A Yamaha MT-03 surgiu lá fora em 2014 e chegou ao Brasil em 2017. Agora, passa por sua primeira renovação por aqui - falamos da naked pequena, com motor de 321 cm³, e não da trail média de 660 cm³, que foi vendida no país apenas em 2008 e tinha a mesma nomenclatura. Ainda não é uma nova geração da pequena notável, já que motor e chassi são os mesmos de antes. Mas avisamos ao caro leitor: o que era bom ficou melhor.
A moto exibe um visual bem repaginado e algumas novidades mecânicas, que efetivamente contribuem para um melhor desempenho. O design ficou mais agressivo e algo exótico, com um farol dianteiro completamente inusitado e com uma cara robótica - composto por uma moldura triangular na qual vão incrustados um pequeno farol redondo na parte inferior e duas luzes de posição logo acima, que mais parecem sobrancelhas eletrônicas.
Ficou moderno, futurista e remete aos robôs de antigos seriados japoneses, como Ultraman e Spectreman, de desenhos animados, como o do Pirata do Espaço, e até a filmes mais recentes, como Pacific Rim ou mesmo Transformers. Aliás, nesta moto a sigla MT bem poderia significar "monstrinha transformer" - mas tudo com bom gosto!
O novo layout ainda traz um tanque redesenhado - que manteve a capacidade de 14 litros, mas ficou mais largo na parte dianteira e mais estreito na traseira, para melhorar o encaixe das pernas -, rabeta arrebitada com lanterna estilizada e iluminação full-LED.
Tudo isso faz parte de um conceito de design chamado Steel Bull ("touro de aço"), mas que tenta permanecer dentro do estilo Dark Side of Japan que a Yamaha tem adotado na linha MT (que ainda tem os modelos MT-07 e MT-09 no Brasil). Nem precisava de tantos nomes pomposos para badalar estas motos, que no mundo real são, de fato, modernas e eficientes.
A modernidade, a propósito, tem sido a tônica nos últimos lançamentos da Yamaha no país. É gratificante ver que a marca tem investido em modelos bem atuais por aqui, diferentemente do que vimos em décadas passadas - quando parecia conformada com sua eterna posição de coadjuvante da Honda, inclusive com uma linha não tão atraente quanto a da rival.
O caro leitor pode até questionar essa afirmação e perguntar pela Ténéré 700, que já existe lá fora há dois anos e não chega ao Brasil. Não é culpa da Yamaha: a nossa legislação de ruídos e emissões (a mais severa do mundo) tem dificultado a homologação da moto.
Para tal, ela precisaria passar por profundas alterações técnicas cujos custos são, até agora, inviáveis diante da perspectiva de volume de vendas. A Yamaha ainda busca soluções, se equilibrando nesse dilema. Mas essa é outra história.
Voltemos à Yamaha MT-03 2021. Além do visual bacana, a moto ganhou a mesma suspensão dianteira invertida da esportivinha R3 e shift-light ajustável no painel todo digital, estilo tablet. E manteve quitutes como o freio com ABS nas duas rodas e o ótimo motor bicilindrico refrigerado a água, que tem 321 cm³ e rende satisfatórios 42 cv de potência a 10.750 rpm e 3 kgf.m de torque a 9.000 rpm.
É um conjunto muito eficiente e totalmente capaz de enfrentar a principal concorrente: a Kawasaki Z400, que também é bicilíndrica e até um pouco mais forte (48 cv e 3,9 kgf.m). As duas, inclusive, têm o mesmo preço de R$ 25.490 (o da MT-03 subiu menos de mil reais em relação ao modelo 2020!).
Mas se a Z400 tem um desempenho um tantinho mais forte, a Yamaha compensa com suas quase 700 concessionárias no país, contra apenas 30 da Kawasaki.
A Honda CB 250 Twister corre por fora, já que é monocilíndrica e bem mais fraca (22,4 cv e 2,24 kgf.m), embora bem mais barata (R$ 16.114). Outra Honda, a CB 500F, é que pode ameaçar. Embora esteja num segmento acima, o preço de R$ 27.976 e os números bem superiores (50,4 cv e 4,5 kgf.m) acabam tentadores para quem pode pagar uns 10% a mais.
Nosso test-ride na Yamaha MT-03 foi de aproximadamente 170 km, com saída de São Paulo, algum trânsito e pequenos engarrafamentos. E, depois, pista livre na Castelo Branco e na Rodovia dos Bandeirantes, e um trecho da lindíssima Estrada dos Romeiros.
No trânsito, a naked da Yamaha se saiu muitíssimo bem. Não tem a mesma destreza das motos menores, de 125/150 cm³, mas tem bom esterço, vai bem nos corredores e se livra dos outros veículos com rapidez, graças às ótimas respostas do motor em baixos giros. Jamais soluçante e sempre ronronante, o bicilíndrico só nos deu alegrias.
Na estrada, a MT-03 exibiu disposição surpreendente. Na faixa dos 100-120 km/h permitidos de acordo com os trechos, potência e torque sobraram - havia espaço para muito mais. Tão impressionante quanto foi a sensação de firmeza que a moto passou a transmitir com a adoção da suspensão dianteira "upside down". Nada de reboladas nas curvas nem afundamentos excessivos nas frenagens.
Isso ficou ainda mais evidente na Estrada dos Romeiros, em cujas sequências de curvas a Yamaha MT-03 mais uma vez transmitiu muita segurança e proporcionou bastante diversão - afinal de contas, a exata vocação desta motocicleta. E vale destacar: o câmbio de seis marchas é muitíssimo bem escalonado e raramente exige reduzidas ou subidas de marchas inesperadas.
Também fiquei surpreso com a posição de pilotagem e o conforto. Com guidom na altura certa, pedaleiras apenas um pouco recuadas e um excepcional encaixe dos joelhos proporcionado pelo novo desenho do tanque, um piloto como eu, com 1,70 m de altura, "veste" a moto como se fosse um terno feito sob medida.
E a Yamaha parece ter aprendido, afinal, que bancos duros são simplesmente ruins: aqui, temos um assento que, se não é grande nem especialmente anatômico, é macio o suficiente para passeios mais longuinhos sem sofrimento. Isso para o piloto, pois ali atrás uma garupa continuará sacrificada com espaço exíguo e pernas bastante dobradas.
Outro ponto questionável vem da vitória do marketing sobre a engenharia: os espelhos retrovisores proporcionam retrovisão apenas razoável, em função do desenho "esportivo". Inclusive, são os mesmos de outros modelos Yamaha, como MT-07 e até mesmo do scooter XMax 250. Ficaram devendo.
Por outro lado, o belíssimo painel continua a impressionar. Proporciona ótima leitura mesmo sob sol forte, tem todas as informações necessárias e não exige um curso de TI para que se use todas as suas funções.
O consumo médio de 22,5 km/l obtido em nosso test-ride foi razoável, mas ressaltamos que foi sob condução severa. Sob pilotagem civilizada e em uso predominantemente urbano, certamente essa média melhora bastante.