A confirmação de que a Kawasaki Eliminator 450 será vendida no mercado brasileiro, feita pela marca japonesa durante o Festival Interlagos, não foi uma surpresa. Afinal, era algo já ventilado pela imprensa especializada. Mas, ao mesmo tempo, foi: é uma surpresa quando alguma marca inviste no segmento de motos custom por aqui - que responde por menos de 1% das vendas totais de motos no país -, ainda mais com modelos de médio porte e cilindrada.
Mas há uma estratégia por trás disso. Assim como algumas outras marcas, a Kawasaki já entendeu que não adianta lançar motocicletas para concorrer diretamente com as best-sellers de Honda e Yamaha no Brasil. Então a aposta certeira é atacar em nichos - de preferência onde as duas principais fabricantes do país não têm modelos - ou eventualmente têm, mas não investem muito.
A Kawasaki Eliminator 450 vai ocupar um espaço vazio no mercado brasileiro. Lá embaixo a briga é monomarca, com as Haojue Master Ride e Chopper Road, ambas 150, disputando a preferência no segmento de motos custom. Mais acima, a mesma coisa: as Royal Enfield Meteor e Classic, ambas 350, dividem o degrau imediatamente superior.
Nos dois casos, vale ressaltar, as marcas apostaram em nichos onde Honda e Yamaha não tinham nada. E não custa lembrar que, entre o fim deste ano e o primeiro bimestre de 2024, a própria Royal Enfield lançará no Brasil a Super Meteor 650. E ainda no mundo das especulações sem qualquer confirmação, a Haojue tem, lá fora, a custom TR 300, que também poderia ser vendida por aqui.
Assim, a Eliminator fará o mesmo caminho: será a opção imediatamente acima para quem vem das custom menores e mais baratas. Ainda é cedo para falarmos em preços. Mas certamente ela custará mais que as Royal Enfield Meteor e Classic 350, ambas na faixa dos R$ 20 mil a R$ 22 mil, e Super Meteor 650 que deverá vir por uns R$ 32 mil. E menos que a irmã maior Kawasaki Vulcan 650 S, que hoje bate na casa dos R$ 50 mil. Podemos esperar, então, um preço na faixa dos R$ 38 mil, pelo menos.
. Haojue Chopper Road 150 - R$ 13.686
. Haojue Master Ride 150 - R$ 16.155
. Haojue TR 300 - R$ 20 mil (meramente especulativo)
. Royal Enfield Classic 350 - R$ 20.890
. Royal Enfield Meteor 350 - R$ 21.790
. Royal Enfield Super Meteor 650 - R$ 32 mil (estimado)
. Kawasaki Eliminator - R$ 38 mil (estimado)
. Kawasaki Vulcan 650 S - R$ 50.350
. Acima disso: modelos Harley-Davidson, que começam em R$ 115 mil
A Kawasaki apostar na Eliminator faz sentido não só pela estratégia de atacar nichos. ´Muita gente talvez nem lembre, mas a marca tem certa tradição e história no Brasil quando o assunto é moto custom. Já vendeu por aqui os modelos Vulcan 500, 750, 800, 900, 1500 e 1600 em diferentes anos e versões.
A última leva foi da Vulcan 900, uma ótima moto em suas três versões vendidas por aqui - standard, LT e Classic -, que infelizmente não obteve bons resultados comerciais. Algo quase difícil de entender. Das outras Vulcan, mais antigas, sem dúvidas a 500 e a 800 foram as mais bem avaliadas por seus proprietários. Eram tempos de certa pujança no segmento custom - como não lembrar de Honda Shadow 600 e, depois 750, das Yamaha Virago 250, 535, 750 e 1100, e ainda das Suzuki Marauder 800 e Intruder 800 e 1400? Ah, bons tempos...
A Eliminator tem um pouco a ver com a Vulcan 650 S - que, por sua vez, ada tem a ver com toda as outras Vulcan mais antigas. Exceto a 500, que tinha motor bicilíndrico como a 650 S, todas as outras tinham moto V2. A Eliminator tem não só o motor bicilindrico, como um visual geral mais próximo do modernoso - assim como a 650 S -, que do estilo clássico das outras Vulcan.
Muita gente torce o nariz para isso, mas a Kawasaki está satisfeita: o gerente de produtos da Kawasaki do Brasil, Ricardo Suzuki (sim, o sobrenome é esse), me disse durante o festival Interlagos que a Vulcan 650 S "é o melhor produto" da marca no país em desempenho comercial. Pode não vender grandes volumes, mas mantém regularidade e ajuda muito a operação brasileira a ser rentável.
De fato, quando vemos os números de venda da Vulcan 650 S todo mês, no ranking da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos, (Fenabrave), o modelo sempre está lá, com volumes impressionantemente regulares. Faz todo sentido, então, apostar em uma "irmã menor", com o mesmo estilo, moderna e mais barata.
A Eliminator com motor de 450 cm³ é recente: foi apresentada no Osaka Motor Show, no Japão, em março, e lançada no Estados Unidos logo depois, em abril último. O motor é aquele bicilíndrico que conhecemos da Ninja 400 e da Z 400, mas com mudança na capacidade cúbica e, por tabela, potência e torque maiores.
Com seus dois cilindros em linha, oito válvulas e exatamente 451 cm³, entrega 52 cv de potência máxima e 4,3 kgf.m de torque - a Ninja 400 atual tem 48 cv e 3,9 kgf.m. A Eliminator ainda tem câmbio de seis marchas com secundária por corrente, freios com ABS, embreagem assistida deslizante, suspensão dianteira convencional com 11,9 cm de curso e traseira bichoque, com 8,9 cm de curso.
A iluminação é full-LED, e o farol redondo evoca as antigas Vulcan. O tanque leva 13 litros, e as rodas de liga leve calçam pneus nas medidas 130/70 R18 e 150/80 R16.
O painel digital também redondo. É minimalista, mas completinho e pode ser pareado ao smartphone do piloto via aplicativo próprio para exibir suas informações - inclusive a telemetria do percurso realizado.
A Eliminator é uma moto de bom porte. Tem 1,25 m de comprimento e 1,51 m de distância entre-eixos. Ou seja, não é uma custom de alta cilindrada, mas permitirá diversão em boa medida e algum "desfile". E como a distância do banco ao solo é de 73,4 cm e o peso a seco é de 175 quilos, não será difícil de pilotar - mesmo por pessoas de baixa estatura. Só resta, de fato, a Kawasaki acertar no preço.