O Honda X-ADV é um caso à parte no mercado brasileiro de duas rodas. Parece um scooter, mas não é - afinal, não tem transmissão CVT. E também não é uma moto, embora seu motor seja o mesmo da Honda NC 750X. Mas então o que é o X-ADV?
É justamente a mistura de um scooter com uma moto. E na receita ainda entram condimentos sport-touring, no para-brisa, e off-road, nos pneus de uso misto e nas suspensões relativamente altas. Enfim, é uma espécie de "x-tudo". O mais impressionante? Essa mistureba é muito boa!
Aproveitando o lançamento da linha 2024 do modelo, que é vendido no Brasil desde 2017, fomos conhecer melhor o X-ADV durante um test-ride de respeito: cerca de 700 quilômetros rodando de Brasília (DF) até Alto Paraíso de Goiás (GO), passando por alguns trechos urbanos, estradas predominantemente de asfalto e visitas a pontos turísticos encarando estradinhas de terra.
Eu já havia pilotado o modelo algumas vezes, mas nunca por dias seguidos e por distâncias tão longas. E é assim que você realmente conhece um veículo. E afirmo: objetivamente e indo direto ao ponto, o X-ADV me impressionou muito.
Raras vezes pilotei um scooter ou moto tão versátil. O modelo foi bem nos trechos urbanos, melhor ainda na estrada asfaltada e não comprometeu nos trechos de terra.
Seu conjunto é muito completo: chassi tipo diamond, motor bicilíndrico de 745 cm³, 58,6 cv e 7 kgf.m de torque, suspensões com garfos invertidos na frente e monochoque atrás, freios com ABS nas duas rodas, controle de tração, pneus de uso misto, transmissão automatizada DCT com dupla embreagem e seis marchas, quatro modos de pilotagem e painel de TFT com conexão Bluetooth.
No trânsito urbano de Brasília e no modo "standard" de pilotagem, o X-ADV exibiu maneabilidade para escapar dos congestionamentos e andar com alguma desenvoltura nos "corredores". A predominância de retas facilitou as coisas. Não é tão ágil quanto u PCX 160, por exemplo, mas realmente não tivemos qualquer dificuldade.
Já na estrada, o modelo acompanhou sem sofrer as Africa Twin que estavam no grupo, sempre em velocidades médias de 100 km/h a 120 km/h - com eventuais (e frequentes) esticadas. E ainda experimentamos o modo "sport", que apimentou as emoções com respostas ainda mais rápidas: o motor "estica" as marchas, trabalha em giros mais altos e emite até um ronco mais interessante. Acredite: esse scooter/moto anda mais do que parece!
Nos trechos de terra, no modo "gravel" de condução, o X-ADV não deu sustos: sempre foi muito maneável e, mesmo com o controle de tração ligado, permitiu brincadeiras controladas, encarou subidas íngremes e foi bastante fácil de conduzir. Terra nunca foi meu habitat natural, mas rodei ali com raríssima tranquilidade.
Também não é o habitat natural do modelo. Embora tenha pneus de uso misto, como todo "scooter" os cursos das suspensões não são muito longos e a posição de pilotagem não é exatamente a de uma moto trail. Pelo menos nossa unidade estava equipada com um acessório que facilita imensamente a pilotagem em pé - pedaleiras de metal com dentes. Esse simples recurso muda tudo no off-road.
Curiosamente algo que não é tão fácil é manobrar e estacionar o X-ADV. O banco a mais de 80 cm do solo dificulta a vida de pilotos de baixa estatura ou de pernas curtas, que só botam as metades dos pés no chão e ficam com pouca "alavanca".
Falando em banco, falta conforto. A peça deveria ser mais anatômica e bem mais macia. Já o espaço sob o assento é apenas razoável - eu esperava mais em um modelo de porte médio.
De resto, é um conjunto elogiável. O freios param o modelo em distâncias adequadas, mas é preciso acioná-los com firmeza para obter respostas realmente fortes. E nas curvas, no asfalto, os pneus exibiram excelente performance, sem jamais fazer o X-ADV rebolar ou rabear.
O bonito painel de instrumentos, por sua vez, é completo, rico em informações, fácil de consultar e tem luz de fundo que muda de acordo com a luz natural. Bacana. Para fazer os setups, usa-se dois botões no punho esquerdo. Não são tão intuitivos, mas o aprendizado é rápido e fácil.
Como vimos aí em cima, o Honda X-ADV tem desempenho extremamente convincente, muitos recursos a bordo e especificações técnicas de alto nível. Mas será que vale o estratosférico preço de R$ 91.780 (base São Paulo)?
Bem, o bicho custa caro por dois motivos básicos: tem muita tecnologia e vem importado do Japão. Então não desfruta das isenções tributárias dos modelos montados em Manaus, como a big trail CRF 1100L Africa Twin, por exemplo, cuja versão com o mesmo câmbio DCT e recursos eletrônicos custa R$ 88.100.
Então o X-ADV torna-se realmente um modelo "premium", destinado a um público bastante restrito. É para quem não tem problemas com conta bancária e quer algo bem exclusivo, diferente e versátil - e, ao mesmo, dispensa o trabalho de trocar marchas por comodidade ou necessidade.
Também é indicado para pessoas com alguma dificuldade de movimento nos pés ou pernas, que não consigam trocar as marchas em uma moto comum, mas querem um veículo de duas rodas que faça praticamente tudo o que uma moto faz. Seja quem for, terá em mãos um veículo capaz de proporcionar praticidade e diversão de altíssimo nível.
Preço: R$ R$ 91.780 (São Paulo)
Motor: dois cilindros em linha, injeção, comando de válvulas no cabeçote, refrigeração líquida, 745 cm³, potência de 58,6 cv a 6.750 rpm e torque de 7 kgf.m a 4.750 rpm
Transmissão: câmbio de seis marchas com secundária por corrente
Suspensões: dianteira com garfos invertidos e curso de 15,3 cm e traseira monochoque pro-link com curso de 15 cm
Freios: a disco com ABS nas duas rodas. Controle de tração
Pneus: 120/70 R17 na frente e 160/60 R15 atrás
Dimensões: 2,21 m de comprimento, 94 cm de largura, 1,37 m de altura, entre-eixos de 1,59 m, distância mínima do solo de 16,5 cm e altura do banco em relação ao solo de 82 cm. Peso de 227 quilos a seco
Tanque de combustível: 13,2 litros
Consumo: média de 22 km/l na estrada (medição WM1)