Motos de baixa cilindrada são a melhor opção para o trânsito urbano e motos de alta cilindrada são mais indicadas para viagens, certo? Pois existem alguns modelos que ficam "no meio do caminho" e, por isso, se saem bem nas duas condições. São os modelos de média cilindrada, como a Kawasaki Versys 650.
Motos de médio porte são bem versáteis por causa disso: dão conta, com eficiência, das mais variadas condições de uso. E a Versys - como o próprio nome indica - tem essa versatilidade: é uma moto para tudo, e para toda hora. E com um conjunto que surpreende!
Pegamos a versão mais completa Versys 650 Tourer ABS para uma semana de convívio. E a experiência foi gratificante. Para começar, o design agressivo e musculoso é bacana: tem frente imponente, linhas modernas, tanque esculpido, banco em duas alturas e rabeta arrebitada, mas sem ousadias excessivas.
Outros baratos da Versys 650 são a iluminação full-LED e o belíssimo painel de instrumentos, todo digital e com tela de TFT. Além de bonito, é bem completo e fácil de operar e de ler - independentemente da iluminação que incida na tela
O motor da Versys 650 é um velho conhecido - é o mesmo da esportiva Ninja 650, na naked Z650 e da custom Vulcan 650. Na largada, isso já é bom: como equipa várias motos, em teoria sua manutenção é fácil e a obtenção de peças, menos complicada.
Trata-se de um bicilíndrico paralelo de 649 cm³, que entrega 69 cv de potência a 8.000 rpm e 6,5 kgf.m de torque a 7.000 giros. O câmbio tem seis marchas e a secundária é por corrente.
No trânsito urbano, a Versys 650 exibe boa agilidade, embora não se desvencilhe dos congestionamentos pesados como uma moto de baixa cilindrada. Mas não é difícil pilotá-la. Essa versão vem de fábrica com baús laterais e traseiro, e os laterais naturalmente aumentam sua largura - o que pode complicar no trânsito pesado. Como sua remoção é simples, rápida e fácil, optei por deixá-los em casa para poder encarar os corredores da cidade de São Paulo com mais tranquilidade.
As respostas ao acelerador são rápidas e vigorosas, mas lineares, progressivas e sem sustos em todas as faixas de giros. Por isso, além de se sair bem no trânsito urbano, é uma moto muito adequada a passeios mais longos e viagens - neste caso, com o trio de baús, claro.
Na estrada, a Versys 650 encara com tranquilidade incontáveis quilômetros. Sua única limitação evidente é não ser apropriada a deslocamentos em trechos de terra - apesar das suspensões relativamente altas e com bom curso, os pneus são para asfalto. A Versys 650 está mais para crossover do que para trail média ou "adventure".
No geral, o comportamento do modelo impressiona. Faz ultrapassagens com muita facilidade e é extremamente estável nas retas. Nas curvas, transmite sensação de segurança, mas como é uma moto relativamente alta, a sensação de estar inclinando bastante é bem evidente - é preciso se acostumar a isso. No entanto, nada que assuste. E como faz curvas essa moto!
Os freios também são muito bons. A moto tem dois discos dianteiros e um traseiro (300 mm na frente e 220 m atrás, respectivamente), todos do tipo margarida e com assistência de ABS. Param a moto com precisão e segurança, e vale ressaltar que é até preciso dar atenção especial ao freio dianteiro - que responde prontamente ao menor toque no manete.
Além dos ótimos freios confiáveis, a Versys 650 Tourer também é equipada com controle de tração ajustável em dois níveis: o nível 1, com intervenção menor, garante maior aceleração por permitir pequenas destracionadas da roda traseira em acelerações bruscas; o nível 2 fornece maior grau de intervenção, e é ideal para pisos molhados ou com pouca aderência.
Isso torna a pilotagem ainda mais controlada, segura, divertida e prazerosa. E mais: quem é bom de braço pode desligar o controle de tração e deixar a moto dar deslizadas controladas.
O controle de tração atua fazendo a leitura de vários parâmetros da motocicleta - por exemplo, marcha engrenada, rotação do motor e velocidade das rodas - por meio dos sensores do sistema de freios ABS.
Quando detecta uma rotação excessiva da roda traseira, derrapagem numa aceleração brusca ou numa saída de curva, por exemplo, o sistema reduz a potência do motor por meio do gerenciamento do sistema de injeção eletrônica até que a roda traseira retome a aderência.
A Versys 650 também garante tranquilidade nas viagens devido ao tanque, que pega 21 litros - na estrada, anotamos uma média de 25,5 km/l, o que em teoria resulta em uma autonomia de 535 quilômetros. Daria para ir de São Paulo ao Rio sem abastecer!
Durante nossa avaliação, a reserva "entrou" quando ainda restavam sete litros de gasolina no tanque. Ou seja, ainda seria possível rodar muito. Na cidade, porém, o consumo foi maior e anotamos média de 18 km/l. Ainda, assim, teríamos uma autonomia de uns 378 quilômetros. No uso combinado, a marca registrada foi de 21,1 km/l (alcance de 443 quilômetros).
O conforto é outra característica marcante na Versys 650. Os bancos são satisfatórios (porém mais anatômicos do que macios), a posição de pilotagem é muito descansada - com pernas e braços naturalmente dobrados - e as suspensões têm bons cursos, de 15 cm nos garfos invertidos dianteiros e de 14 cm no monochoque lateral traseiro.
Em ambas é possível ajustar retorno e pré-carga da mola (na traseira, são 13 níveis no retorno e sete níveis na pré-carga). Para completar, a altura do para-brisa pode ser ajustada em 8 cm, o que facilita a vida de pilotos de diferentes estaturas. As rodas de liga leve com aros de 17 polegadas complementam as especificações de rodagem do modelo.
A Versys 650 custa iniciais R$ 53.640 na versão standard e R$ 60.640 nesta versão Tourer (valores sem frete) - que tem, a mais, os dois baús laterais para 28 litros cada, o baú traseiro para excelentes 47 litros, o para-brisa mais alto e fumê, os protetores de mãos, os faróis auxiliares, os sliders no quadro e o protetor de tanque.
Não é uma moto barata em nenhuma das duas versões. Mas qual moto tem hoje, no Brasil, um preço que encha os olhos? Então é preciso analisar o custo/benefício. Para começar, a irmã maior Versys 1000 custa R$ 75.740 na versão standard e R$ 96.740 na versão Tourer. Ou seja, seu preço parte de uma diferença de R$ 22 mil a mais.
Entre as rivais, podemos citar a Honda NC 750X, que custa iniciais R$ 52.680, mas é menos equipada e um pouco menos potente. Além dela, existe a Suzuki V-Strom 650, de R$ 58.905. Seu preço fica entre os das duas versões da Versys 650 e a potência e o torque são similares, mas é uma moto menos equipada e seu design já está bem datado.
Sendo assim, a Triumph Tiger Sport 660 surge como concorrente mais direta: começa em interessantes R$ 56.990 na versão standard e chega a R$ 63.092 se equipada com o trio de baús, que são acessórios. São valores quase iguais em uma moto com mais potência e torque. Mas a versão mais completa da Versys 650 é mais equipada - de fábrica - do que a inglesa e, por isso, a japonesa exibe o melhor equilíbrio entre custo, equipamentos e recursos.
Preço: R$ 53.640 (versão standard) e R$ 60.640 (versão Tourer) - sem frete
Motor: bicilíndrico paralelo de 649 cm³, 69 cv de potência a 8.000 rpm e 6,5 kgf.m de torque a 7.000 rpm
Transmissão: câmbio de seis marchas com secundária por corrente
Freios: a disco nas duas rodas, com ABS
Suspensões: garfos telescópicos invertidos com 15 cm de curso com retorno e pré-carga da mola ajustável na frente; monochoque com 14 cm de curso atrás com retorno ajustável em 13 níveis e pré-carga da mola ajustável em 7 níveis
Pneus: dianteiro 120/70 R17 e traseiro 160/60 R17
Dimensões e peso: 2,16 m de comprimento, 84 cm de largura, 1,4 m de altura, 1,41 m de entre-eixos, banco a 84 cm do solo, vão livre de 17 cm e 216 quilos de peso em ordem de marcha
Tanque de combustível: 21 litros
Consumo: estrada - 25,5 km/l na estrada, 18 km/l na cidade e 21,1 km/l combinado (medição Webmotors)