Quando falamos de motos trail para uso urbano, os modelos que vêm à cabeça imediatamente são as best-sellers Honda NXR 160 Bros e Yamaha XTZ 150 Crosser. E pouca gente lembra da Honda XRE 190.
Sim, Bros e Crosser são excelentes - econômicas, confiáveis, robustas, e com custos de compra, posse e manutenção baixos. Mas a XRE 190 merece bem mais atenção do que tem recebido do mercado, que costuma compará-la mais frequentemente com a irmã maior XRE 300 (talvez pelo nome "XRE"), e parece não perceber que ela encosta, mesmo, na irmã menor e em sua rival direta.
Quando notamos essa proximidade, vemos que sua relação custo-benefício é muito atraente. A XRE 190 custa, atualmente, R$ 20.060. A Bros sai por R$ 17.960 e a Crosser, por R$ 18.990 na versão "S" - que, como a XRE, tem para-lama dianteiro rente ao pneu (na versão "Z", que custa R$ 20.112, a peça é mais alta, justamente como na Bros).
Em relação à Bros, a XRE 190 tem visual mais bacana e sofisticado, banco melhor, painel mais completo e bonito e, ainda, ABS - a caçula só tem CBS. Só essas características já justificariam seu preço (pouca coisa) mais alto e o investimento. A Crosser, por sua vez, até tem ABS, mas o painel e o design são mais simples (e a moto da Yamaha ainda tem aquele farol esquisito...).
A XRE 190 também é um pouco mais forte que a Bros. É pouca coisa, mas faz diferença no uso urbano. Os motores das duas, ambos monocilíndricos flex e refrigerados a ar, são quase iguais. O diâmetro interno muda, e o curso é praticamente idêntico: 57,3 mm x 63,0 mm na Bros 160 e 61,0 mm x 63,1 mm na XRE 190.
Na Bros, são 14,7 cv de potência a 8.500 rpm e 1,6 kgf.m de torque a 5.500 rpm. A XRE é pouca coisa mais potente, mas tem o mesmo torque - só que este chega um pouco mais tarde - 16,4 cv a 8.500 rpm e 1,6 kgf.m a 6.000 rpm (todos os números com uso de etanol). Isso dá mais elasticidade à moto. Já a Yamaha Crosser tem 12,4 cv, 1,3 kgf.m.
Bros e XRE têm muitas especificações iguais, é fato, até porque as duas compartilham componentes. Caso dos pneus 90/90 R19 na frente e 110/90 R17 atrás, por exemplo. E também há vantagens para um lado - o tanque da XRE, para 13,5 litros, é 1,5 litro maior que o da Bros - e para o outro - com 122 quilos, a Bros é 5 quilos mais leve. Na Crosser, tanque leva para 12 litros e o peso a seco é de 124 quilos.
Muita gente deve se perguntar por que pagar R$ 1.500 a mais em uma XRE 190 para levar um conjunto "quase igual" ao da Bros. Pois não é tão igual assim. Além de mais vistosa, confortável e bem-acabada, há também o "feeling", a experiência na pilotagem.
Passei uma semana em São Paulo andando pra lá e pra cá com uma XRE 190. A sensação de pilotá-la foi imensamente mais prazerosa do que me proporcionaram Bros e , com menor distância, Crosser. Estas duas são eficientes e atendem às suas propostas, mas é inegável que ao pilotá-las, a sensação de se estar em uma moto de baixa cilindrada é absolutamente evidente, com todas as limitações inerentes.
Na XRE 190, a impressão é outra. Ainda é uma moto de baixa cilindrada, mas o desempenho e - principalmente - a segurança são superiores. Sem falar no prazer de estar em uma moto mais confortável e visualmente agradável, inclusive na hora de consultar o painel inegavelmente mais completo e requintado.
Admito que, devido ao investimento menor, Bros e Crosser são uma opção mais atraente para quem compra uma trail urbana para usar no trabalho diário - como nossos amigos motociclistas que atuam em delivery. Mas para quem busca uma moto do segmento para uso como transporte diário ou como veículo de lazer, a XRE 190 sem dúvida é uma opção muitíssimo melhor. Além disso, é o degrau perfeito para quem vem dos modelos de 125/150/160 cm³.
Na semana em que usei a moto não encontrei nenhum aspecto gravemente negativo. Sim, os espelhos poderiam ter hastes mais compridas e as pedaleiras poderiam ser mais largas. Mas a moto apresentou desempenho muito satisfatório, versatilidade, conforto razoável, frenagens seguras e praticidades como os ganchos no bagageiro traseiro para prender a redinha. Isso tudo sem a sensação de estar pilotando uma "magrela". É o melhor que se pode esperar de uma trail urbana.