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Exclusivo: a primeira viagem-teste da Meteor 350!

Custom da Royal Enfield encara o trajeto São Paulo - Rio e mostra que, na vida real, potência e velocidade não são tudo

por Roberto Dutra

Nos últimos dias o caro leitor ouviu e leu bastante sobre a Royal Enfield Meteor 350, certo? E, junto com as muitas informações em torno do lançamento da moto, que aconteceu na semana passada, certamente vieram dúvidas sobre seu comportamento dinâmico. Afinal, os test-rides de apresentação são razoavelmente controlados, mas na vida real as coisas mudam um pouco.
Dá para viajar com ela? Qual é a velocidade máxima? E o consumo? É confortável? Transmite segurança? Para responder a todas essas perguntas, eis aqui, com exclusividade, a primeira viagem-teste feita com essa custom por um site especializado no Brasil. O percurso: São Paulo - Rio de Janeiro.
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Hora da partida

Pego a versão mais completa, a Supernova, na bonita combinação de cores azul e preta, e com apenas 27 km rodados. Literalmente supernova! Acredite: essa moto é mais bonita ao vivo do que nas fotos. Com três redinhas e um extensor grande, amarro a bagagem atrás de mim, sobre o banco do garupa. O encosto de garupa (sissy-bar) ajuda a prender uma mala de rodinhas pequena e uma mochila bem fornida.
E ali já veio a primeira boa surpresa: as alças de garupa - nas quais o sissy-bar se acopla - têm a parte interna vazada, o que facilita a ancoragem dos ganchos. Prático e fácil. E parto rumo ao Rio em uma linda tarde ensolarada e com temperatura amena.

Primeiro, um trecho urbano. A Meteor 350 passa bem pelos corredores e serpenteia entre os carros com tranquilidade. Com entrega bem progressiva dos 2,7 kgf.m de torque, logo chego à quinta marcha e as trocas daí em diante são raras. E, quando acontecem, não exigem esforço. A embreagem é macia, o câmbio tem engates precisos e já a partir dos 50km/h dá para rodar na última marcha sem soluços.
Ou seja, nenhuma dificuldade. Mas vale destacar que o contra-pedal é  uma perfumaria: seu uso não é lá muito confortável e, por vezes, até atrapalha.

Posição de pilotagem surpreende

Vêm as marginais Pinheiros e Tietê. Com pistas expressas vetadas às motos e velocidades limitadas a 50km/h ou 60km/h nas pistas laterais, a Meteor 350 acompanha folgadamente o trânsito com seus modestos 20 cv de potência. Ali dou especial atenção à posição de pilotagem: pernas naturalmente dobradas em 90 graus, pés apoiados em largas pedaleiras e guidom em altura confortável.
Em resumo: para os meus 1,70m de altura, excelente (dias depois, já no Rio, registrei que mesmo pilotos com até 1,80m ficarão bem acomodados). Quer mais? Os espelhos têm hastes de bom comprimento e proporcionam retrovisão adequada - você vê bem mais que seus braços.
Por outro lado, percebo que o banco, apesar da anatomia satisfatória, poderia ser mais macio - e que, naquela viagem de umas seis horas, eu provavelmente sofreria um pouco.

Acesso a Rodovia Ayrton Senna - essa, sim, expressa -, onde a velocidade máxima permitida varia entre 100 km/h e 120 km/h. Na pista dupla de sentido único, a Meteor 350 começa a mostrar que, mais importante do que a velocidade que uma moto pode atingir, é saber dosar o acelerador para dela extrair as melhores respostas dentro de suas possibilidades e limitações.
Na Meteor 350, a velocidade de conforto é de 90 km/h com alguma tolerância até os 110 km/h. Curiosamente são índices muito próximos à velocidade máxima da moto, de 120 km/h limitados eletronicamente.
Dificuldades? Nenhuma. Apenas sigo pela pista da direita a 100km/h, e me sinto muito tranquilo e seguro. Alguns carros passam por mim, e até passo por outros, mais lentos do que eu. Isso acontece com esticadinhas para 110 km/h, o que a moto faz sem muito esforço. Eventualmente preciso chegar nos 120 km/h, mas aí é sempre preciso lembrar que não a moto não passa disso.

E tome surpresa: a moto jamais grita alto demais e o nível de vibrações se mantém baixo e confortável da mesma forma que nas velocidades inferiores. Em momento algum tenho a sensação de abusar da moto, ou que ela vai "desmontar" - o que inclusive já senti em outros modelos da mesma faixa de cilindrada que chegavam a velocidades superiores.
Eis a questão: não é confortável chegar a 140 km/h quando parece que a moto vai explodir. Aqui, não tem isso.
Sobre asfalto bom, a Meteor 350 desliza com suavidade e proporciona muito mais prazer na pilotagem do que se pode supor. É divertida e até sedutora, com seu largo tanque para 15 litros de combustível ali na frente - você até se sente em uma moto maior. Isso é parte do charme de uma moto, e essa Meteor 350 sabe ser sedutora. Chego à Via Dutra.

Sem conflito com os caminhões

Agora é hora de enfrentar um tráfego mais intenso, inclusive com muitos caminhões. Mantenho a estratégia de ficar na pista da direita, na média de 100 km/h. Os quilômetros passam e a Meteor 350 segue viagem com galhardia.
Em muitos trechos o trânsito afunila e aí temos as vantagens de uma moto quase pequena: leveza e agilidade. Deixo muitos veículos para trás. Nos pedágios, outro barato desta anglo-indiana: a moto atrai tanta atenção quando certas custom maiores.

Chego à metade da viagem. Começa a escurecer e a esfriar, e paro no último posto antes da divisa com o Rio. Abastecimento e calculadora: até ali, média de 25 km/l.
Menos que os 30 km/l não oficiais falados informalmente na apresentação da Meteor 350 à imprensa. Mas é preciso ponderar que trata-se de uma moto zero, com motor ainda "amarrado", e que rodou 200,4 quilômetros sempre perto do seu limite. Assim, dá para supor que no uso diário, em rotações menores, ela facilmente vai superar os 30 km/l.
Como não posso soltar minha bagagem para pegar mais casacos sob pena daquilo desmoronar como um castelo de cartas, "pesco" a única coisa que está acessível: a capa de chuva. O sol se despediu e o resto da viagem será à noite.
E esse farolzinho com halo de LED tipo "angel eyes" e lâmpada halógena, hein? Pois saiba que ele dá conta do recado. No resto da viagem, alterno entre alto e baixo no botãozinho "rotativo" e enxergo tudo perfeitamente.

Os quilômetros de asfalto passam, com temperaturas entre frio e muito frio. O banco durinho manda lembranças a todo instante, mas confesso que sofri mais no test-ride de apresentação da moto, dias antes, quando passamos por estradas mais deterioradas e com muitos quebra-molas.
O para-brisa - original nesta versão Supernova - dá conta de desviar o vento do peito, mas não do capacete. Não há turbulência permanente, mas se abro a viseira fica desconfortável. De toda forma, o para-brisa certamente contribui para que este piloto não vire picolé.

Entre curvas e frenagens

Chego em trechos mais sinuosos da Via Dutra, entre Volta Redonda e Serra das Araras. Com suspensão traseira de calibragem durinha e chassi bem rígido, a Meteor 350 contorna curvas abertas e fechadas com segurança. Mas não incentiva abusos - nada de raspar pedaleiras, por favor.
As frenagens são satisfatórias e não dão sustos, mas não impressionam e me dão a impressão de que poderiam ser melhores. Lembrar que tenho ABS nas duas rodas me tranquiliza.

Já no retão da Baixada Fluminense, a ferramentinha de alerta de manutenção começa a piscar no painel de instrumentos: é que estamos perto dos 500 quilômetros rodados - a marca para a primeira revisão. Com seu visual retrô e telinha de LED central, o painel fornece as informações necessárias e só peca por não ter conta-giros. Mas é bonito, completinho e bem visível tanto de dia quanto de noite. Um acerto!
Como conheço o caminho, nesta viagem não uso o Tripper. Mas vale a informação: usei na apresentação da moto, há alguns dias, e o dispositivo funciona bem. É muito mais simples do que um GPS autêntico, claro. Mas vai te mostrar o caminho com setinhas exibidas ali na telinha de TFT do segundo mostrador redondo, ao lado do principal.

Neste trecho, onde o trânsito de sexta-feira à noite é sempre intenso, mais uma vez a Meteor 350 volta ser "veloz", assim mesmo entre aspas, e deixa quase todo mundo para trás. Na Linha Vermelha, sofro com os "pulos" proporcionados pelas irregularidades da pista. A mesma suspensão traseira rígida que proporciona estabilidade nas curvas também faz a moto quicar um bocado.
Mas não há sinais, em momento algum, de que eu vá perder a trajetória. Seis horas e meia depois, estou na garagem de casa. Cansado, sim. Mas quebrado, não. E isso diz muita coisa sobre essa Royal Enfield: o banco poderia ser mais macio, sim, mas não é tão duro assim. E a posição de pilotagem é, de fato,  bastante boa.

A conclusão

Dá para viajar de Meteor 350? A resposta é sim. Aí o caro leitor pondera que muita gente viaja com motos pequenas, como Honda CG ou Suzuki Intruder 125. É verdade, mas essa não é a proposta dessas motos, certo? No caso da Meteor 350, também não: é uma moto mais adequada ao uso urbano, onde fica completamente à vontade e "sobra". Ou mesmo a passeios mais curtos, quando não cansará tanto.
Também vale lembrar que a Meteor 350 não é para quem já está habituado a modelos maiores e mais potentes (a não ser como segunda moto, claro).
É para quem vem de modelos menores e quer subir um degrau, para quem busca uma custom de porte e preço intermediários ou ainda para quem tem uma moto mais antiga da mesma faixa de cilindrada e quer deixar de ser "sócio da oficina". Em vez de gastar todo mês com consertos e trocas de peças, passa a gastar com a parcela do financiamento - e terá uma moto sempre apta a rodar.

De toda forma, a custom feita na Índia mostrou que se sai bem mesmo em percursos longos e, tão importante quanto isso, que proporciona viagens divertidas e seguras desde que se respeite a correta dosagem no acelerador.
A cavalaria é pequena e seria melhor se a máxima fosse superior? Sim e claro. Mas não é assim. Então, não adianta querer pilotá-la como se fosse uma moto maior -  obviamente não vai responder da mesma forma. Mas se você pilotá-la com civilidade e atenção às acelerações, às retomadas e aos espaços nas ultrapassagens, terá tudo sob controle.

É uma boa compra?

A relação custo-benefício da Royal Enfield Meteor 350 é atraente. Com R$ 20 mil você leva para casa uma moto custom bonita, divertida, econômica, eficiente e com mecânica e manutenção simples.
Segundo informaram durante a apresentação, na primeira revisão você gastará R$ 80 de óleo e filtro, mais a hora de trabalho da concessionária (que varia em torno de R$ 200, em média). As revisões são a cada 5.000 quilômetros e as trocas de óleo e filtro, a cada 10.000 quilômetros. As revisões sem trocas são para "inspeção", de acordo com o fabricante.
Veremos algum problema crônico no futuro, como os raios frouxos nas rodas das Classic 500 ou a pré-ignição nas Himalayan 411? Impossível saber.
Vale lembrar que lotes de motos com um mesmo problema de fábrica não são exclusividade da Royal Enfield. Já vimos cabeçotes trincados nas Honda CB 300R, ruídos irritantes nas campanas de embreagem da Suzuki V-Strom 1.000 e lentes de farol derretidas nas Yamaha XT 660R, além de "bugs" no sensor de reserva das Triumph Bonneville 865 T100 e no sensor do ABS dianteiro das Indian Scout 1.200, entre vários outros casos.
Por outro lado, vimos muito mais modelos de motos sem qualquer histórico - inclusive as Royal Enfield Interceptor e Continental GT 650. Então, não dá para prever. O que se deve levar em conta aqui é que a baixa potência e a velocidade máxima limitada não são motivos para descartar a Meteor 350 - a não ser para quem faz questão de uma tocada forte.
Esta é, sem dúvida, é uma das motos mais simpáticas e interessantes que surgiram nos últimos anos.

FICHA TÉCNICA

Royal Enfield Meteor 350 Preços: Fireball, R$ 17.990; Stellar, R$ 18.490; e Supernova, R$ 18.990 Motor: monocilíndrico, refrigerado a ar e óleo, duas válvulas, comando de válvulas simples no cabeçote, 350 cm³, potência de 20 cv a 6.100 rpm e torque de 2,7 kgf.m a 4.000 rpm Transmissão: câmbio de cinco marchas com secundária por corrente Partida: somente elétrica Freios: disco simples na frente e atrás, com ABS Suspensões: garfos telescópicos na frente e bichoque atrás Pneus: 100/90 R19 na frente e 140/70 R17 atrás, ambos sem câmara em rodas de liga leve Dimensões: 2,14 m de comprimento, 1,40 m de entre-eixos, 84,5 cm de largura, 1,14 m de altura, altura do banco ao solo de 76,5 cm e 17cm de distância mínima do solo Peso: 191 quilos em ordem de marcha Tanque: 15 litros Consumo médio na viagem: 25km/l Velocidade máxima: 120km/h limitada eletronicamente

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