Equipes de F1 já correm, mas contra o tempo

Fábricas foram reabertas. Desafio agora é introduzir novas peças até a primeira corrida para serem homologadas

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Livio Oricchio
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Parte dos profissionais da Ferrari voltou a trabalhar, nesta quinta-feira (21/05), na sede da equipe, em Maranello, fechada desde o dia 19 de março. É o caso de outros times também. A FIA determinou um período de 63 dias sem atividade alguma.

O desafio da Ferrari é enorme. Isso porque a crise financeira provocada pela Covid-19 levou a FIA e FOM, com o apoio dos diretores das escuderias, a congelar o desenvolvimento dos carros.

A versão de componentes fundamentais, como o monocoque (estrutura central), transmissão e suspensões que será levada para a etapa de abertura do campeonato, de 3 a 5 de julho em Spielberg, na Áustria, será homologada pelos comissários e não poderá ser modificada até o fim do mundial de 2021.

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Isso quer dizer que times que não foram bem nos testes da pré-temporada – caso da Ferrari – têm pouco mais de um mês para introduzir importantes modificações em seus carros a fim de torná-los mais competitivos e resistentes.

Mesmo equipes que demonstraram, na pré-temporada de Barcelona, ter produzido um carro competitivo, este ano, como Mercedes e Red Bull-Honda, também trabalharão duro para introduzir uma série de novos componentes para serem homologados. É agora ou nunca.

Repercussão do trabalho será enorme

Neste momento, as dez equipes de F1 disputam uma corrida contra o tempo. A eficiência do seu trabalho nesse período de volta às atividades normais poderá determinar o resultado que será obtido não apenas este ano, como no próximo, por causa da obrigação de os atuais modelos serem utilizados também em 2021.

A partir de 2022 a história muda. Uma nova F1 vai estrear, com novos regulamentos técnico e esportivo, dentre outras mudanças conceituais.

O conjunto mecânico dos carros deste ano não poderá ser revisto, como mencionado. Enquanto os elementos aerodinâmicos, como aerofólios, assoalho, defletores, vão poder ser substituídos, mas com restrição importante.

Duas evoluções por temporada

Neste momento, a proposta aceita pelos diretores das equipes determina que cada escuderia poderá introduzir dois pacotes de mudanças aerodinâmicas ao longo do campeonato.

O mesmo vale para as unidades motrizes (motores). Eles serão homologados em Spielberg e duas novas versões serão permitidas ao longo da temporada. Lembrando que segue valendo a regra, por enquanto, de três unidades motrizes por piloto.

Se o campeonato tiver bem menos etapas das 22 previstas originalmente – passar a ter somente 14, por exemplo - a FIA poderá reduzir esse limite para duas.

Nesta sexta-feira (22/05) as equipes vão votar um novo pacote para regulamentar a questão do limite de desenvolvimento dos carros e esse modelo, de duas atualizações por ano, pode ser revisto.

Incrivelmente pode passar a proposta de os que têm menor performance disporem de mais direitos para trabalhar a aerodinâmica do carro, como ganhar mais horas de túnel de vento. Seria inédito na história e saudável para a F1 por causa da possibilidade de poder compactar um pouco o grid.

Os testes em Barcelona, antes da pandemia, guiarão os trabalhos dos engenheiros até o início da temporada
Crédito: Divulgação
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Os técnicos da seção das unidades motrizes já trabalham nas sedes das equipes há mais de uma semana, pois a paralisação obrigatória foi de 49 dias e não 63 como o estabelecido para os profissionais da área de chassi.

O regulamento exige que as fábricas permaneçam fechadas, mas nada impede de os engenheiros trabalharem em casa, conectados, concentrados nos estudos destinados a desenvolver o carro. É o que fazem.

Este ano ainda há total liberdade de investimento para as equipes, mas a partir de 2021 haverá um histórico teto orçamentário. O limite é de US$ 145 milhões, sendo que o pago aos pilotos, aos três principais diretores do time e o gasto com marketing não fazem parte dessa conta, estão fora da restrição.

Testes de inverno, a referência

Diante dessa realidade, é importante voltarmos um pouco no tempo até os treinos no Circuito da Catalunha, de 19 a 21 e de 26 a 28 de fevereiro, para ter uma ideia de que estágio os engenheiros das escuderias partem para melhorar seus carros.

O resultado nesses ensaios não costumam ser conclusivos, mas também não deixam de oferecer referências para termos uma ideia do estágio de preparação de cada equipe.

Por mais que os diretores técnicos tenham procurado não expor totalmente o real potencial de seus carros, para mais ou para menos, depois de 903 voltas no traçado espanhol de 4.655 metros (4.203 quilômetros) a Mercedes, por exemplo, emitiu sinais reveladores do que pode fazer no campeonato.

Outras quilometragens acumuladas: Ferrari, 3.928; Red Bull, 3.630; McLaren, 3.742; Renault, 3.458; Racing Point, 3.640.

Os tempos registrados por seus pilotos também são sugestivos da velocidade dos carros nessa fase inicial de desenvolvimento.

A seguir os melhores dos seis dias de testes. Atente para os pneus. A Pirelli distribuiu os cinco tipos de sua gama para alfalto seco. O C5, hipermacio, é o que permite melhor performance, usado pela maioria. Alguns pilotos obtiveram seus tempos com o C4, ultramacio, cerca de meio segundo mais lento que o C5.

  • 1º Valtteri Bottas, Mercedes W11, 1min15s732, com C5.
  • 2º Max Verstappen, Red Bull-Honda RB16, 1min16s269, com C4.
  • 3º Daniel Ricciardo, Renault RS20, 1min16s276, com C5.
  • 4º Charles Leclerc, Ferrari SF1000, 1min16s360, com C5.
  • 5º, Sérgio Perez, Racing Point-Mercedes RP20, 1min16s634, com C5.
  • 6º Carlos Sainz Junior, McLaren-Renault MCL35, 1min16s820, com C4.
  • Ferrari, muito atrás

    Breve comentário analítico sobre o demonstrado pelas seis melhores equipes nos testes de Barcelona.

    Mercedes

    Literalmente assustou os concorrentes. Sua simulação de corrida demonstrou ser muito superior a todos os demais. Quem chegou mais perto foi a Red Bull-Honda.

    Mas o time de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas demonstrou um ponto de fraqueza. Nada menos de duas unidades motrizes apresentaram problemas no seu carro e quatro no da Williams, que compete com elas. O grupo de técnicos liderado por Andy Cowell terá de levar para a Áustria uma unidade motriz mais confiável.

    Red Bull-Honda

    Este é o segundo ano da associação da escuderia austríaca com a montadora japonesa. O RB16 coordenado pelo genial Adrian Newey demonstrou, ao menos nos treinos, potencial para vencer mais dos três GPs de 2019. A Red Bull parece ter se aproximado da Mercedes.

    O RB16 da Red Bull com unidade motriz Honda foi o que mais mostrou chances de andar junto da Mercedes este ano
    Crédito: Divulgação
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    Max Verstappen, com pneus C4, ficou a meio segundo de Bottas, com C5, indicando que em uma volta lançada a vantagem da Mercedes não é grande.

    Ferrari

    Andou para trás em relação a 2019. Seu diretor, Mattia Binotto, disse que a equipe não lutaria pela vitória na Austrália (GP cancelado). Agora é hora de rever profundamente o modelo SF1000. Melhorou sua velocidade nas curvas de baixa, deficiência em 2019, mas piorou muito em velocidade final nas retas.

    O trabalho de revisão do SF1000 está sendo realizado por Simone Resta, que teve pouca participação no projeto, por estar na Alfa Romeo.

    A escuderia italiana tem de melhorar tudo: o chassi, com uma crônica tendência de sair de frente, e a unidade motriz, com menor resposta de potência depois de, este ano, a FIA introduzir um sensor mais preciso para o controle de fluxo de combustível, limitado a 100 quilos por hora.

    Racing Point

    É possível que tão logo a F1 comece seu campeonato, em Spielberg, Renault e McLaren protestem contra a Racing Point. Motivo: questionar para os comissários a legalidade do carro da reestruturada equipe de Sérgio Perez e Lance Stroll, agora com maiores recursos. O modelo RP20 é praticamente o mesmo da Mercedes do ano passado, pintado de cor de rosa.

    Isso explica o fato de o time ter realizado excelente pré-temporada, demonstrando em certos momentos estar na frente da Ferrari.

    Com o mesmíssimo carro da Mercedes de 2019, Racing Point vai travar guerra nos bastidores
    Crédito: Divulgação
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    A FIA já se manifestou favoravelmente ao uso do RP20 logo depois dos testes, mas a decisão será dos comissários.

    Partindo de uma base tão sólida como a do W10 de 2019 da Mercedes, campeão do mundo com Hamilton e de construtores, a Racing Point deverá ter um início de campeonato promissor.

    Renault

    A reestruturação da equipe começou a dar resultados. O modelo RS20 nasceu bem mais eficiente que o do ano passado, segundo Ricciardo, sugerindo ter grande margem de desenvolvimento, maior problema da Renault nos dois últimos anos.

    O desafio é o diretor da área da unidade motriz, Rob White, tirar mais potência. As produzidas pela Mercedes, Ferrari e Honda andaram mais para a frente, nesse sentido, que a Renault. Nos teste de Barcelona, a versão inicial deste ano demonstrou representar importante passo adiante.

    Vamos ver quanto cada uma vai evoluir até a etapa de abertura do campeonato. O embarque dos carros para Spielberg será dia 27 de junho.

    McLaren

    O novo diretor técnico, James Key, não se preocupou em manter a base do bom carro de 2019, quarto colocado entre os construtores. Partiu para um projeto próprio. Nos treinos na Espanha deu mostra de ter potencial para crescer, embora talvez precise de um tempo.

    A McLaren MCL35 com conjunto motriz Renault: trabalho começou do zero para esta temporada 2020
    Crédito: Divulgação
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    Nessas cinco semanas em que o grupo de Key trabalhará no carro poderá resolver alguns problemas naturais de um projeto realmente novo, como é o caso da McLaren.

    Data marcada

    Salvo surpresa, os carros modificados nesse período de volta ao trabalho vão deixar os boxes do Circuito Red Bull Ring na sexta-feira, dia 3 de julho, às 6 horas, horário de Brasília, para o primeiro treino livre do GP da Áustria, etapa de abertura da 71ª temporada da história da F1.

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