A nova geração da Kawasaki Ninja ZX-6R desembarca no Brasil com design renovado, mais eletrônica embarcada e como única opção no segmento de superesportivas médias. O modelo, lançado no exterior em outubro do ano passado, não sofreu mudanças significativas no motor e chassi, mas ganhou quick-shifter (que permite subir as marchas sem o uso da embreagem), além do controle de tração, níveis de entrega de potência e freios ABS de série do modelo anterior e, o melhor, com um preço competitivo.
A Ninja média chega às lojas na segunda quinzena de abril apenas na cor verde da Kawasaki Racing Team com preço sugerido de R$ 49.990 (sem frete) – abaixo, portanto, do antigo modelo que, com ABS, era vendido por R$ 53.000.
Visualmente, a nova ZX-6R tem carenagens com linhas mais angulosas e um conjunto óptico frontal mais afilado e com dois faróis de LED, que também equipam a lanterna e os piscas. A identidade visual foi inspirada na Ninja H2, a “hiperesportiva” superalimentada da marca japonesa, e lembra bastante a Ninjinha 400. O painel também é novo e ganhou um bem-vindo marcador de combustível, enquanto manteve conta-giros analógico e uma tela de LCD de fácil leitura e com bastante informações.
Com a proposta de ser uma esportiva para quem quer rodar nas ruas e estradas, mas também se divertir na pista, a nova ZX-6R oferece bom torque em baixos e médios giros e potência suficiente para se divertir na pista. São 136 cavalos a 13.500 rpm, um (1 cv) a menos do que no antigo modelo em função da adequação às normas antipoluição Euro 4, que inclui nova caixa de ar e acertos na central eletrônica. O torque manteve-se em 7,2 kgf.m, mas a 11.000 rpm, 500 giros a menos do que na geração anterior.
Para melhorar o desempenho na estrada, a Ninja 636 recebeu um pinhão com um dente a menos, o que encurtou a relação final e proporciona retomadas ainda mais vigorosas. E “economiza” em reduções de marcha. A mudança deve beneficiar os consumidores que usam a esportiva em viagens e passeios.
O chassi perimetral de alumínio prensado não mudou. As suspensões usam garfo telescópico invertido Showa com funções separadas (Separate Function Fork), na dianteira, que têm ajuste de pré-carga da mola na bengala esquerda e os de compressão e retorno na direita. O monoamortecedor traseiro com reservatório de expansão a gás fixado por links é totalmente ajustável. O peso do conjunto é de 196 kg em ordem de marcha.
Os freios têm discos duplos de 310 mm na dianteira com pinças monobloco Nissin fixadas radialmente; e disco de 220 mm com pinça simples na traseira. O sistema ABS, desenvolvido pela própria Kawasaki, agora é de série.
Outra boa novidade na parte ciclística são os pneus Bridgestone Battlax Hypersport S22, voltados para o uso em estradas e que prometem boa aderência no molhado. São calçados em rodas de liga-leve nas medidas 120/70-17, na frente, e 180/55-17, atrás. Mais adequados para a rua, podem também ser usados em pista.
Embora a Kawasaki afirme que a maioria dos consumidores da Ninja ZX-6R use a moto em ruas e estradas, a apresentação para a imprensa brasileira foi na pista da Fazenda Capuava, no interior de São Paulo (SP). A meu ver o cenário ideal para conhecer as novidades e levar a superesportiva média ao limite.
Ao montar na moto, o assento mais estreito na junção com o tanque facilita apoiar os pés no chão e até parece estar mais baixo, mas a altura é a mesma de 830 mm. Assim como o triângulo de pilotagem, formado pelas pedaleiras, semi-guidões e banco. Uma posição até confortável se comparada a outras superesportivas. Há bom espaço para se movimentar sobre a moto e boa proteção aerodinâmica – pelo menos para pilotos de 1,70 m, como é meu caso.
Os quatro cilindros acordam facilmente e emitem o ronco que tanto encanta os fãs das esportivas. A nova ponteira, mais curta e triangular, é mais leve, já que a “marmita” foi deslocada para baixo do motor, centralizando as massas e ajudando no bom equilíbrio da ZX-6R.
Como uma boa superesportiva média, a Ninja 636 garante uma entrega de potência linear, mas sem assustar. Após as primeiras voltas comedidas para relembrar o traçado e se acostumar com os comandos da moto, era hora de “torcer o cabo” na reta principal. Os giros sobem rapidamente e o shift-light (a luz que indica a troca de marcha) começa a piscar. Estico até próximo dos 14.000 giros e aproveito o novo quick-shifter para subir as marchas de forma mais rápida sem acionar o manete de embreagem, que no modelo 2019 é ajustável.
Engato quarta, quinta marcha e o velocímetro marca 200 km/h antes da forte frenagem para uma curva de 180° ao final da reta. Os freios garantem resposta imediata, enquanto a nova embreagem assistida e deslizante evita que a roda traseira “pule” muito em reduções mais bruscas.
As suspensões com acerto da fábrica afundam um pouco antes da entrada de curva, mas a Ninja ZX-6R é dócil tanto no motor quanto na parte ciclística. Aponto para a entrada de curva e a curta distância entre-eixos – de 1.400 mm – permite deitar sem muito esforço. Os pneus, com calibragem mais baixa para o uso em pista e previamente aquecidos, demonstram boa aderência.
Na saída de curva, a resposta ao acelerador é suave, mas instantânea. A relação final mais curta e o bom torque em médios giros garantem que a ZX-6R não tenha a letargia nas retomadas das antigas motos de 600 cc. O controle de tração, selecionado no nível “1”, o menos intrusivo, dá a confiança para acelerar sem medo. Vale dizer que, apesar do ritmo mais esportivo, não senti o sistema atuar em nenhum momento. Há ainda os níveis “2”, indicado para as ruas, e o “3”, para pisos molhados. Também pode-se desligar o controle. De tão dócil, nem experimentei o modo “Low” de mapeamento do motor, que entrega 20% menos potência. Rodei todo o tempo com o motor no “Full” e os 137 cavalos a disposição.
Quando o assunto é motos superesportivas logo vem à cabeça dos motociclistas os modelos de 1.000 cc que oferecem cerca de 200 cv de potência máxima, eletrônica equivalente a motos de competição e com preços na casa dos R$ 70 mil. Muitos nem consideram os modelos de média capacidade como a Kawasaki Ninja ZX-6R. Mas vale destacar que, nos últimos anos, o segmento tem ficado um pouco esquecido pelas marcas.
Em função das normas Euro 4, Honda e Suzuki tiraram suas superesportivas de 600 cc de linha. A Yamaha renovou a YZF-R6 no exterior, mas nunca a vendeu oficialmente no Brasil. A Triumph deve mostrar ainda neste ano a nova Daytona 765 tricilíndrica para aumentar as opções no segmento.
A Kawasaki acertou em cheio em explorar esse nicho de mercado. Afinal, por enquanto, quem quer uma superesportiva, mas não se preocupa em exibir cilindrada, tem no modelo da marca japonesa a única opção no Brasil.
Com preço sugerido de R$ 49.990 e dois anos de garantia, a nova Kawasaki Ninja ZX-6R levanta uma dúvida: quem precisa de uma esportiva de 1.000 cc com 200 cv? A Ninja média tem ciclística ágil, potência suficiente para atingir velocidade acima do limite na estrada e o bastante para acelerar na pista, e eletrônica moderna para garantir uma rede de segurança para os pilotos amadores. E, o melhor, por um preço mais competitivo.