Foram tantas alterações na terceira geração da Honda PCX 150 que é mais fácil apontar o que permaneceu igual em relação à anterior: a suspensão dianteira. Só. E alguns parafusos, rolamentos, essas coisas. De resto mudou até as manetes de freio! Agora são três os modelos: PCX 150 (R$ 11.620), PCX 150 DLX e PCX 150 Sport (ambas R$ 12.990).
Graças a essa alteração estrutural e mais pneu mais largo na traseira, o resultado é realmente mais de conforto para piloto e garupa, sobretudo no piso castigado pela chuva de Manaus. Embora esse nível de percepção só vai ter quem já pilotou a versão anterior. Mesmo com pequenas mudanças de entreeixos, guidão e banco, a posição de pilotagem manteve-se a mesma, com as pernas apoiadas no piso em ângulo quase reto, braços levemente dobrados e coluna quase ereta. Outra característica dos scooters é serem veículos projetados para pequenos deslocamentos, condição típica da Europa e Ásia, mas aqui no Brasil as cidades são bem maiores e passa-se mais tempo pilotando, por isso é vital investir no conforto de rodagem, uma vez que as rodas de menor diâmetro (14 polegadas) já jogam contra neste quesito.
Durante a avaliação na pista de teste, em condições de segurança controlada, pudemos chegar à velocidade máxima de 105 km/h no piso úmido (não tente fazer isso em casa) e no final freamos com violência para testar o ABS de um canal (nem pense em fazer isso). A primeira boa impressão veio dos novos pneus Pirelli (100/80-14 na dianteira e 120/70-14 na traseira), que grudam no piso molhado e passam sensação de estabilidade. Na frenagem a roda dianteira realmente não travou, mas a traseira deu uma leve travada bem no final.
Aqui cabe mais uma explicação sobre scooters: diferentemente das motos, que têm o peso mais concentrado na roda dianteira, os scooters têm mais massa concentrada no eixo traseiro, por isso é muito difícil conseguir travar a roda traseira – no piso seco. Já no molhado o piloto precisa modular a frenagem porque pode sim travar. Nada que vá derrubar o scooterista, nem causar um enfarto, mas ficou difícil entender porque a Honda não adotou o ABS de dois canais, presente, por exemplo, no concorrente Yamaha NMax. Isso certamente será motivo de muita discussão nas redes sociais.
Na versão “básica” foi mantido o freio combinado (CBS) a disco na dianteira e tambor na traseira. Na prática, em modelos pequenos – e no piso seco –, o CBS mostra muita eficiência e segurança, principalmente nos scooters que têm uma dinâmica diferente da das motos. A opção pelo ABS tem muita influência do pessoal do marketing pela “contaminação” da indústria de automóveis.
Ainda na pista de teste foi possível avaliar as respostas do motor (monocilindro, quatro tempos) que é uma nova geração, pouca coisa mais potente, passando de 13,1 para 13,2 CV a 8.500 RPM e o torque que subiu de 1,36 para 1,38 Kgf.m a 5.000 RPM. Se alguém afirmar que sentiu diferença pode duvidar, porque é imperceptível aos seres humanos, só mesmo o dinamômetro percebe. Mas pode acreditar que esse “motorzinho” tem força para rodar na boa no trânsito urbano, porque empurra bem nas acelerações e retomadas de velocidade. Porém, nas estradas ele “grita” um pouco porque fica quase o tempo todo na rotação elevada e a velocidade máxima é limitada eletronicamente a cerca de 100 km/h (aferida). Scooters e motos pequenas não combinam com estradas.
Segundo pesquisas da Honda, 83% dos donos de PCX tem um carro na garagem, que acaba ficando esquecido e pouco rodado, porque a versatilidade de uso é a mais completa tradução do scooter. Normalmente quem procura um scooter se torna um defensor e fã do veículo a ponto de rodar mesmo na chuva e com bagagem. Um dos atributos é o porta-objetos sob o banco que comporta o capacete ou mesmo a compra só supermercado.
Outro argumento para esquecer o carro na garagem é o baixo consumo. Nesta avaliação não tivemos a chance de medir o consumo, mas segundo o Instituo Mauá de Engenharia, que faz as medições oficiais, no uso urbano, o PCX fez média de 47,5 km/litro e se misturar percurso urbano com estrada a média cai para 36,3 km/litro. De fato é para deixar o carro mofando na garagem!
Uma pesquisa do departamento de marketing da fábrica revela que 40% do usuário da PCX é feminino. Mas esse número pode chegar a 50% ainda em 2019. Um dos argumentos apresentados pela mulheres é a facilidade de pilotagem, graças ao câmbio CVT (por polia variável). Hoje no Brasil já existe uma geração de motorista (homens e mulheres) que nunca tiveram um carro com câmbio seletivo e sentem dificuldade para pilotar motos justamente por causa da troca de marchas. O scooter atende esse público, porque basta acelerar e frear. Aliás, outra característica dos scooters é um menor freio motor em relação às motos, por isso é preciso usar mais o freio e menos o motor nas reduções de velocidade.
Porém o item que primeiro aparece nas pesquisas sobre a escolha do scooter PCX é estilo e foi nisso que a linha 2019 investiu pesado. Foram criadas duas combinações de cores: na DLX foi usado tons claros com detalhes que lembram couro cru, para surfar na onda vintage, agradável ao gosto feminino. Já a Sport foi na linha das cores de carros de F-1 como prata e vermelho, visando os homens e jovens. E a PCX “standard” ficou na única versão azul total, sem detalhes.
Também foram aumentados os porta-trecos (totalizando 28 litros de capacidade) e num deles inserida uma tomada 12V para carregar celular ou GPS. Só não deu para entender a opção pela anacrônica tomada comum (tipo acendedor de cigarro), já que hoje a tomada USB domina até nas casas! A única explicação é ser um modelo vendido em vários países e cada um ter uma preferência de conector.
Durante a avaliação tivemos momentos de chuva e piso molhado e aí aparece outra vantagem do scooter em relação às motos. O escudo frontal protege os pés e as pernas. Neste PCX 2019 também foi mexido nas carenagens, que deixou um pouco mais largo e 1 mm mais baixo. Mal dá pra perceber e foi mesmo para acompanhar o novo desenho.
No pequeno percurso que rodamos foi possível atestar que de fato o PCX ganhou em conforto e segurança. Difícil avaliar a estabilidade em scooters, porque eles têm uma pequena distância do solo que limita bem a inclinação nas curvas. Também não são feitos para uma pilotagem esportiva. Mesmo assim, o que pudemos constatar foi que os pneus um pouco mais largos e baixos – com novo desenho – passam segurança mesmo com piso molhado.
O painel também foi totalmente alterado, agora com todos os mostradores digitais e até um mini computador de bordo que mostra o consumo médio e instantâneo. Mais um motivo para uma pilotagem pão-dura. E para completar, o PCX tem o sistema Idling Stop (comum em carros de luxo) que desliga o motor depois de três segundos em marcha lenta. Como apelo “verde” supera largamente os níveis de emissões de poluentes. Como economia de combustível é quase imperceptível. Mas a título de sugestão, para quem não conhece ou não está acostumado, é recomendável rodar incialmente com ele desligado. Depois sim, pode ligar, sobretudo no trânsito intenso.
Em suma, a linha 2019 do Honda PCX efetivamente ganhou em conforto e segurança e tem tudo para manter a liderança do mercado. Ainda como apelo de venda, a fábrica oferece três anos de garantia e sete trocar de óleo grátis.