Uma pequena vietnamita contra um gigante americano

A fabricante de carros elétricos Vinfast apareceu para o mercado global em 2022 querendo ser uma futura pedra no sapato da Tesla americana. Subsidiária do Vingroup, maior conglomerado do Vietnã, a montadora deu seus primeiros passos rumo à produção de automóveis em 2016.

No início, a trajetória meteórica da montadora mirava apenas seu mercado local. Dois anos depois da fundação, a marca atingiu seu objetivo de ter uma fábrica no país asiático e, de quebra, mostrou suas duas primeiras "obras": um sedã, o LUX A2.0, e um SUV, chamado de LUX SA2.0.

Com design italiano, mecânica alemã e produção local, os modelos começaram a ser vendidos no Vietnã ainda em 2018 e foram apresentados mundialmente no Salão de Paris daquele ano. A dupla, ainda equipada com motores a combustão, mostrava potencial, mas acabou não durando muito.

Em 2021, a Vinfast abandonou completamente os motores convencionais, o que culminou no fim da linha LUX e no nascimento dos modelos elétricos VF. De uma só vez, a marca apresentou quatro modelos: VF6, VF7, VF8 e VF9, todos equipados com o "conjunto verde". Os carros também ofereciam como diferencial seu design assinado pelo tradicional estúdio italiano Pininfarina.

A chegada da cavalaria elétrica também revelou os planos da montadora de se expandir para os mercados norte-americano e europeu. Os Estados Unidos eram o principal foco, onde a marca encontrava na gigante Tesla, de Elon Musk, seu maior exemplo e rival.

Fábrica nos Estados Unidos

O desejo se tornou oficial em 2022, quando a Vinfast anunciou um plano de investimento agressivo da ordem de 2 bilhões de dólares. Com esse valor, a marca prometeu construir uma fábrica até 2025 (antes era 2024, mas os planos foram adiados por problemas internos).

A planta que vem sendo levantada na Carolina do Norte abrigará a produção dos quatro SUVs elétricos já anunciados. Outra parte da estratégia envolve a abertura de 30 concessionárias no principal mercado da Costa Oeste americana, a Califórnia, onde a Tesla tem grande espaço.

Até o momento, 13 dessas lojas já foram abertas e receberam pedidos de compradores. O problema é que a situação atual do mercado norte-americano não é boa para a montadora vietnamita.

Somente nos últimos 20 dias, foram pelo menos três revezes. O primeiro deles veio junto com o lançamento do VF8. Primeiro carro com estoque à venda no país, o modelo tem dois motores elétricos capazes de render até 407 cv, tração integral e autonomia para rodar por até 425 quilômetros. O desempenho é forte: zero a 100 km/h em 5,5 segundos!

Apesar dos números, o SUV não convenceu a opinião da mídia especializada local. Pelo contrário, o SUV foi detonado pela maioria dos veículos de comunicação que tiveram acesso antecipado para testes e avaliações.

Um dos casos que chamou a atenção foi o do jornalista Mack Hogan, profissional da revista Road & Track, que conta ter tido enjoos ao dirigir o modelo da Vinfast. O desconforto teria sido causado pela calibração da suspensão do modelo. Em outra avaliação, o carro de testes teria quebrado duas vezes.

E ainda foi feito um recall...

Além das opiniões, uma campanha de recall que envolve todo o primeiro lote de 999 unidades do VF8 também atrapalhou os planos de avanço. Desse total, apenas 299 unidades haviam sido entregues a proprietários e empresas de locação. O restante ainda estava nos estoques da montadora.

O reparo em questão envolvia a correção de problemas no sistema do multimídia. Segundo a montadora, a central se apagava aleatoriamente, escondendo parâmetros de condução do veículo. A falha gerou uma série de reclamações de proprietários aos órgãos de fiscalização.

O último problema tem a ver com a chegada oficial dos carros da montadora ao mercado europeu. A estreia, prevista inicialmente para o fim do ano passado, e depois para o primeiro trimestre, ainda não aconteceu.

A Vinfast pode até chegar a ser uma pedra no sapato da Tesla um dia, mas o momento atual não ajuda a enxergar esse futuro. O dinheiro sem fim da Vingroup pode ser a carga extra que a marca precisa para superar essas milhas adicionadas ao percurso. Só o tempo irá dizer.