As Harley-Davidson X350 e X500, desenvolvidas em parceria com a chinesa Qianjiang Motorcycle Company, foram feitas para serem vendidas exclusivamente em alguns mercados asiáticos.
As duas motos fazem parte de uma estratégia da marca de atuar na região também com produtos mais adequados aos perfis locais. Ou seja, nesses lugares, a Harley vende suas tradicionais motos grandes, mas também as duas com baixa cilindrada e preço mais razoável.
Assim, atinge o público mais endinheirado e, ao mesmo tempo, "espalha" sua marca com modelos mais acessíveis - e ainda fazem rentáveis volumes de venda.
Bem diferente do que acontece nos Estados Unidos e na maioria dos outros países onde atua - inclusive o Brasil -, onde o line-up só tem modelos grandes e caros.
Fora da terra do Tio Sam, aliás, segue em curso a estratégia "global" de ter uma linha enxuta e composta apenas por modelos de alta cilindrada e preços idem, para sempre posicionar a Harley-Davidson como " marca premium".
Pois agora foi anunciado que as duas motos - X350 e X500 - serão vendidas na Austrália. É um mercado "rico", que pouco ou nada tem a ver com os dos países asiáticos nos quais os dois modelos vinham sendo comercializados.
Na Índia, aliás, a Harley lançou uma terceira versão, a X440, que é montada por lá em parceria com uma fabricante local chamada Hero MotoCorp Limited.
A chegada das duas motos à Austrália é uma surpresa, e nos leva a questionar se seria um primeiro passo rumo a outros mercados.
Tanto a X350 quanto a X500 são movidas por motores bicilíndricos com refrigeração líquida. São parecidos - o que muda, mesmo, é a capacidade cúbica e, por tabela, potência e torque.
A X350 entrega 36,7 cv e 3,1 kgf.m de torque. Já o motor da X500 rende 47,6 cv e 4,6 kgf.m. As duas têm câmbio de seis marchas com secundária por corrente.
Apesar da capacidade cúbica intermediária, a X440 vendida na Índia tem calibragem adequada ao gosto local: lá o bicilíndrico gera 27 cv e 3,8 kgf.m. Ou seja, proporcionalmente entrega mais torque do que potência. É a tradicional serenidade indiana...
Os modelos também compartilham alguns outros componentes e, mais evidente ainda, o design básico. Este é claramente inspirado no das motos que competem em corridas de flat track - aqueles circuitos ovais de terra -, e nada tem a ver com o das grandes custom, cruiser e touring vendidas no resto do mundo.
A chegada das duas motos à Austrália também chama a atenção por se inserir em um "movimento" que muitas marcas vêm fazendo.
A Triumph, inglesa, por exemplo, lançou na própria Índia os modelos Speed 400 e Scrambler 400 X, e já confirmou que as duas serão vendidas em outros países - inclusive no Brasil.
As duas usam o mesmo motor monocilíndrico de refrigeração líquida e 398 cm³, que rende 40 cv e 3,8 kgf.m de torque. Virão competir com as Royal Enfield Meteor, Classic e, principalmente, Hunter 350.
As duas primeiras já são vendidas no mercado brasileiro e a Hunter está prestes a chegar. As três têm o mesmo motor, que é um tanto mais modesto que o das Triumph: um monocilíndrico refrigerado a ar, com 350 cm³, 20 cv e 2,7 kgf.m.
Outra que investiu forte nesse segmento de cilindrada intermediária foi a Bajaj. Aqui, a marca começou suas operações no início do ano com três modelos - as Dominar 160, 200 e 400.
Adivinhe qual tem vendido mais? Exatamente: a Dominar 400, cujo motor monocilíndrico com refrigeração líquida entrega 40 cv e 3,5 kgf.m.
A explicação para isso é simples. Honda e Yamaha, as principais marcas que atuam no país - e que dominam o mercado -, não têm modelos nesse segmento, muito menos com os perfis nos quais essas outras investem (custom, clássicas, retrô etc).
Então, em vez de apostar em modelos para brigar com best-sellers das duas gigantes, a estratégia é jogar em nichos e volumes menores, porém rentáveis.
Diante disso tudo, poderemos ver as Harley-Davidson X350 e X500 no mercado brasileiro? As chances são remotíssimas, mas não é impossível.
Por um lado, a americana mantém por aqui seu posicionamento de marca "premium", com line-up enxuto, preços altos e poucas concessionárias - e ter modelos baratos e de muito volume exigiria investimentos na ampliação de lojas, oficinas, ferramentais, funcionários e afins.
Por outro lado, o que importa é rentabilizar o negócio, certo? Então se vária marcas estão indo por um determinado caminho, é porque ali é rentável. E a Harley-Davidson já mostrou que não tem o menor problema em mudar suas estratégias de negócios. A conferir.
Nunca é demais lembrar que, cerca de 10 anos atrás, a Harley-Davidson cogitou vender por aqui um dos dois modelos que na época compunham a chamada linha Street - Street 500 e Street 750.
Eram interessantíssimos modelos custom de média cilindrada e com motores V2 refrigerados a água, que certamente encontrariam um ótimo espaço no mercado brasileiro.
Mas a recessão atingiu o país em cheio, a economia afundou e a marca cancelou os planos. Um bom tempo depois, em 2021, as duas saíram de linha e ficamos com saudades do que não chegamos a ver...