A transição dos veículos de motor a combustão para os elétricos a bateria continua a desafiar diversas empresas de consultoria especializadas ao redor do mundo. Da visão conservadora ao grupo de moderadas e também às otimistas, as previsões atingem um grau de volatilidade proporcional à complexidade do tema. Confira a Coluna do Calmon completa.
Basta um exemplo. Poucos dias atrás, a consultoria Gartner previu que, até 2027, os veículos elétricos terão custo de produção menor que o dos modelos de motor a combustão, sem contar o valor da bateria - que ainda responde por cerca de 40% do preço final ao consumidor.
Isso graças aos recentes avanços na manufatura puxados pela Tesla com suas gigaprensas, que substituem as tradicionais e diminuem o número de robôs de armação e de soldagem.
No entanto, isso pode aumentar de forma severa os custos de reparos mesmo em pequenos acidentes, o que levaria as companhias seguradoras a puxar seus preços para cima. A Gartner também previu dificuldades para startups especializadas em elétricos. Afinal, já como minha opinião, é relativamente fácil produzir novos modelos a partir de um motor elétrico de “prateleira”, que embora dispense caixa de câmbio, não prescinde de redutor e diferencial.
Alguns desses iniciantes ficaram pelo caminho, como Lordsown Motors e Proterra. A Fisker, que já “quebrou” uma vez, está novamente em dificuldades. A promissora Rivian sofreu uma queda severa e repentina de vendas: cortou a produção pela metade, mas ainda segurou os empregos.
A Bright, que reúne uma equipe muito experiente de consultores brasileiros, acaba de apresentar um cenário bastante interessante para 2030. Reflexo de estudos aprofundados e precisos do que realmente pode acontecer, entre fabricantes de veículos e autopeças, concessionárias, mobilidade como serviço (assinaturas e locações), além de processos de reciclagem.
As três categorias de híbridos somadas – básicos (32,5%), plenos (10,4%) e plugáveis (5,6%) – dominariam as vendas de veículos leves com 48,5% do total, daqui a seis anos. Elétricos ficariam apenas com 9,8% e os motores a combustão com os restantes 41,7%. Mais abaixo estão informados os percentuais atuais de mercado.
Desse trabalho de fôlego da consultoria, vale destacar algumas de suas conclusões:
Mesmo com os feriados do Carnaval e o mês passado tendo menos dias úteis, a produção (189,7 mil unidades), a média diária de vendas (8,7 mil unidades) e as exportações apresentaram resultados surpreendentemente positivos para a indústria automobilística em relação a janeiro deste ano. Os crescimentos percentuais foram vistosos: + 24,3%; + 18,4% e + 62,7%, respectivamente.
No acumulado do primeiro bimestre, em comparação ao mesmo período de 2023, os números também foram bons: + 8,9% e + 19,8%, respectivamente. Só as exportações continuaram fracas, com queda de 28%. Esses resultados positivos refletem um início de ano muito difícil em 2023 e, sob esse prisma, devem ser aguardados os próximos meses.
Os estoques se mantiveram estáveis em 38 dias nos dois primeiros meses de 2024. A queda dos juros de financiamento, tendo a taxa Selic como referência, ajudará a recuperação do mercado este ano. Porém, ao mesmo tempo, o recuo dos juros será lento e isso pode adiar a decisão de compra.
Marcio Leite, presidente da Anfavea, chamou atenção para necessidade de novos testes de durabilidade para avalizar o aumento da mistura de etanol de 27% para até 35%. E, muito mais grave, no caso do biodiesel de 14% para 20% ou 25% (em 2031). Ambas as adições estão em pauta no Conselho Nacional de Política Energética.
Veículos elétricos e híbridos tiveram recuo na participação de mercado, de 7,9% para 6,7% em fevereiro, nas vendas de automóveis e comerciais leves. Especificamente os elétricos puros ficaram, no mês passado, com apenas 2,3% das preferências. Híbridos plugáveis, com 2,1%; híbridos, com 2,3 %; gasolina, com 4,6%; diesel, com 10,5%; e flex, com 78,2%.
Enquanto os carros elétricos avançam na China e Europa (a um ritmo menor nos EUA), embora com tropeços recentes e que lançam algumas dúvidas sobre curto e médio prazos, há uma solução intermediária que se tem mostrado válida para quem quer viajar sem preocupações.
O híbrido plugável permite rodar em cidade, sem emitir CO2 e poluentes, e afasta o incômodo de planejar uma viagem com longas paradas sujeitas à demora natural para carregar a bateria. Além disso, podem acontecer atrasos se há motoristas à espera de sua vez ou atos de vandalismo que danificam os cabos de conexão já relatados em filmes na internet.
No Brasil, atualmente, híbridos desse tipo (PHEV, na sigla em inglês) dividem as preferências dos compradores de veículos com os modelos elétricos a bateria (BEV). Aliás, o equilíbrio se mantém ao incluir os apenas híbridos (HEV). No mês passado, por exemplo, os modelos PHEV representaram 33,5% das vendas nacionais, os BEV entraram com 34,7% e os HEV, com 31,6%.
Um exemplo de PHEV adequado às condições brasileiras de uso é o Audi Q5 55 TFSIe quattro. Seu visual imponente destaca-se e o que mais chama atenção é a flexibilidade permitida pelo conjunto motriz. Ao motor a gasolina turbo, 2 litros de 252 cv/37,7 kgf.m, se junta um elétrico de 143 cv/35,5 kgf·m acoplado ao câmbio automatizado de duas embreagens e sete marchas. No total são 367 cv e torque combinado de 50,5 kgf.m.
O SUV tem tração dianteira, mas em certas condições pode ser 4x4 ou só tração traseira, tudo feito de forma automática. O alcance no modo elétrico é de até 65 quilômetros em uso urbano, desde que não se empolgue muito ao acelerar. Essa distância cobre boa parte dos deslocamentos em cidade, sem gastar uma gota de gasolina.
Nas autoestradas no Estado de São Paulo, é possível viajar a 120 km/h e alcançar até 25 km/l. Com a bateria carregada, velocidade média estável na faixa de 100 km/h e o tanque de 54 litros, o Q5 pode rodar até 800 quilômetros, o que nenhum carro 100% elétrico oferece – ao menos por enquanto. Preço básico: R$ 462.990.