Hoje falamos um pouco sobre a história do Dodge Dart/Charger dos anos 1960/1970, um dos carros mais desejados para quem é fã de muscle cars e que também foi tema da coluna passada, quando noticiamos que o modelo deve passar a ser totalmente elétrico a partir de 2024, o que prova de fato o tamanho de sua versatilidade, já que ele nasceu como compacto, virou médio e depois grande.
"Muscle Culture" é a coluna de André Deliberato (@andredeliberato no Twitter e no Instagram) no WM1, portal de notícias da Webmotors, que traz curiosidades, notícias e informações sobre uma das mais tradicionais filosofias de carros norte-americanas dos anos 1960 e 1970, mundialmente conhecida e representada pelos belíssimos muscle cars.
Antes de falarmos um pouco sobre a história desse ícone, vamos explicar o por quê deste modelo ser chamado por nomes diferentes no Brasil e nos Estados Unidos - por aqui era conhecido como Dart e sua versão mais forte tinha o sobrenome "Charger R/T", enquanto lá fora o próprio nome do veículo era Charger. Mas o que explica isso?
Na verdade, como fazem fãs de Porsche 911 - que identificam e classificam as variantes do esportivo pelo código de sua geração, como 991, 992, 993 e 997, por exemplo -, o Dart e o Charger seguem preceito parecido. O Dart foi um carro grande nascido em 1960 que se tornou médio em 1962 e precisou virar compacto em 1963 para concorrer com modelos de menor custo de produção.
Charger, veja só, era o sobrenome de uma de suas versões - a mais esportiva, diga-se - que se tornou "nome" devido ao fato de que os fãs do carro chamavam-na diretamente assim - em uma analogia atual, algo como o que a Renault fez recentemente com a dupla Sandero e Sandero Stepway (hoje chamado só de Stepway).
Isso posto, vamos à história. Em outubro de 1969 a Chrysler resolveu lançá-lo no Brasil, com produção em São Bernardo do Campo (SP), já como linha 1970, para rivalizar com o Opala e outros modelos. Nascia, ali, o carro que até hoje detém o rótulo de ter o maior motor - medido em cilindradas cúbicas - feito no país, um V8 de 5.212 cm³ e 312 polegadas capaz de render 198 cv e 41,5 kgf.m a 2.400 rpm.
Chamado pela fabricante de LA e posteriormente de Magnum, esse motor é, até hoje, o recordista em cilindrada para um propulsor fabricado no Brasil em carros de passeio.
O Dodge Dart nacional vinha também, inicialmente, com câmbio manual de três marchas em que a alavanca era posicionada na coluna de direção - isso permitia colocar um banco inteiriço na frente, para três pessoas, o que totalizava espaço para seis ocupantes, três na frente e outros três atrás.
Nos Estados Unidos, onde havia outro Dart - lá ele era carro de entrada, enquanto o Charger era um modelo mais esportivo e recheado de tecnologias -, a trinca Dart, Charger e até o Challenger fez muito sucesso. No Brasil, o Dart não teve a companhia do Challenger - com exceção, claro, de alguns modelos que vieram por importação independente - e contou com ajuda da versão Charger para ir bem. E foi.
Seus diferenciais eram o quadro de instrumentos com hodômetro total e parcial, relógio elétrico e, veja só, indicador de pressão do óleo, carga da bateria, nível do combustível e temperatura do motor. Material de divulgação da Chrysler da época destacava até a luz do contorno do miolo da ignição, que ficava acesa por 20 s, após abertura da porta, para ajudar o motorista a inserir a chave no escuro.
A primeira linha, que estreou em 1969 como linha 1970, era de sedãs. Depois, no ano do tri da Copa do Mundo, como linha 1971, a marca apresentou a versão cupê de duas portas, que tinha um estilo visual mais arrojado e vinha sem as colunas centrais, substituídas por peças traseiras mais inclinadas.
Foi justamente a carroceria do Dart Coupé que deu origem ao Charger brasileiro, esportivos, que eram chamados de Charger LS e R/T - ou Dodge Dart Charger LS e R/T, seguindo o nome no documento. Para ficar mais fácil, foi exatamente em 1971 que os modelos se "separaram", o que possibilitou que pudessem nascer Dart e Charger nacionais, embora este segundo, no Brasil, tenha nascido do primeiro.
Nesse ano também o sistema de direção hidráulica e uma caixa de câmbio automática entravam no catálogo dos esportivos como item opcional. O Charger era mais forte: seu V8 conseguia atingir 215 cv.
Em 1973 veio o primeiro facelift do Dart, que vendeu muito: segundo dados históricos e da Chrysler, hoje parte do grupo Stellantis, foram mais de 18 mil unidades vendidas naquele ano. Nasciam para a família Dart, também, dois novos nomes de versões, que passaram a ser bastante refinadas: Gran Coupé e Gran Sedan. Neste momento, o Charger já era quase "outro carro" e LS e R/T eram as versões.
Durante toda a década de 1970, o sucesso do modelo foi grande - e isso foi justamente o que fez com que o carro ganhasse fãs e se tornasse um dos Dodge mais desejados e queridos de todo o mundo. Mudanças só foram acontecer no final da década, quando as versões mais caras do carro (Magnum, de duas portas; Le Baron, de quatro portas; e, veja só, Charger!) ganharam reestilizações visuais.
A história do Dart/Charger no Brasil durou até 1981, quando a Chrysler foi comprada pela Volks, que encerrou as atividades da Dodge. Ao todo, durante os 12 anos de fabricação, de 1969 a 1981, foram 93.008 unidades produzidas. Um desses hoje, em perfeito estado de conservação, pode sequer ter valor estimado pelo dono.
No final da década de 1970, ele também foi estrela de TV: uma versão Charger na carroceria de cupê, em tom laranja, foi o carro dos primos Bo e Luke, que o apelidaram de "General Lee". "Os Gatões" foi o nome da série que fez sucesso na televisão brasileira e depois foi para os cinemas -virou filme em 2005 -, quando o carro voltou a saltar de distâncias absurdas durante fugas da polícia nos roteiros.
Evoluções e um ponto triste. A evolução do Dart General Lee foi o fato de ele ter deixado de lado a bandeira da confederação que tinha no teto durante as gravações da série, que trazia alguns conceitos preconceituosos. A nota triste é a quantidade de carros que foram desperdiçados durante as gravações - segundo os fãs, mais de 200 unidades.