Carro com motor 1.0 era conhecido como econômico, mas fraquinho. Mas essa história mudou bastante há poucos anos. O Fiat Pulse, por exemplo, tem 130 cv de potência e ostenta assim o rótulo 1.0 mais potente do mercado. Mas será que essa honraria realmente faz diferença na prática ou é apenas uma jogada de marketing?
Para chegar à resposta, primeiramente, vamos conhecer melhor o propulsor Turbo 200 Flex, que equipa as versões mais caras do SUV da Fiat. O propulsor faz parte da família GSE, que é uma sigla que pode ser traduzida como Motores Pequenos Globais.
O nome do motor faz menção à entrega de torque em Newton Metros (NM), unidade mais comum no exterior. Na conversão para quilograma-força metro, mais popular no Brasil, o valor é de 20,4 kgf.m. É o mesmo torque, portanto, desenvolvido pelo principal concorrente do Pulse, o Volkswagen Nivus.
Daqui a pouco falaremos mais sobre o modelo da VW, mas antes vamos abordar as propriedades básicas da família de motores GSE, que além do Turbo 200 Flex, também agrega o 1.3 T270, que equipa modelos como a Fiat Toro e a dupla Compass e Renegade, da Jeep.
Ambos os conjuntos são compactos, leves e com sistema de combustão moderno. O bloco é derivado do motor Firefly 1.4, que equipou o Uno, por exemplo. A maior diferença é que o projeto do T200 Flex abrange três cilindros, em vez de quatro no Firefly.
O menor emprego de cilindros agora é algo famigerado na indústria brasileira, mas a história começou a ser pavimentada pelo Volkswagen Up, que foi lançado por aqui em 2014.
O que nem toda fabricante faz é agregar ao projeto de três cilindros um sistema de injeção direta de combustível. Nesse mecanismo, a mistura entre ar e combustível é feita já na câmara de combustão, o que garante mais eficiência e menor consumo. Os motores 1.0 turbo de Chevrolet e Caoa Chery, por exemplo, não têm esse sistema.
Mas o que pode ser considerado o grande diferencial da Fiat é a tecnologia MultiAir que está na terceira geração. Pela primeira vez, esse recurso é aplicado em um motor desenvolvido no Brasil. Basicamente, a tecnologia desenvolvida em parceria com a alemã Schaeffler atua no comando de admissão de válvulas de uma maneira mais flexível e inteligente. Isso quer dizer que a combustão tem resultados mais satisfatórios de performance e emissão de poluentes.
Depois de muita teoria, vamos à prática. Ao rodar com o Fiat Pulse Audace, logo percebemos que estamos a bordo de um veículo que proporciona respostas rápidas, com agilidade para superar sem problemas as ladeiras íngremes da cidade ou fazer retomadas e ultrapassagens nas estradas.
É claro que isso também se dá por conta do bom alinhamento do motor T200 Flex à transmissão automática do tipo CVT, que simula sete velocidades. Este conjunto desenvolvido pela japonesa Aisin é inédito na linha Fiat.
O funcionamento acertado do conjunto faz até você esquecer que o SUV conta com aletas atrás do volante, que permitem fazer trocas de marcha de maneira manual.
Outra amostra da eficiência do conjunto é a aceleração de 0 a 100 km/h cumprida em 9,4 segundos. Na comparação com o Nivus, o Pulse 1.0 turbo é, portanto, seis décimos mais rápido. O Volkswagen tem o mesmo torque do Fiat, mas desenvolve 2 cv de potência a menos. São 128 cv emanados tanto com gasolina, quanto com etanol no tanque. Já o Pulse entrega pico de 130 cv e 125 cv, respectivamente.
Mas a comparação mais relevante entre os modelos está no consumo de combustível. O Pulse tem números melhores em todos os cenários, com exceção da combinação entre etanol no tanque e trajeto na estrada. Nesta situação, o Nivus tem média de 10,7 km/l, contra 10,2 km/l do Fiat.
Já na cidade, o Pulse tem índice de 12 km/l (gasolina) e 8,5 km/l (etanol). O SUV adversário se apresenta com 10,7 km/l (g) e 7,6 (e) km/l. Vantagem para o Fiat ainda no itinerário rodoviário com gasolina: 14,6 km/l, ante 13,3 km/l.
Números à parte, o fato de ter na garagem o carro com o 1.0 turbo mais potente vai fazer sentido a depender do seu uso, do que você privilegia em um carro. Isso porque a diferença entre o propulsor GSE da Fiat em relação ao TSI da Volkswagen é rasa, uma vez que ambos gozam de propriedades semelhantes.
Pelo menos nesta briga específica, o marketing fala mais alto do que o uso prático do motor. Mas se a diferença de potência for enfática, as coisas mudam de figura. Motores já citados como o 1.0 TCI de 102 cv da Caoa Chery, presente no Tiggo 3x, e o Ecotec Turbo de 116 cv da GM, que equipa o Tracker e a família Onix tendem a apresentar desempenho mais tímido e, de acordo com o caso, maior consumo de combustível.