Bom, mas ‘carta fora do baralho’. Não encontrei outra maneira para resumir a versão de entrada Zen do Renault Captur, que chega às concessionárias com preço inicial de R$ 78.900. Em linhas gerais, como automóvel, o utilitário esportivo compacto da marca francesa agrada – e até surpreende –, mas, mercadologicamente falando, esta configuração representará volumes baixíssimos de vendas. O motivo? Simples: ser oferecida com transmissão manual.
Nesta quarta-feira (15), durante o primeiro teste com o Captur pelas ruas de São Paulo, a sensação de era estar dirigindo uma 'mosca branca'. Algo que será difícil de encontrar nas concessionárias e praticamente impossível ver nas ruas, pois o comprador deste segmento – o que mais cresce nos últimos dois anos – não abre mão da transmissão automática.
Para se ter uma ideia, das 520 ofertas de Honda HR-V na Webmotors entre novos e usados, apenas 23 (ou 4,42%) são de configurações manuais. No caso do Jeep Renegade, dos 1.437 anúncios, somente 197 (ou 13,7%) são de caixa mecânica. Já Nissan Kicks e Chevrolet Tracker, por exemplo, são vendidos apenas com câmbio automático.
E a Renault sabe disso. Tanto que reconhece que a versão topo de linha Intense com motor 2.0 e transmissão automática de quatro marchas (R$ 88.490) será a mais comercializada inicialmente, e também já prepara uma opção com caixa CVT (continuamente variável) para o motor 1.6, que chega dentro de três meses.
Independente, no entanto, se vai ser ou não um sucesso de vendas – e eu acho que não será –, a versão Zen manual deixou boa impressão. O motor 1.6 16V (120 cv) da nova família SCe tem vigor suficiente para empurrar os 1.273 kg do Captur. Não especificamente por conta do torque de 16,2 kgf.m a 4.000 rpm, mas pelo escalonamento do câmbio manual de cinco velocidades. Com uma relação curta, 1ª, 2ª e 3ª marchas proporcionam agilidade acima do imaginado nas saídas e retomadas em baixas e médias velocidades. Não chega a empolgar, mas também não decepciona e muito menos te deixará na mão em uma subida mais íngreme, por exemplo.
Na rodovia, a desenvoltura do Captur poderia ser melhor. Em 5ª marcha a 120 km/h, o conta-giros marca 3.100 rotações. Não chega a incomodar, mas se a caixa tivesse uma 6ª como Overdrive, a rotação poderia cair um pouco mais, melhorando especialmente o nível de consumo de combustível. Aproveitando, de acordo com a Renault, o Captur Zen faz 7,6 km/l (etanol) e 10,9 km/l (gasolina) na cidade, e 8,0 km/l (etanol) e 11,3 km/l (gasolina) na rodovia. Números apenas ok...
Retrabalhado completamente para o mercado brasileiro, o acerto da suspensão agradou, absorvendo com suavidade as imperfeições do solo e evitando batidas secas em algumas ‘crateras’ que caímos. O ‘porém’ fica para a inclinação da carroceria em curvas mais acentuadas. Um pouco mais de firmeza poderia agregar um prazer extra à condução do Captur.
A direção eletro-hidráulica entrega conforto à condução. É direta e 'pesada' na medida certa. Os controles de tração e estabilidade são de série, assim como o auxiliar de partida em rampa e os freios ABS com EBD. Aliás, ISOFIX para fixação da cadeirinha de criança, quatro airbags (frontais e laterais), encosto de cabeça e cinto de segurança de três pontos para todos os ocupantes do banco traseiro são de série desde a versão de entrada. Ponto para a Renault.
Sedutor
O Captur tem um design que agrada. Chega a ser belíssimo se comparado com o irmão Duster. A dianteira tem as linhas dos novos modelos da marca francesa, a lateral linha de cintura alta – o que agrega imponência ao modelo – e a traseira trabalha com lanternas pequenas e discretas. Tudo sem exageros. O Renault consegue ter personalidade em meio à enxurrada e de SUVs compactos que chegam ao mercado brasileiro. Aliás, acredito que design será um dos pontos que mais atrairá consumidores às concessionárias para conhecê-lo.
O interior vai do 8 ao 80 em segundos. O ponto positivo é o espaço interno. Com 4,32 metros de comprimento – é o maior da categoria –, o Captur tem 2,67 metros de distância entre os eixos. Tal número garante muita comodidade para joelhos e cabeças de grandalhões que viajam no banco traseiro. O porta-malas também é o maior entre os concorrentes juntamente com o HR-V: 437 litros.
A posição para dirigir é elevada. O banco do motorista tem ajuste de altura, assim como a coluna de direção que, infelizmente, fica devendo a regulagem de profundidade. Por conta disso, ‘vestir’ o Captur não é um exercício rápido. O volante tem excelente empunhadura – é o mesmo do Sandero R.S..
O ponto negativo fica para o acabamento simples. O Renault utiliza plásticos duros por todos os lados, se dando ao ‘luxo’ de aplicar um tecido em uma curta área do painel das portas. A manopla do câmbio e os botões do ar-condicionado, que não é automático (somente na versão Intense), lembram a de veículos mais antigos da marca. Mais detalhes em cromado e especialmente a utilização de materiais emborrachados, por exemplo, poderiam agregar mais requinte ao Captur. Os bancos são revestidos em tecido e não há opção de couro, como para a configuração Intense.
E apesar da simplicidade dos materiais, a Renault conseguiu trabalhar muito bem o isolamento acústico. O barulho do motor pouco invade a cabine, não atrapalhando o bate-papo entre os ocupantes.
Conectividade
A central multimídia Media NAV é opcional na Zen em um pacote que traz ainda câmera de ré, pelo valor de R$ 1.990. O valor é competitivo, o problema é o nível de conectividade do sistema, que não é compatível com Android Auto ou Apple CarPlay. O Media NAV é ideal para Logan, Sandero e até Duster. Para o Captur, eu esperava algo a mais. Vamos ver o Koleos.
Conclusão
Como disse no primeiro parágrafo, o Renault Captur Zen tem vários pontos positivos, mas os negativos pontuais acabam saltando aos olhos do consumidor deste tipo de veículo: acabamento simples e, principalmente, transmissão manual. O fato é que a versão 1.6 com câmbio automático CVT (continuamente variável), que chega em três meses, de acordo com a fabricante, se apresenta, na minha opinião, como uma boa opção – especialmente se vier custando até R$ 83 mil. Talvez até melhor que a configuração Intense 2.0 e sua caixa automática de apenas quatro velocidades. Eu, se fosse você interessado no Captur, esperaria até maio.