O scooter XMax 250 foi mostrado no Salão Duas Rodas de São Paulo, em novembro no ano passado, e logo depois a Yamaha abriu sua pré-venda via site. O ano virou e tudo caminhava bem, mas a pandemia do novo coronavírus atrapalhou a logística da marca - assim como de todas as outras.
Com fábricas no mundo inteiro e no Brasil parando, a montagem do modelo em Manaus - que usa muitas peças importadas - foi interrompida. Assim, o cronograma de vendas dos lotes atrasou e os reflexos são sentidos até agora.
Quem entra no site da Yamaha do Brasil pode fazer a compra online, mas tem de se cadastrar, esperar para ser informado de que as pré-reservas do próximo lote foram abertas, dar a sorte de conseguir fechar o negócio com um sinal de R$ 2 mil - e esperar pelo menos 30 dias pelo brinquedo novo. Segundo nos informou uma concessionária, em setembro não houve essa abertura de cadastro, mas em outubro haverá.
Por enquanto, ainda é um drama conseguir comprar um XMax 250. Isso pode levar o comprador mais apressado a escolher outro modelo ou marca, que tenha pronta-entrega. Então, aconselhamos a ter paciência e esperar: o modelo da Yamaha vale cada dia de espera. Fizemos um test-ride severo com o scooter e descobrimos um conjunto realmente impressionante.
Antes mesmo de partir, o Yamaha XMax começa a me seduzir. Tem chave presencial: você não engata no miolo de ignição, apenas a leva no bolso e a proximidade libera a ativação do motor. Faróis e lanterna são de LED, há dois porta-objetos no escudo frontal (um tem tomada 12V), o espaço sob o banco comporta facilmente um capacete e uma mochila, o acabamento geral é caprichado e o painel, completíssimo e bonito.
A propósito, que scooter bonito! A frente é invocada, mas sem exageros, a traseira tem algo de futurista e o para-brisa é discreto. O banco com duas alturas facilita a visão periférica do garupa e as rodas de 15 polegadas na frente e 14 polegadas atrás lhe dão um porte vistoso. Pra completar, tem cores bacanas - e a combinação do "nosso", preto fosco com detalhes dourados, é matadora.
Me aboleto no banco e encontro uma posição de pilotagem muito cômoda, com braços e pernas posicionados naturalmente. Não é preciso esticar ou encolher nada. O banco é mais macio do que anatômico, mas mesmo nesse quesito não deixa a desejar. Hora de acelerar.
Nosso roteiro é o mesmo que fizemos recentemente com a MT-03, cuja avaliação já publicamos aqui na WebMotors. Inclusive, agora também acompanhamos vários colegas jornalistas que vão em um ride com a pequena naked. Saída de São Paulo, Rodovia Castello Branco, Estrada dos Romeiros e retorno pela Bandeirantes. Coisa de uns 140km.
Minha principal referência em relação a scooters é minha coluna: nunca andei em um que não me causasse dor nas costas depois de no máximo uns 40 quilômetros rodados - tanto pelas suspensões, habitualmente rígidas e de curso curto, quanto pelos bancos inexplicavelmente duros. É com essa expectativa que começo o roteiro.
Ainda dentro de São Paulo o XMax não encontra muitas dificuldades para se desvencilhar dos carros no trânsito pesadinho. Naturalmente, não tem a mesma desenvoltura do irmão caçula NMax 160, mas vai muito bem. É bom de esterço, ágil e parece pesar menos que seus 179 quilos (em ordem de marcha). Porém, sofre ao passar sobre asfalto malhado e buraqueira - e o piloto sofre junto. Definitivamente scooters são para ruas civilizadas.
Apesar das patinadas naturais e inerentes a scooters que usam câmbio CVT, as respostas são firmes e rápidas. Acompanho as motos sem qualquer problema e, ao entrar na Marginal Pinheiros, o XMax começa a me impressionar pela disposição. Como será esse bicho na estrada, onde scooters sofrem com a falta de velocidade, gritam, vibram e eventualmente balançam por causa de suas limitações aerodinâmicas?
Pois é, não vi nada disso nesse motor monocilíndrico de 250 cm³, quatro válvulas e refrigeração líquida. Os números de potência e torque - 22,8 cv a 7.000 rpm e 2,5 kgf.m a 5.500 rpm - não impressionam no papel, mas na pista é outra conversa: são muito bem aproveitados!
As respostas vêm tão rapidamente quanto o scooter na estrada: logo estamos ali entre os 100/120 km/h permitidos em cada trecho e o XMax acelera como se não houvesse amanhã. Não grita, não vibra e só balança muito de vez em quando. Mesmo assim, pouco - a maior parte do tempo parece estar rodando sobre trilhos, tamanha sua estabilidade.
A sensação de segurança é incrementada pela frenagem excepcional - temos ABS - e pelo controle de tração na roda traseira, para evitar patinadas. Um luxo!
A melhor notícia é que olho no painel e já superamos a distância-limite de 40km e minhas costas não dão qualquer sinal de sofrimento. O curso das suspensões é curto como de hábito nos scooters (11 cm na frente e 9,2 cm, atrás), mas a calibragem com sintonia fina entre rigidez e maciez e o ótimo banco fazem um mundo de diferença. Seguimos pela rodovia acompanhando de perto as MT-03 e, pela primeira vez na minha vida, é realmente um prazer viajar em um scooter.
Já na sinuosa Estrada dos Romeiros é hora de brincar de fazer curva. Mais uma vez este Yamaha se sai bem, mas exige cuidado constante para não raspar suas partes baixas no asfalto, o que acontece com alguma facilidade. Na parada para o lanche, divirto-me ao perceber que a turma que está de MT-03 chegou mais cansada do que eu, de XMax. Não quero trocar, não...
Começamos o retorno e o XMax segue lépido e fagueiro, sempre na cola da MT-03. Claro que, em boa parte, devido às limitações legais de velocidade - naturalmente as naked têm final superior. Mas quando você chega aos 120km/h com acelerador de sobra, percebe que está em um scooter diferente. Tal volúpia chega a me lembrar o Yamaha TMax 530 - que pilotei muitos anos atrás e é uma espécie de "Fórmula Um" dos scooters.
A dificuldade, aqui, é enxergar para trás: os retrovisores do XMax têm desenho modernoso e haste curta, e pouco mais se vê além dos próprios cotovelos. São os mesmos da MT-03 e de outros modelos Yamaha, e em quase todos existe a mesma limitação. Entender como se abre o banco e as porta-luvas pelo botão giratório no escudo é outro incômodo, mas um cursinho rápido resolve.
Chegamos ao fim do nosso test-ride com um consumo de 27,8 km/l. Sob condução menos severa, certamente esse número melhora. Como tem um tanque para 13,2 litros de gasolina, podemos estimar uma ótima autonomia - de no mínimo 360 quilômetros!
Por fim, voltemos à principal referência de avaliação: minha coluna. Ela está lá, intacta e sem dores. Também por isso, mas principalmente por isso, posso afirmar com segurança que o Yamaha XMax 250 é o melhor scooter que já pilotei na vida.