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O que esperar do mercado de motos em 2023?

Vários lançamentos são esperados, claro, mas os números de 2022 também dão margem a surpresas e mudanças no cenário

por Roberto Dutra

O caro leitor viu o balanço do mercado brasileiro de motocicletas em 2022. Com dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), publicamos os volumes de vendas por fabricante no mercado de motos, bem como os rankings de mais vendidas no geral e por segmento.
Tais números mostraram algumas obviedades, como a liderança absoluta da Honda entre as marcas e a CG 160 como a moto mais vendida, disparada.
Mas também algumas surpresas, como a ainda desconhecida Mottu com 0,4% de participação no mercado geral, no acumulado do ano - e ocupando a 5ª colocação!

Esse posicionamento da Mottu é um pouco estranho. É que a marca vende apenas um modelo no país, a Sport 110, e somente para locadoras - não há lojas para o público.
Montadas em Manaus, as motos são originariamente da TVS indiana. Só que a TVS também aparece no ranking de vendas da Fenabrave - em 12º no acumulado do ano. Mas, curiosamente, não aparece no ranking de dezembro.
Talvez os números anteriores estivessem sobrepostos, mas o fato é que a Mottu emplacou mais de 2.500 motos em dezembro último - e com isso foi a 3ª marca mais vendida no último mês de 2022.

E o que dizer da Shineray, que fechou 2022 na terceira posição em participação, com quase 22 mil motos emplacadas?
Ou da Haojue, em quarto, mostrando boa recuperação em relação aos anos anteriores? Pois é, o mercado brasileiro de motos mudou bastante, e é isso o que vamos ver aqui, para saber o que podemos esperar em 2023.

Segmento de baixa cilindrada

No segmento de baixa cilindrada, disparado o que mais vende, o topo não mudou. A Honda CG 160 continua líder com folga, seguida por outros modelos da mesma marca e também da Yamaha.
Esta, aliás, viu sua participação no mercado passar de 16% - um número expressivo e até confortável para a eterna vice-líder.
No entanto, vimos também que a Shineray não é mais uma "marca chinesa com atuação isolada no Nordeste". Ainda que a maior parte de suas operações continue por lá - a sede da empresa e a linha de montagem ficam em Recife (PE) -, a marca já abriu lojas em São Paulo e pretende expandir suas operações.
Como já mostrou que sabe fazer negócio, é bom as concorrentes abrirem o olho, sob pena de perder importantes volumes de venda.

Além dela, a Haojue também mostrou alguma recuperação em relação a anos anteriores. Ainda que tenha poucas concessionárias - na prática, as compartilhadas com Suzuki e Kymco - a marca tem investido com força em motos de baixa cilindrada.
E a repercussão de seus modelos nos aspectos robustez e confiabilidade tem sido boa. Devido ao limitado número de revendas, que não deve crescer muito, a Haojue não vai explodir em vendas. Mas, se não errar pelo caminho, vai crescer um bocado.
Por fim, vale lembra que o mercado brasileiro tem lá sua excentricidades. Não há outra palavra para definir a marca Avelloz, que vende no país apenas um modelo - a motoneta AZ1. E, apenas com ela, foi a oitava em vendas em 2022, com mais de 7.700 emplacamentos.

Vamos às médias

Falamos aí em cima de Haojue e Kymco, marcas que são representadas no país pela JTZ Comércio de Motos. Pois muito em breve uma terceira marca também vai entrar nesse bolo: é a chinesa Zontes, cujas motos estarão nos mesmos showrooms. As operações devem começar ainda neste primeiro semestre com três modelos de média cilindrada - todas com o mesmo motor de 310 cm³.

E algo lógico: todo mundo viu a Royal Enfield entrar no segmento das médias custom/classic, que estava vazio, e se esbaldar. Primeiro com a Meteor 350, e depois com a Classic 350.
Aí, mais recentemente, veio a Bajaj com sua linha Dominar, com duas urbanas e uma adventure - que, não por acaso, tem motor de 400 cm³ e é a estrela da linha (as outras duas têm 160 cm³ e 200 cm³, e vão brigar mais abaixo).

O que isso mostra? Que o segmento de modelos com 300 cm³ a 400 cm³ vai crescer e se espalhar por diferentes estilos. Até a líder Honda se mexeu, transformando a Twister em uma 300. Nessa faixa já temos, também, dois bem-sucedidos modelos, as Yamaha MT-03 e R3, líderes em seus estilos naked e sport.
Então porque não tentar abiscoitar uma parte desse bolinho, mas com modelos diferentes para não bater de frente com as líderes? Um movimento estratégico inteligente e óbvio.

E as motos de alta cilindrada?

Bem, as motos de alta cilindrada respondem e vão continuar respondendo por uma ínfima parcela das vendas totais. Quem viaja muito de moto e frequenta, por exemplo, os encontros de motociclistas, pode achar que as vendas dessas motos são mais expressivas.
Mas não é bem assim. Para se ter uma ideia, os segmentos city/street, scooter/cub e trail/fun, quando somados, ocuparam 94% das vendas de motos no país em 2022. Enquanto isso, naked/roadster, maxitrail, custom, sport e touring, somadas, responderam por apenas 4,5%.

Isso quer dizer que, embora naturalmente tenhamos novidades em todos esses segmentos em 2023, elas serão poucas, caras e de nicho. É inviável para uma fabricante investir fortemente em uma custom grande, por exemplo: o segmento responde por 0,7% de todas as vendas de motos no país.
Mas provavelmente teremos novidades de Harley-Davidson, Triumph, Ducati e afins. Afinal de contas, essas motos vendem pouco em volume, mas são extremamente rentáveis unitariamente - a margem de lucro nas mais caras, por unidade, é superior à das motos pequenas, que são rentáveis no volume.

E há até relativas exceções: a BMW R 1.250 GS, por exemplo, foi a maxitrail mais vendida do país em 2022, à frente inclusive de concorrentes menores e mais baratas. Ou seja, dependendo do segmento e da proposta da moto, tamanho e preço não são documento.

Desempenho em 2022: análise rápida por segmento

City/street: a Honda CG 160 continuou líder e assim será por muito tempo, ainda.
Trail/fun: a NXR Bros 160 continuará líder porque tem enorme aceitação e a capacidade produtiva da Honda é gigantesca. Mas a Yamaha XTZ 150 Crosser conquistou um lugar ao sol e finalmente se consolidou com opção relevante. A Honda XRE 190 é ótima e vende bem, mas ainda não tem tanto prestígio, e a Yamaha XTZ 250 Lander deslanchou. A Honda XRE 300 ainda vende bem, mas precisa ser atualizada.
Maxtrail: a BMW R 1250 GS é a queridinha do segmento e mostrou, de novo, que custo-benefício, e não o preço absoluto, é o critério principal no segmento. Vendeu mais que concorrentes menores e mais baratas. A Triumph mantém boas vendas das Tiger, mesmo sofrendo assédio de concorrentes como Ducati Multistrada. A Honda CRF 1.100L Africa Twin ainda luta por um lugar ao sol.
Naked/roadster: aqui tudo como o esperado: a ótima e mais barata MT-03 na liderança, seguida de longe pela também ótima, porém mais cara, Honda CB 500F. Mais atrás, a Yamaha MT-07 dá sinais de cansaço - inclusive vendeu menos que a maior, mais cara e ainda atraente MT-09.
Sport: A Yamaha R3 liderou com certa folga e deixou para trás a Kawasaki Ninja 400, que de vez em quando a ultrapassava. A cobiçada BMW S 1000 RR mantém bons volumes e a Kawasaki ZX-6R está sempre entre as "cinco mais". Nada como o carisma e o nome "Ninja" na carenagem, não é?
Custom/classic: A Royal Enfield colheu os frutos da acertada estratégia de investir onde não havia nada - na faixa das 300/400cm³. Meteor e Classic venderam bem. A Kawasaki Vulcan 650 S, cada vez mais cara, resiste bravamente.
Touring: no segmento de "motos para ricos", onde há poucos modelos disponíveis e sempre com preços exorbitantes, a Harley-Davidson dominou com facilidade. As concorrentes são modelos de BMW e Honda, ainda mais caras.

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