A Kawasaki é mundialmente famosa por seus modelos da família Ninja e no mercado brasileiro não é diferente. Aqui, esportivas como a ZX-6R e ZX-10R são extremamente cobiçadas e a recém-lançada ZX-4R também já ganhou fama - isso para mencionar apenas os modelos atualmente em linha.
E até mesmo as pequenas Ninja 300 e 400, que no momento nem aparecem no site da Kawasaki do Brasil, também já tiveram lá seus dias e glória. Entre estas pequenas e aquelas grandes, porém, existe a média Ninja 650 - um modelo que nunca fez grande sucesso apesar de suas especificações extremamente interessantes.
É uma injustiça. Alguns fãs mais conservadores da linha Ninja argumentam que a 650 não é uma legítima integrante da "família" - seria apenas a naked Z650 com carenagem. Ok, é fato que a Ninja Z650 compartilha o motor com a Z650, e também com a custom Vulcan 650, com a clássica Z650 RS e com trail "quase crossover" Versys 650.
Mas as Ninja maiores também compartilham seus motores com outros modelos da Kawasaki. E o argumento de que esse propulsor é um dois-em-linha - portanto, inferior aos quatro-em-linha dos modelos maiores - também é furado, pois as Ninja 300 e 400 também têm motores menores e nem por isso são tratadas como modelos com menos glamour. Aliás, muita gente entrou na linha Ninja justamente com essas pequenas bicilíndricas.
O fato é que cada Ninja tem sua própria pegada. As menores são modelos de acesso ao mundo das esportivas da Kawasaki e podem inclusive ser usadas no dia a dia sem maiores dificuldades. Já as maiores são autênticas superbikes voltadas para quem já tem conhecimento de causa - são mais indicadas para passeios com adrenalina ou track days, e bem menos versáteis para o uso no dia a dia.
No meio do caminho, está a Ninja 650. É uma moto bem adequada ao uso no dia a dia - apesar das dimensões nem tão compactas -, e também vai bem em passeios, onde exibe desempenho bastante satisfatório. Claro que não acelera loucamente com as superbikes nem é para pistas, mas cumpre sua proposta muito dignamente.
Talvez a questão seja justamente... o glamour! A Ninja 650 é mais discreta que todas as outras. É econômica em grafismos chamativos e até mesmo o nome "Ninja" aparece apenas em adesivos pequenos nas laterais da carenagem.
Na linha atual, 2024, a única cor disponível atende pelo pomposo nome "Metallic Matte Graphene Steel Gray / Ebony", mas na prática é apenas um cinza fosco - aí a moto fica ainda mais sóbria e chama mens atenção do que se fosse pintada no tradicional verde da Kawasaki, por exemplo.
O aspecto visual da Ninja 650 pode não impressionar por cores e adesivos, mas o design da moto é inquestionável bonito. A frente "bicuda" com imponentes faróis horizontalizados de LED é agressiva na medida certa, sem ser excessiva.
As carenagens cobrem boa parte das laterais e deixam expostas apenas partes do motor, e a traseira é curtinha, arrebitada e tem uma bonita lanterna com LEDs. Para completar, o escape é baixo e curto, com elegância e sem ostentação.
Por baixo de tudo isso está uma moto moderna e bem recheada. O motor bicilíndrico de oito válvulas, comando duplo e refrigeração líquida entrega 68 cv de potência a 8.000 rpm e torque de ótimos 6,5 kgf.m a 6.700 rpm.
O câmbio tem seis marchas com secundária por corrente e embreagem assistida e deslizante. A moto ainda tem controle de tração, ABS e suspensão traseira monochoque com link horizontal - com o bom curso de 13 cm, quase igual aos 12,5 cm da frente. Os pneus são Dunlop Sportmax Roadsport 2 nas medidas 120/70 R17 na frente e 160/60 R17 atrás. Os freios, por sua vez, são a disco duplo semi-flutuante na frente e simples atrás.
A Ninja 650 é uma moto média, mas bem compacta. Com seus 2,05 m de comprimento e 1,51m de entre-eixos, é fácil de pilotar e bastante ágil. O banco a 79 cm do solo está na média e pessoas com estatura mediana não encontram dificuldades para botar os dois pés no chão. Bom para uma moto que pesa 193 quilos em ordem de marcha - já incluídos os 15 litros de combustível no tanque cheio.
O painel de TFT com conectividade é bem completo e remete aos de motos maiores. Não tem funções de telemetria, claro, mas exibe indicadores de marcha engatada e pilotagem econômica, velocímetro em dígito, conta-giros em barra e computador de bordo com outras informações. Como consumo, temperatura, relógio e hodômetros A, B e total - as luzes-espia ficam fora do display.
Todo esse conjunto é oferecido pela Kawasaki por R$ 47.990 mais o frete de R$ 1.540. Não é um preço super acessível, mas é bastante competitivo. A Honda CB 650R, única concorrente direta, tem motor quatro-em-linha e é mais potente, mas também é mais cara: com seus 88,4 cv e 6,13 kgf.m, sai por R$ 55.360. É uma excelente moto, mas já não tão dócil para o uso diário.