Desde que foram lançadas, as Triumph de baixa/média cilindrada impressionaram o mundo. A Speed 400 e a Scrambler 400X surgiram primeiro na Índia - atualmente o maior mercado de motos do mundo e onde são originariamente produzidas em parceria com a Bajaj para, depois, serem enviadas para o resto do mundo.
Depois do mercado indiano, as duas foram chegando em outros países. No Brasil, desembarcam desmontadas para serem montadas na linha da Triumph em Manaus (AM). Desta forma, viram produto nacional e têm direito a isenções tributárias importantes.
As pré-vendas começaram no fim do ano passado, mas as entregas, mesmo, só tiveram início na metade do primeiro semestre deste ano.
Os primeiros lotes saíram rapidamente e ainda há fila de espera. Afinal, são dois modelos de porte médio lançados em um segmento que tem crescido por aqui. E, além disso, têm preços convidativos: Speed 400 por R$ 29.990 e Scrambler 400X por R$ 33.990. E ainda há fila de espera.
Se você tem interesse em levar uma das duas para sua garagem, mas ainda não decidiu qual, confira nossa pilotagem com ambas e pense bem. A experimentação foi feita no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Um spoiler: o resultado pode te surpreender...
Antes da pista, vale lembrar que a Speed 400 e a Scrambler 400X compartilham muitos componentes. São, basicamente, a mesma moto - mas cada uma tem suas particularidades. Chassi, motor, freios, rodas e painel, entre outros, são iguais. Mudam suspensões, pneus, bancos, escape e algumas outras peças.
As duas Triumph 400 também compartilham o mesmo painel de instrumentos, que segue a manjadíssima receita de velocímetro analógico coadjuvado por uma telinha de LCD com algumas informações.
É adequado e satisfatório, mas uma telinha de TFT seria muito mais interessante e coerente com os tempos atuais. Enfim, são questões de custo.
Além disso, ambas têm os já mencionados ABS de dois canais e mais acelerador eletrônico, controle de tração desligável, tomadinha USB-C, iluminação full-LED com luzes de rodagem diurnas (DRLs) e chave codificada. Pelos preços, os "pacotes" são mesmo atraentes.
A Speed 400 é claramente inspirada nos modelos Speed Twin 900 e 1200, e a Scrambler 400X é herdeira direta das Scrambler 900 e 1200. De fato as duas novas motos lembram bastante esses modelos de alta cilindrada.
O motor as duas é o mesmo modelo, batizado de TR. É monocilíndrico, refrigerado a água, com quatro válvulas, comando no cabeçote e 398 cm³ de capacidade cúbica. Rende 40 cv de potência a 8.000 rpm e 3,7 kgf.m de torque a 6.500 rpm.
As duas também têm câmbio tem seis marchas, secundária por corrente, embreagem assistida e deslizante e balança traseira de alumínio. Os pneus são Metzeler - na Speed, modelo Sportec com medidas 110/70 R17 na frente e 150/60 R17 atrás; na Scrambler 400X, modelo Karoo Street com medidas 100/90 R19 na frente e 140/80 R17 atrás.
Começei com a Speed 400. A posição de pilotagem já impressionou de cara: a sensação é de "vestir" a moto, já que eu, com meus 1,70 m de altura, fiquei muito bem encaixado - braços em posição confortável e joelhos dobrados, mas sem exagero.
Saí e o que descobri foi uma moto leve, ágil e incrivelmente fácil de pilotar. Com essa posição bem encaixada ali em cima, não sofri quase nada com o vento e ainda ganhei capacidade aerodinâmica nas retas apenas ao me abaixar um pouco. O banco é confortável e razoavelmente ergonômico, o guidão tem altura satisfatória e as pedaleiras dão bom suporte.
O motor, é claro, tem suas limitações. E por isso a moto não é exatamente um canhão. A unidade de teste ainda estava com baixíssima quilometragem e, claro, meio "amarrada". Mas foi possível chegar aos 100 km/h com facilidade e, daí pra cima, trabalhar bem a dupla câmbio/acelerador para manter o motor cheio e obter respostas satisfatórias.
O que impressionou na Speed 400, de fato, foi a leveza nas curvas. É uma moto muito maneável, que certamente atenderá plenamente quem pretende usá-la no dia a dia.
O pecado da Speed 400 talvez seja não desfilar com muita pompa e circunstância. Embora seu design seja muito bem resolvido, não chama tanto a atenção quanto a irmã Scrambler 400X. Mas briga bem com outras naked da mesma faixa de cilindrada e preço, como Yamaha MT-03, Hond CB 300F Twister e Bajaj Dominar 400.
Já a Scrambler 400X impressiona muito mais: é mais alta, encorpada e imponente. É por isso que tem vendido mais do que a Speed 400 e, confesso, que despertava mais a minha curiosidade de pilotá-la.
Subi na Scrambler 400X e encontrei uma moto mais alta - botei apenas as pontas dos pés no chão. Na Speed 400, botava os dois completos no chão e ainda sobrava perna. Ali em cima você de fato se sente mais alto, pois banco e guidão (e suas alturas) são diferentes. Basta dizer que o banco da Speed está a 79 cm do solo e o da Scrambler, a 83,5 cm do chão - diferença significativa de 4,5 cm.
Se na Speed eu fui bem encaixado e levemente projetado à frente, na "X" fiquei em posição não só mais alta, mas também mais ereta, quase como em uma moto trail. O banco é menos confortável e menos ergonômico.
Parto dos boxes de Interlagos e sigo pra pista. Três curvas, a reta oposta e mais curvas e descubro uma moto completamente diferente da irmã quase gêmea. A "X" te deixa lá em cima e as inclinações nas curvas são bem diferentes - menos intuitivas, mais angulosas e com mais esforço.
Os pneus de uso misto são menos aderentes que os da Speed e a soma disso tudo é que a "X" exige um tanto mais de cuidados em sua pilotagem até que o condutor se acostume com seu comportamento. Bem diferente do que vi na Speed, que em poucos metros parece uma moto que você sempre pilotou. Nas duas o controle de tração desligável deu aquela ajudinha quando foi necessário.
As duas também exibiram frenagens eficientes, mas que não me impressionaram. Os freios têm disco dianteiros e traseiros com ABS nas duas rodas - em ambas o traseiro tem 230 mm de diâmetro, mas o dianteiro muda - 300 mm na Speed e 320 mm na Scrambler.
E a "X", com disco dianteiro maior e suspensões com mais curso, afunda a frente um pouco mais nas paradas mais severas. Ambas usam as mesmas bengalas invertidas de 43 mm de diâmetro na frente e monochoque com reservatório de gás externo atrás. Na Speed, são 14 cm de curso na frente e 13 cm atrás; na Scrambler, são 15 cm na frente e mesmo curso atrás.
As respostas do motor são quase iguais em ambas, mas a Scrambler é um pouco mais lenta. Provavelmente isso se deve à diferença de peso: tem nove quilos a mais que os 170 quilos da Speed. Mas nas duas o câmbio não exige esforços nas trocas das marchas - obrigado, embreagem assistida -, embora lá embaixo, no pedal, não seja lá muito macio.
Resumo da "X"? Sua pilotagem exige mais cuidados, mas é mais divertida, até pela versatilidade que faz parte de sua personalidade.
A melhor é a que atenderá mais adequadamente o uso que você pretende dar à moto. Acredito que a Speed 400 é mais indicada para quem vai usar a moto só na cidade. É mais fácil de pilotar, mais ágil, mais compacta e mais baixa - e, por isso, melhor para pilotos não tão altos.
Já a Scrambler 400X deve ser a opção para uso misto - na cidade, mas também em passeios de fim de semana, inclusive pegando estradinhas de terra. Também é a melhor opção para pilotos de estatura elevada e pernas longas, e ainda para quem quer ter uma moto que desfila bonito e não quer gastar uma pequena fortuna para isso.
Duas informações importantes foram pouco divulgadas sobre as Triumph Speed 400 e Scrambler 400X. Uma delas é sobre os intervalos de revisão: a primeira é com 1.000 quilômetros - algo normal, pois habitualmente é feita mesmo com pouca rodagem mesmo. Mas, daí em diante, é a cada 16 mil quilômetros. Sim, o caro leitor não leu errado: 16 mil quilômetros. Segundo a Triumph, isso é possível porque as duas usam óleo sintético.
A segunda informação é sobre valores: as revisões têm preços fixos e as duas primeiras custam apenas R$ 100, já com tudo incluído. É um valor muito mais baixo que o cobrado por qualquer outra marca no país para motos de cilindrada igual ou próxima. Gostamos!