com uma forte pitada de esportividade ao volante. Tenho total convicção disso pois já tive o prazer de acelerar o novo Volkswagen Jetta GLI – isso mesmo, o Golf GTI dos sedãs! Preço parte de R$ 144.990.
Durante um dia inteiro acelerei (sozinho, sozinho, sozinho...obrigado, Senhor!) o Jetta GLI na pista do Haras Tuiutí, no interior de São Paulo, e constatei algo que já imaginava: o sarrafo de performance e prazer ao volante entre os sedãs médios subiu. E subiu muito.
A começar pelo conjunto mecânico, que é exatamente o mesmo do Golf GTI. Estou falando de um belo motor 2.0 TSI (turbo) de quatro cilindros e injeção direta de combustível que gera 230 cv de potência entre 4.700 e 6.200 rpm, e torque de 35,7 kgf.m já a partir de 1.500 giros até 4.600 rotações. A transmissão é a robusta e eficiente automatizada de dupla embreagem DSG de seis marchas. Uma combinação reconhecidamente explosiva e capaz de arrancar sorrisos de ‘carranca’.
Em termos de números, o Jettão acelera de 0 a 100 km/h em 6,8 segundos e atinge a velocidade máxima de 250 km/h. O GTI demora 0,2 segundo a mais para chegar ao 100 km/h e a final é de 238 km/h. Ponto para sedã!
Na pista, o Jetta GLI é um conquistador. Extremamente equilibrado mesmo com estes números prender a respiração por alguns segundos, o Volkswagen é previsível, sem reações abruptas ou inconsequentes. Aponta muito bem nas entradas de curva – ponto para o setup refinado da direção elétrica progressiva, que permite virar menos o volante em curvas mais fechadas – e desenha muito bem as saídas, permitindo dar o pé com gosto antes de ‘engolir’ as retas. Lembrando que o Jetta tem bloqueio eletrônico do diferencial.
E apesar de contar com controles de tração e estabilidade de série, o comportamento ‘brutalmente dócil’ – não encontrei outra maneira de definir – permanece mesmo com a eletrônica desabilitada. Com essa personalidade, o Volks rapidamente ganha a confiança de quem está atrás do volante. Ao final do dia, Jetta GLI e Monega pareciam amigos de longa data.
Muito deste equilíbrio está na construção moderna do Volks, que utiliza a excelente e multifacetada plataforma MQB, e pela filosofia de suspensões adotada: independe nas quatro rodas (McPherson na frente e multibraços atrás), contrariando as demais versões do sedã, que adotam eixo de torção atrás. Confesso que no tapete do asfalto do Haras não consegui avaliar se o conjunto absorve bem as imperfeições do asfalto, mas pude constatar que a carroceria rola muito pouco nas curvas – independente da velocidade – e nas frenagens.
Aliás, o GLI conta com freios a disco nas quatro rodas, com o dianteiro de 312 milímetros e o traseiro 300 milímetros – um pouco maior que o do GTI por conta do peso extra (1.432 kg contra 1.368 kg). ABS (antitravamento das rodas), EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem) e BAS (auxílio de frenagem de emergência) estão lá para ajudar a parar o torpedo em casos de emergência. E até o chamado BSW, que seca o disco de freio em dias de chuva para tornar a frenagem ainda mais eficiente, é de série.
Com todos estes ingredientes misturados de maneira refinada, não tem como não rodar chamando as marchas nas aletas atrás do volante. É possível também fazer as trocas pela manopla, mas é cutucando as borboletas que o bicho pega. O motor enche tão rápido que mesmo antes de deixar o volante reto em uma saída de curva é preciso subir uma marcha para não matar o embalo. Nas reduções, o câmbio faz o ponteiro do conta-giros flertar com a casa dos 6.500 rpm e o motor berra. E berra bonito pela saída dupla de escape! (sistema de som Beats de 300 Watts – 4 alto-falantes, 2 tweeters e um subwoofer – amplifica o som do bichão para dentro do habitáculo).
Assim como o GTI, o GLI conta com quatro modos de condução (ECO, Normal, Sport e Individual), que alteram os parâmetros do acelerador, direção, caixa de câmbio e até ar-condicionado. A suspensão, no entanto, não muda de ‘comportamento’. No ECO, por exemplo, o acelerador tem respostas tardias e a transmissão troca as marchas em rotações mais baixas, privilegiando a economia de combustível. No Sport as reações são opostas. O pedal do acelerador é uma ferida aberta (relou a sola do pé ele responde) e as trocas ocorrem em rotações mais elevadas.
E é exatamente por conta deste sistema, destes modos de condução, que o Jetta GLI é um carro que entrega um elevado grau de esportividade, mas consegue ser muito confortável e amigável no dia a dia. Volante leve, câmbio suave, acelerador na medida certa. Tudo para ser um carro familiar exemplar de segunda a sexta.
O espaço interno é o mesmo das demais versões do sedã. Tem 4,70 metros de comprimento, sendo 2,68 metros de distância entre os eixos – 2 centímetros a menos que outros sedãs médios, como Corolla e Civic. O porta-malas tem excelente capacidade para 510 litros, apenas 9 litros menos que o Honda, mas 40 litros maior que o Toyota.
O ar-condicionado é automático e digital de duas zonas, mas continua sem saída de ar para os ocupantes do banco traseiro, o freio de estacionamento é elétrico, os bancos dianteiros têm sistema de aquecimento e resfriamento, as travas, os vidros e os espelhos são elétricos. Há sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, sistema Start-Stop, sensores de chuva e crepuscular, ACC (Controle de Cruzeiro Adaptativo), entre outros itens.
A atmosfera também sugere esportividade. Os plásticos estão presentes em abundância – é um ponto que muitos reclamam –, mas devemos reconhecer que tudo está bem encaixado. Tem capricho na montagem. Mas também há partes em couro, como no encosto de braço das portas. E mesmo os bancos, que trazem um desenho diferente – não é o mesmo do GTI –, com as ‘bananinhas’ (abas laterais) maiores para segurar o corpo, são em couro. O volante, a propósito, é revestido em couro e a coluna de direção tem regulagens de altura e profundidade. Ou seja, vestir o Jetta GLI é a coisa mais fácil do mundo para baixinhos e gigantes.
O painel de instrumentos é digital e configurável. No dia a dia, joga um tom azul para acalmar. Quando estiver se divertindo, pode lançar o vermelho. A central é a Discovery Media, que, na minha modesta opinião, é uma das melhores à disposição no Brasil. Tem tela de 8 polegadas, sensível ao toque e colorida, e é compatível com Android Auto, Apple CarPlay e Mirrorlink. Mas entre as funções que mais usei na pista foi a página que mostra a pressão do turbo, a potência que está sendo utilizada e é possível, em um track day, marcar o tempo da volta. É divertido. O único opcional disponível, além da cor, é o teto solar panorâmico (R$ 4.990).
Ainda pensando na família, o Jetta GLI recebeu cinco estrelas no NHTSA (órgão de segurança nos Estados Unidos) para colisão frontal, lateral e sobreposição. O Volks é equipado com seis airbags (frontais, laterais e de cortina) e conta com encosto de cabeça e cinto de três pontos para todos os ocupantes.
Em termos de visual, o Jetta GLI tem algumas particularidades - poucas, é verdade - que conseguem diferenciá-lo das demais versões. A primeira delas é que não existe a palavra 'Jetta' na carroceria. Apenas a sigla GLI na grade frontal, próximo às caixas de rodas dianteiras e na traseira. Outro ponto é friso preto entre agrade frontal e o capô, que nas demais versões é um aplique cromado. Outro diferencial que salta aos olhos é a régua vermelha na dianteira, igual à do Golf GTI. Na traseira a saída dupla de escape é funcional - nada de questão meramente estética - e o difusor está lá presente.
Com essas pequenas mudanças, o GLI acaba tendo uma atitude diferente dos irmãos.
Um automóvel para a família ou um carro com pegada esportiva? Com o Jetta GLI o ‘ou’ se transforma em ‘e’, e então é possível ter as duas coisas em um único carro. O Volks pode sim ser o único veículo da casa, mesmo com papais e mamães que gostam de acelerar – e muito. O preço abaixo do GTI é mais um motivo para ser ele, o Jetta GLI, o carro para levar as crianças para a escola e, de vez em quando (ou sempre...rs), se divertir ao volante.
E respondendo a pergunta do início da matéria: não, nem toda escolha é uma renúncia. O Jetta GLI é a prova disso.