A crise mundial dos semicondutores fez mais uma vítima no setor automotivo brasileiro: o São Paulo Motor Experience, evento que iria substituir o Salão do Automóvel de São Paulo. Previsto para ocorrer entre 6 e 14 de agosto deste ano no Autódromo de Interlagos, o evento foi adiado e ainda não tem nova data. A decisão foi anunciada pelo presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio de Lima Leite, em coletiva à imprensa sobre os números do setor nesta terça-feira (10/5).
Durante toda a coletiva, Leite frisou os problemas que a cadeia produtiva devido à falta de semicondutores. E também foi o motivo apontado para o adiamento do São Paulo Motor Experience. "A desorganização da cadeia de suprimentos tem criado desafios para que as operações sejam impactadas da menor forma possível", afirmou.
Segundo o presidente da Anfavea, as montadoras têm como foco, no momento, "manter a cadeia de produção, fornecedores e atendimento dos pedidos", por causa disso, a entidade, montadoras e a organizadora do evento, a RX, optaram pelo adiamento. "Decidimos não continuarmos com a agenda prevista para o São Paulo Motor Experience (para este ano)", disse Leite.
Os organizadores do evento que substituirá o Salão do Automóvel - realizado pela última vez em 2018 - também divulgaram nota à imprensa para confirmar o adiamento. "Em razão dos desafios que ainda persistem, optamos por adiá-lo. Logo retomaremos os trabalhos para lançar o evento do tamanho da força da indústria automotiva para os milhões de apaixonados”, disse Cláudio Della Nina, presidente da RX.
O novo formato do Salão do Automóvel, rebatizado de São Paulo Motor Experience, previa um evento muito mais dinâmico, diferente do modelo estático existente anteriormente - antes da pandemia. "É um formato extremamente inteligente, apresentando novas tecnologias, produtos, características. Um evento muito rico, e que nós apostamos muito. Mas em função desse momento, está sendo adiado para o próximo ano", disse Leite.
De acordo com a Assessoria de Imprensa dos organizadores do evento, ainda não há nova data para a realização do evento. Mas, a pretensão é mantê-lo no Autódromo de Interlagos, como ocorreria este ano.
Os números apresentados na coletiva da Anfavea mostraram que no primeiro quadrimestre de 2022, as vendas de veículos tiveram queda de 21,4% na comparação com o mesmo período de 2021. No entanto, a Anfavea continua a trabalhar com a perspectiva de que os números deste ano vão superar os de 2021. O reforço no fornecimento mundial de semicondutores entre 2022 e 2023 é o motivo do otimismo.
O presidente da Anfavea destacou que até o final de 2023 serão inauguradas 29 novas fábricas de semicondutores no mundo. Duas delas no segundo semestre deste ano, uma na Alemanha e outra na Ásia. "São as duas mais relevantes. Essa da Ásia tem uma capacidade gigantesca de produção", afirmou o presidente da Anfavea.
Leite destacou que somente este ano ocorreram nada menos de 14 paralisações de fábricas devido à falta de semicondutores e outros insumos, o que impactou diretamente a produção no segmento. Apesar disso, as vendas têm crescido progressivamente e alcançaram no início deste mês o mesmo patamar da média registrada em 2021. O ano passado fechou com média diária de vendas de 8,4 mil veículos. Este ano, a média tem subido mês a mês e alcançou os mesmos 8,4 mil nos primeiros dias de maio.
Esse resultado dos primeiros dias de maio representa um crescimento de 7,7% em relação a produção fechada de abril, de 7,8 mil carros emplacados por dia, de acordo com os números da Anfavea. Essa evolução, que tem se repetido mês a mês (veja gráfico abaixo), combinada à perspectiva de aumento no fornecimento de semicondutores, leva a Anfavea a apostar no aumento da produção este ano. "Nosso desafio é manter esse crescimento. E se mantivermos, vamos ter números bastante interessantes no fim de 2022", destacou Leite.
O presidente da Anfavea também destacou as negociações entre poder público, setor privado e universidades para a implantação de uma megafábrica de semicondutores no Brasil. "O investimento poderia chegar a US$ 2 bilhões", destacou Leite. "É um investimento expressivo que mesmo quando comparado com outras fábricas de semicondutores pelo mundo", comparou.