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Shadow 600 e 750: muita estrada em 20 anos
A história da Shadow no Brasil começou em 1994, quando algumas poucas unidades da 600 foram importadas cá. Mas a moto ficou em banho-maria até 1997 e só começou a se tornar popular, mesmo, em 1998, quando passou a ser montada em Manaus e as vendas aumentaram significativamente.Nos anos seguintes, a Shadow 600 conquistou uma legião de fãs pelo visual de custom "bandida", pela possibilidade de ser equipada com muitos acessórios, pela robustez e pela manutenção relativamente fácil. As últimas saíram de linha em 2004, já como modelo 2005, e ao longo de todo esse tempo no mercado a moto não sofreu quase nenhuma mudança - apenas cores e emblemas, além da perda de um dos dois carburadores, em 2003, para se adequar à legislação de emissões da época.
Depois de um pequeno hiato, a Honda lançou a Shadow 750 - como modelo 2006. A moto já era bem popular nos Estados Unidos, onde era vendida em diversas versões, mas para cá veio apenas uma - a Aero. No início causou certa estranheza por ser bem diferente da Shadow 600 - a antiga era magrinha, "bandida" e despojada, e a nova 750 era corpulenta e apostava em um visual custom mais clássico, com para-lamas grandes, guidom largo e pneu dianteiro gorducho.
Mas não demorou até que também caísse nas graças da turma estradeira. Tinha as mesmas virtudes da irmã menor, porém com maior porte, mais imponência e mais conforto. De 2005 a 2008 a moto não sofreu mudanças - exceto, claro, em cores, grafismos e emblemas -, mas em 2009 o carburador deu lugar à injeção eletrônica.
A moto ficou nessa configuração por dois anos e, em 2011, entrou em seu lugar a "nova" Shadow 750 - que na prática era apenas uma outra versão da mesma moto, a Spirit, também já existente há anos na Terra do Tio Sam. Agradou bastante, pois seguia o estilo da 600, com visual mais magrinho e "bandido", guidom estreito e pneu dianteiro fino. Essa versão ficou em linha até 2015, quando as últimas unidades foram produzidas.
A Shadow 750 saiu de linha basicamente por duas razões interligadas: primeiro, não iria se adequar à nova fase da legislação de emissões que entraria em vigor. Para continuar, precisaria sofrer alterações, o que exigiria investimentos por parte da Honda.
Mas a fabricante considerou inviável investir uma verba considerável para manter em linha uma moto que já dava sinais de cansaço no mercado, que vendia pouco e ainda enfrentava a forte concorrência da Harley-Davidson Sportster 883, que custava praticamente a mesma coisa - ambas na faixa dos R$ 32.000.
Como todos nós sabemos, o "sonho" da maioria dos motociclistas estradeiros usuários de modelos custom é uma moto da marca americana, mesmo que não seja exatamente a melhor. A Shadow 750 podia ser mais confortável, maneável ou confiável e, na época, ter manutenção mais barata, mas a outra era... uma Harley-Davidson!
E assim a Shadow 750 saiu de linha, e deixou um vazio no mercado e nos corações dos "sombreiros" - como se autodenominam muitos dos proprietários das Shadow até hoje. A moto permanece em linha nos Estados Unidos nas versões Phantom e Aero, que por lá custam pouco menos de US$ 8.000 (uns R$ 40.000).
E, apesar dos muitos apelos por sua volta para o Brasil nas redes sociais, a Honda não tem a menor intenção de voltar a vendê-la no Brasil. Aqui, vale lembrar que o segmento custom responde por menos de 1% das vendas de motos no país. É principalmente por isso que temos tão poucas opções de motos custom e que a maioria das marcas não tem interesse em investir no segmento.
Vale comprar uma usada
Então vêm as perguntas: ainda vale a pena comprar uma Shadow 600 ou uma Shadow 750, mesmo com os preços atuais e se considerarmos que são motos fora de linha há um tempo razoável? Qual das duas é a melhor compra? Quais os prós e contras de cada uma? Vamos por partes...A resposta à primeira questão é sim, ainda vale a pena comprar qualquer uma das duas. Ambas ainda são cobiçadas, valorizadas no mercado de usadas e eficientes em suas propostas. Além disso, a manutenção básica das duas é fácil e barata, e encontrar as peças de uso contínuo e de desgaste (pastilhas de freio, kit de relação da 600, filtros etc) também é algo bem tranquilo.
As dificuldades são, basicamente, obter peças mais "complicadas" - aí só sob encomenda nas concessionárias Honda - e, principalmente, dispor de um mecânico qualificado para mexer nessas motos. Com um bom profissional e manutenção feita da forma que tem que ser - ou seja, com regularidade e precisão - as duas não têm qualquer tendência a dar problemas, mesmo que tenham quilometragem elevada.
Naturalmente, as duas têm suas frescuras, como qualquer moto. Na Shadow 600, é preciso ficar de olho na bomba de combustível, que tem histórico de, em algum momento, vazar - o que pode até incendiar a moto. A boa notícia é que a Shadow 600 funciona sem a bomba, principalmente a versão com apenas um carburador.
Mas, nesse caso, a recomendação é que, ao comprar uma Shadow 600 usada, o novo proprietário faça uma revisão profunda - aliás, isso vale para qualquer moto. Nessa revisão, deve verificar e renovar os itens de praxe, como óleo, filtros, cabos e fluido do sistema de arrefecimento, e substituir a bomba de combustível (pode-se comprar só o refil). Uma outra dica é dar uma boa verificada na bomba d´água, que também tem lá algum histórico de problemas (porém bem menos frequente).
Já a Shadow 750 tem dois senões, ambos ligados ao sistema de alimentação de combustível. Claro que após a compra devem passar por uma revisão minuciosa, mas nas carburadas é importante trocar o reparo da torneira do tanque - o diafragma que "mora" ali em algum momento sofre desgaste por ação da nossa gasolina misturada com etanol e rasga ou fura. Aí deixa passar combustível para o carburador e, quando se vai ligar a moto, ela já está afogada e não vai pegar nem com reza braba.
No caso das Honda Shadow 750 com injeção eletrônica, o problema recorrente é a quebra de um dos bicos da tampa de plástico da "gaiola" da bomba de combustível, que fica embaixo do banco. O drama aí é que a Honda não vende essa peça separadamente - somente o conjunto completa com "gaiola" e bomba, que custa em torno dos R$ 3.000.
Por falar em torno, aí está a solução: desmonte o conjunto, leve a tampa em um torneiro mecânico e peça para fazer um novo bico de metal rosqueado no lugar do bico de plástico quebrado. O custo não passará de uns R$ 200 e o problema estará resolvido. Aí é só botar tudo de volta na moto, abastecer e partir pro rolé.
Também vale lembrar que há relatos de que os cromados das tampas dos cabeçotes das Honda Shadow 750 descascam com o tempo. Realmente acontece, mas como é uma peça de acabamento que não interfere na condução e na segurança da moto, a solução aí é pessoal: pode-se pintar a peça de preto (fica bonito, acredite!), comprar uma nova (só nas concessionárias Honda...) ou tentar cromá-la, o que não é tão fácil por ser uma peça de plástico.
Por fim, qual das duas é a melhor? Naturalmente a melhor moto é a mais nova, a menos rodada e a mais bem cuidada - seja uma 600 ou uma 750 - e, claro, que caiba no orçamento do comprador.
A Honda Shadow 600 é mais indicada a quem vai rodar mais na cidade e viajar apenas ocasionalmente. Já a 750 é melhor para quem vai usar pouco na cidade e viajar mais. Então é pesquisar bem para fazer uma boa compra e não ter surpresas desagradáveis depois. De resto, bons passeios!
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