Com o novo Cerato, a Kia não tem ambições de brigar pelas primeiras posições da categoria. Principalmente devido às cotas de importação, uma vez que o sedã vem do México - nas versões EX (R$ 94.990) e SX (R$ 104.990). Outra, por motivos óbvios: os líderes do segmento são os queridinhos Toyota Corolla e Honda Civic.
Mesmo assim, a marca projeta vender 1.150 unidades do Cerato até o fim do ano. Para tal, aposta no conteúdo e na motorização mais adequada para tentar convencer potenciais compradores do mercado, que têm mais opções além da dupla de japas, como Volkswagen Jetta e Chevrolet Cruze.
Apesar do novo motor, o novato vai na contramão dos sedãs médios mais recentes. Enquanto os rivais apostam em propulsores recheados de tecnologia, indo de opções turbinadas, com injeção direta ou mesmo aspiradas e conectadas a motores elétricos (formando conjunto híbrido), o sedã da Kia aposta no 2.0 flex aspirado tradicional de 16 válvulas.
Em números, são 157 cv de potência e 19,2 kgf.m de torque com gasolina (ou 167 cv e 20,6 kgf.m quando abastecido com etanol). A caixa de câmbio é sempre automática de seis velocidades. Mesmo assim, é uma motorização mais condizente do que o antigo 1.6 de até 128 cv e 16,5 kgfm - que é bom para um compacto como o Hyundai HB20, mas fraco para um sedã médio.
Já o motor 1.6 turbo de 201 cv com câmbio de dupla embreagem da versão GT vendida no México ainda não tem previsão de ser oferecido - segundo a Kia, ele não está disponível para exportação.
Além de trocar o conjunto mecânico, o novo Cerato é feito a partir de uma nova plataforma, mais rígida graças ao incremento de 34% para 54% de aços de alta resistência. O uso de fita adesiva estrutural passou de 18 metros para 105 m, substituindo pontos de solda da carroceria e reduzindo o peso total em 20 quilos (1.283 kg).
Em comparação com o modelo anterior, ele cresceu 8 centímetros no comprimento e 2 cm na largura (1,80 m). As medidas de altura (1,44 m) e distância entre-eixos foram mantidas (2,70 m, o mesmo do Corolla), mas o porta-malas teve a capacidade aumentada de 421 litros para ótimos 520 litros.
Externamente, o Cerato chama a atenção pelo design inspirado no Stinger GT. As linhas mais arrojadas deram um certo "tempero" aos traços genéricos do sedã. Os faróis alongados até os para-lamas e a grade achatada passam a impressão de o sedã ser mais largo e baixo que o real.
Na traseira, as lanternas abrigam apenas as luzes de posição e freio, uma vez que as setas e a lâmpada de ré foram deslocadas para as extremidades do para-choque.
No entanto, essa esportividade é "quebrada" pelas rodas de 16 polegadas e os pneus Kumho de perfil alto (205/60 R16) - de fato, um conjunto de 17 ou 18 polegadas poderia comprometer o conforto dos ocupantes, mas deixaria o Cerato mais atraente.
Apesar dos pneus borrachudos, o sedã se mostrou equilibrado nas curvas do Autódromo Capuava, em Indaiatuba (SP), onde foi realizado o test-drive para a imprensa na manhã desta terça-feira (24). O acerto de suspensão promovido pelos engenheiros da Kia brasileira controla com eficiência a inclinação da carroceria nas mudanças de direção e em frenagens mais fortes, combinando bem com o rodar mais voltado ao conforto, uma das exigências do público de sedãs médios.
Embora as três voltas na pista não transmitam as sensações do uso real, foi possível notar que o motor 2.0, de fato, faz mais sentido para um carro desse porte, pois responde bem em rotações mais altas. Contudo, falta aquela força extra que os turbinados entregam em retomadas e saídas de curva, que são respostas na faixa de torque mais baixa do motor...
O câmbio automático de seis velocidades também deixa claro que esportividade não é o seu forte: ele trabalha com suavidade e até permite umas "esticadas", porém as trocas nas aletas atrás do volante poderiam ser mais rápidas.
De modo geral, o novo Cerato entrega basicamente o que o comprador de sedã médio procura: bom nível de equipamentos, dirigibilidade superior à dos SUVs, conforto e porta-malas espaçoso.
Outros aspectos que também agradam são a ergonomia e a empunhadura do volante, que tem ajustes de altura e profundidade. O acabamento interno também merece elogios pela montagem bem feita com materiais na média ou até melhores que alguns concorrentes.
A Kia coloca as versões de entrada e intermediária do também mexicano Volkswagem Jetta como um dos principais rivais do Cerato em termos de preço e equipamentos. A dúvida é se toda essa renovação será capaz de aproximá-lo do conterrâneo, uma vez que ameaçar as vendas do novo Corolla e do Civic - respectivos líder e vice-líder da categoria - ainda é um objetivo distante.