A Kawasaki Versys-X 300 é o que habitualmente se chama de "case de sucesso". Lançada em 2017, a irmã menor da linha Versys - que ainda tem a média 650 e a maxitrail 1.000 - chegou discretamente, mas logo conquistou um espaço cativo no segmento das trail pequenas. Hoje tem uma legião de fãs, gera debates e trocas de informações nas redes sociais, tem vários grupos dedicados - e tem gente que tinha moto maior, vendeu e foi para a Versys-X 300!
Claro que a Kawasaki Versys-X 300 vende menos que modelos como Honda XRE 300 e Yamaha XTZ 250 Lander, em teoria suas concorrentes, mas é o suficiente para ser um "negócio rentável". E era isso o que a Kawaski precisava desde o começo: ter um modelo de mais volume que as outras motos de seu lineup da época - maiores e bem mais caros.
Não que a Versys-X 300 seja barata. Não é, e nunca foi: quando chegou, quatro anos atrás, custava entre R$ 23.000 e R$ 27.000 - em torno de R$ 7 mil a mais que as rivais. Hoje a diferença continua: a Versys-X 300 custa R$ 30.490 na versão standard e R$ 33.490 na versão Tourer. A XRE 300 começa em R$ 20.390 e a Lander, em R$ 19.990.
Acontece que XRE e Lander não são concorrentes da Versys-X 300. A moto da Kawasaki briga, na prática, com a BMW G 310 GS, que é um produto de perfil mais "premium" como ela - e custa R$ 35.900. Tanto por preço quanto por especificações técnicas, a XRE e Lander ficam um degrau abaixo.
E, se compararmos, em certos aspectos até mesmo a BMW fica para trás. A Versys-X 300 é a única do segmento com motor de dois cilindros em linha e refrigerado a água. Os das outras são monocilíndricos, e apenas a G 310 GS também tem refrigeração líquida.
Aí, em números de desempenho, não tem pra ninguém: com 296 cm³, o bicilíndrico da Versys-X 300 rende 40 cv de potência a 11.500 rpm e 2,6 kgf.m de torque a 10.000 rpm. Na BMW, são 313 cm³, 34 cv a 9.250 rpm e 2,8 kgf.m a 7.500 rpm; na XRE, 291 cm³, 25,6 cv a 7.500 rpm e 2,8 kgf.m a 6.000 rpm; e na Lander, 249 cm³, 20,9 cv a 8.000 rpm e 2,1 kgf.m a 6.500 rpm.
Esse maior poderio mecânico é um dos motivos do sucesso da Versys-X 300, mas não é o único. A moto ainda traz recursos úteis como embreagem assistida e deslizante (ou seja, é macia e a roda traseira não trava nas reduções severas), para-brisa, bagageiro traseiro e o chamado "pacote ergo-fit", um nome bonito para dizer que guidom, banco e pedais são reguláveis.
Quer mais? A versão Tourer, a mais cara, ainda traz de fábrica cavalete central, baús laterais para 17 litros ou 3 quilos cada, faróis auxiliares (acionados por um botão simplório que só), tomada 12V no painel e protetores de carenagens, de manetes e do motor. Ou seja, a Versys-X 300 é mais cara, mas além de ser mais forte é mais equipada que as rivais. Temos, então, outra razão para seu sucesso: a relação custo/benefício.
Entra nessa conta, também, o painel completíssimo: tem relógio, velocímetro digital, conta-giros e vários indicadores - de marcha, de consumo médio, de temperaturas externa e do líquido de refrigeração, de pilotagem econômico (um modo "Eco"), de nível de combustível e de autonomia. Normalmente só vemos um conjunto assim em motos maiores e mais caras. Pode-se argumentar que o painel tem design meio defasado, e é verdade, mas é bem completo.
E há um terceiro aspecto que justifica a trajetória bem-sucedida da moto no mercado brasileiro: o comportamento dinâmico. Para entendê-lo bem, é preciso pilotar essa Versys-X 300. Então... vamos lá?
A Versys-X 300 é amigável desde o primeiro contato. O nosso foi lá em 2017, quando do lançamento - que foi feito em Parati, onde o test-ride inclui asfalto, terra e até areia da praia. De lá para cá, foram alguns reencontros. Agora, este em São Paulo.
Essa trail tem porte de moto maior e desenho muito bem resolvido. Vá lá que seu design, hoje, já está um pouco batido e é hora de uma repaginada, mas ainda é, pelo menos, simpático. Talvez no ano que vem surjam mudanças estéticas - e, quem sabe, até com o motor de 400 cm³ que já está nas "primas" Ninja 400 e Z400. Seria um arraso!
O banco é relativamente alto, mas com meus enxutos 1,70m de altura não tenho dificuldades para me aboletar ali e ficar com pelo menos metade dos pés no chão. É que o chassi é mais estreito na área em que o piloto se senta, então ganha-se alcance nas pernas. Embreagem macia como manteiga, engato a primeira e saio pelas ruas da capital paulista para um bate-e-volta até Barueri.
Um dos baratos dessa Versys é o motor "girador", levinho, que responde rapidamente às solicitações do acelerador. O propulsor trabalha melhor em giros altos, então é importante mantê-lo sempre cheio se desejar uma pilotagem mais nervosa. Mas você só troca marchas o tempo todo se quiser: mesmo em sexta, a Versys anda ali pelos 40km/h sem soluçar.
O segredo aí está na relação algo curta, com coroa de 46 dentes e pinhão com 14, que já faz o motor naturalmente trabalhar "em alta". Nas pistas livres, você bota a sexta e esquece da vida. Em todas as situações, os níveis de ruídos e vibrações são aceitáveis.
Uma das vantagens sobre as rivais é a versatilidade: por suas características mecânicas e porte, a Versys é mais adequada a viagens. O tanque, por exemplo, leva 17 litros e garante uma autonomia de quase 400 quilômetros. Ótimo!
A posição de pilotagem é muito boa. Costas retas, pés apoiados em ótimas pedaleiras que ficam na reta do quadril e guidom ao alcance das mãos sem esforço. O senão desde sempre é o banco, apenas razoavelmente anatômico e com espuma mais dura que o desejável. O câmbio tem engates justos, mas não exatamente macios.
Nas curvas, a moto não dá sustos e transmite segurança, mas não é impressionante. As suspensões têm calibragem um pouco rígida, o que proporciona ótima estabilidade e firmeza, mas os pneus mistos Pirelli MT 60 com proposta 60% "on" e 40% "off" e perfil alto para resistir a impactos deixam a frente meio pesada.
Para completar, o aro dianteiro é de 19 polegadas - fosse de 21, a maneabilidade da moto seria melhor. Pelo menos o vão livre de 18 cm e os cursos de 13 cm na frente e 14,8 cm atrás são adequados ao off, desde que não seja trilha pesada.
Os freios, por sua vez, mostraram excelentes respostas. E o para-brisa, que parece ter bom tamanho, fornece limitada proteção aerodinâmica: não impede turbulência no capacete acima dos 100km/h. Mas nada que incomode muito. Já a leitura do painel é bastante fácil, principalmente à noite com sua boa iluminação em cor laranja.
Como nada é perfeito, essa Versys também tem seus senões. Proprietários relatam que, em movimento e no trânsito, o motor esquenta muito e o calor incomoda as pernas (não é defeito, é característica). Além disso, há casos de hastes de piscas que quebram em curto prazo - e as peças de reposição da moto não são baratas. Por fim, os baús da versão Tourer são pequenos e de material plástico menos resistente que o desejável
E assim a Versys-X 300 continua firme e forte. A linha 2021, com novos grafismos e cores, já está nas concessionárias. A versão básica tem a cor predominante "verde Kawasaki" mesclada com a cor preta, e mantém o nome "Versys" destacado no tanque, com letras na cor preta sobre uma base cinza claro. Já a topo de linha Tourer é vendida na cor predominante cinza com logotipo maior e mais estilizado, em um elegante tom vermelho.
Kawasaki Versys-X 300
Motor: dois cilindros em linha, oito válvulas, comando duplo no cabeçote, refrigeração líquida, injeção, 296 cm³, potência de 40 cv a 11.500 rpm e torque de 2,6 kgf.m a 10.000 rpm.
Transmissão: câmbio de seis marchas, secundária por corrente e embreagem assistida e deslizante
Suspensões: garfos na frete, com 13 cm de curso, e monochoque atrás, com 14,8 cm de curso
Pneus: 100/90 R19 na frente e 130/80 R17. Rodas raiadas
Freios: a disco nas duas rodas, com ABS
Dimensões: 2,17 m de comprimento, 1,45 m de entre-eixos, 94 cm de largura, 1,39 m de altura, 18 cm de vão livre e altura do banco de 81,5 cm
Peso: 184 kg (ordem de marcha)
Tanque: 17 litros
Consumo médio: 21,8 km/l