O caro leitor viu aqui no WM1, há alguns dias, que a Royal Enfield terá uma segunda linha de montagem Completely Knock-Down (CKD) no Brasil. Será em parceria com o Grupo Multi (antiga Multilaser), e deverá entrar em operação em janeiro do ano que vem.
O objetivo, claro, é aumentar o volume de produção da marca no país. E, além disso, abrir espaço para a montagem local dos próximos lançamentos da Royal Enfield por aqui, que estão previstos para até o final do atual ano fiscal, em março de 2025.
Até, lá, a Royal Enfield deverá lançar no mercado brasileiro os modelos Himalayan 450 e Shotgun 650. E, na sequência, já no ano fiscal 2025-2026, chegarão os modelos Guerrilla 450, Classic 650 e Bear 650.
Atualmente a Royal Enfield monta em Manaus (AM) os modelos Himalayan 411, Scram 411, Meteor 350, Classic 350, Hunter 350, Interceptor 650, Continental GT 650 e Super Meteor 650. Todas em uma linha de montagem em parceria com a Dafra - na prática, as motos são montadas por equipes da Royal Enfield dentro da fábrica da Dafra. É uma espécie de "aluguel" de espaço.
CKD é a sigla em inglês para Completely Knock-Down, que significa "completamente desmontado". Ou seja, as motos vêm completamente desmontadas da Índia para cá, em kits, e aqui são montadas. Então, na prática, não são fabricadas aqui - apenas montadas.
As únicas marcas que efetivamente fabricam motos no Brasil são Honda e Yamaha, que têm parques industriais grandes - o da Honda é gigantesco. E, nessas estruturas, fazem inclusive soldagem de chassis, pintura e estamparias, atividades que caracterizam, de fato, a fabricação local.
As marcas montam as motos no sistema CKD porque, somente assim, conseguem ter preço competitivo no mercado brasileiro. E, sendo no Pólo Industrial de Manaus (PIM), têm isenções tributárias específicas - o que também a ajuda a reduzir o preço final.
A Shineray, por exemplo, que monta suas motos no Complexo de Suape, perto de Recife (PE), não tem essas isenções do PIM. Mas seus modelos têm preços acessíveis porque, já na origem, lá na China, são muito baratas.
Vale ressaltar que, se fossem importadas diretamente, prontas, as motos que são montadas em Manaus (AM) custariam, ao consumidor final, pelo menos 30% a mais.
O mesmo sistema de CKD é usado por outras marcas, como Harley-Davidson, Triumph, Ducati, Kawasaki, Suzuki, Haojue e BMW. Nenhuma delas, de fato, fabrica motos no Brasil - apenas montam.
Esse sistema, inclusive, engloba uma logística basatnte complicada. Isso porque as peças chegam pelos portos - de Santos (SP) ou Paranaguá (PR), por exemplo -, depois "viajam" por via terrestre até Belém (PA) e de lá vão por via fluvial, em balsas, até Manaus (AM).
Aí chegam às linhas de montagem. Depois disso, as motos são montadas e acabam fazendo o trajeto inverso - descem em balsas até Belém (PA), de onde são distribuídas para as concessionárias de cada marca em todo o país. Com frequência o processo é atrapalhado por condições climáticas, como secas nos rios.
Sim, é uma logística exótica e complicada e, por isso mesmo, cara. Mas é assim no Brasil há décadas, onde - também há décadas -, as "soluções" parecem feitas para complicar, e não simplificar.
Algumas fabricantes de automóveis também usam o sistema CKD de montagem, com kits que vêm de fora e são montados no país. Mas não há essa dependência de fazer a montagem em Manaus (AM). Os carros da Mitsubishi e da Suzuki, por exemplo, são montados na cidade de Catalão (GO).
Algumas marcas também usam um outro sistema, batizado de Semi Knock-Down (SKD). Neste, algumas partes são pré-montadas em seus países de origem, e depois enviados ao destino. É o caso da fábrica da Land Rover em Resende, que recebe as carrocerias completas e já pintadas e, lá, agrega os conjuntos mecânicos.
Por fim, existe o sistema Completely Built Unit (CBU), que é quando o veículo chega pronto ao país. É um nome diferente para "importado". Nesse caso, não há nenhum processo local de montagem. O que muda, basicamente, é o imposto de importação. Quando o veículo vem de país com o qual o Brasil tem acordo bilateral - caso do México, por exemplo -, não paga imposto de importação.
Em outros casos, a taxa de importação pode chegar a 35% do valor do veículo - no caso de carros de passeio com motores a gasolina (a importação destes movidos a diesel é proibida desde 1976).
Por fim, vale lembrar que, desde 1º de julho de 2024, o imposto de importação para veículos elétricos e híbridos no Brasil passou a ser de 18% para carros totalmente elétricos, 20% para híbridos plug-in e 25% para modelos híbridos.
A carga tributária total sobre a importação de um carro no Brasil pode chegar perto de 70%, dependendo de diversos fatores, como motorização, número de passageiros e tipo de veículo. Isso porque inclui taxas aduaneiras e outros impostos, como ICMS, IPI e Cofins.
No entanto, eventualmente é possível reduzir os impactos por meio de alguns incentivos fiscais, como o ICMS reduzido em alguns estados. De toda forma, a carga tributária é, sem dúvida, o principal motivos para os preços estratosféricos dos veículos importados para o Brasil.
Para fins de comparação, nos Estados Unidos os impostos sobre carros importados ficam entre 6% e 7,5%, e no Chile e na Argentina são de 19% e 21%, respectivamente. Pois é.