Três elementos antagônicos deram vida a um carro histórico. Mustang + SUV + propulsão elétrica, estes são os ingredientes do Ford Mach-E, que foi revelado neste domingo (17) durante evento realizado em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Mais uma vez o Mustang vai ser feito em uma outra carroceria que não a de um muscle car. É o primeiro passo para que o lendário nome deixe de ser apenas um modelo para virar uma linha.
O Mach-E chegará ao mercado norte-americano no fim de 2020, mesmo período em que será vendido na Europa. Para esses locais, o modelo terá origem mexicana. Ele também será produzido na China para abastecer o mercado local.
Segundo o diretor de eletrificação da Ford, Ted Cannis, a ideia de produzir um Mustang elétrico veio há cinco anos. "Em 2014, quando começamos a pensar em projetos de carros 100% elétricos, pensamos que não poderíamos fazer um simples lançamento. Tinha que ser um carro acima das expectativas e por isso consideramos o Mustang", explicou.
Entre os adversários do elétrico da Ford, podem ser considerados modelos como Jaguar I-Pace e Audi e-Tron. Porém, a rivalidade mais ferrenha deve ser estabelecida com o próximo SUV da Tesla, o Model Y.
O utilitário-esportivo 100% elétrico terá cinco versões nos Estados Unidos. Partirá de 43.985 dólares na versão inicial, chamada de Select. O valor é equivalente a pouco mais de R$ 184 mil em conversão direta.
A segunda versão é a Premium, que custa US$ 50.600 (R$ 212 mil), enquanto a configuração California Route 1 é tabelada em US$ 52.400 (R$ 220 mil). O Mach-E também terá uma versão especial de lançamento, a First Edition, que chega a US$ 59.900 (R$ 251 mil).
Por fim, o modelo terá uma versão mais potente e mais rápida, a GT Performance. Ela chegará ao mercado somente em 2021, mas já teve o preço divulgado: 60.500 dólares, o equivalente a R$ 253.700.
As diferentes versões também terão níveis diferentes de potência e autonomia. O Mustang Mach-E poderá ter 258 cv, 286 cv e 338 cv, com autonomias que variam entre 337 até 434 quilômetros no ciclo norte-americano, chamado de EPA.
Já a configuração GT tem desempenho mais agressivo. A potência pode chegar a 465 cv, enquanto o torque (instantâneo) é de 84,6 kgf.m. Além do desempenho elevado, a versão GT tem ainda sistema de freios Brembo e suspensão adaptativa,.
Essa versão também se diferencia por elementos estéticos como grade em tom escuro feita de policarbonato, splitters frontais, três difusores no para-choque traseiro, além de logo iluminado. Com todos os diferenciais, a aceleração de 0 a 100 km/h é cumprida em 3 segundos.
Como o Mach-E ainda está em fase de desenvolvimento, não foi realizado um teste-drive. Porém, o WM1 pôde pegar uma caroninha em um dos protótipos da versão intermediária Premium nos arredores do evento.
A primeira arrancada já foi de impressionar. Por ter torque instantâneo, o modelo consegue atingir velocidades altas rapidamente e é capaz de grudar as costas dos ocupantes nos bancos.
Também foi satisfatório o acerto da suspensão, que tem sistema McPherson na parte frontal, e multilink de cinco braços na parte traseira. É um SUV com centro de gravidade mais baixo do que o convencional não só por manter as características de um muscle car (longa distância entre-eixos e baixa altura em relação ao solo), mas também porque o peso das baterias ajuda a manter o carro em um perfil baixo.
Existem 12 unidades de baterias que 596 quilos. Elas são abastecidas por dois motores eletromagnéticos que ficam posicionados em cada um dos eixos. Dessa forma, o carro pode operar em sistemas de tração traseira ou AWD.
O comportamento do Mach-E também pode ser alterado por meio de três modos de direção que têm nomes bem característicos. São eles Whisper (sussurro), Engage (engajado) e Unbridled (Desenfreado).
A ordem deles corresponde a uma direção amena até a mais agressiva. Interferem no peso da direção, sensibilidade dos pedais, iluminação interna, desenho mostrado no painel de instrumentos e até no som do carro.
A Ford desenvolveu ruídos para que o SUV não fique refém do silêncio da propulsão elétrica, especialmente quando o motorista deseja ter uma condução mais vigorosa. Segundo engenheiros de produto, foram usadas referência de carros usados em filmes futurísticos como “Blade Runner” e “Batman: Begins” para chegar ao resultado final.
Nós participamos de uma experiência virtual para ouvir melhor o som da versão GT, a mais agressiva. Ele realmente emite um ruído personalizado, mas não transmitiu muita emoção, pelo menos nesta experiência com simuladores.
Por outro lado, o contato com a central multimídia foi mais real. Chamada de SYNC 4, ela é baseada em uma tela de 15,5 polegadas. O tamanho exagerado é fruto de oficinas com consumidores de carros elétricos da BMW e da Tesla. Aliás, já vale adiantar que a tela do Model S, ainda é maior, com 17 polegadas.
Apesar de exagerado, o sistema é bastante imersivo e fácil de compreender. Dispensaria até mesmo o uso de tecnologias como Android Auto e Apple CarPlay. Mas elas estão no SYNC 4 e podem ser acionadas via wireless, ou seja, sem o uso de cabos USB.
Todas as atenções no interior acabam sendo monopolizadas pela central até porque o painel de instrumentos ficou reduzido a uma tela pequena e discreta.
Já os demais itens de acabamento são de ótima qualidade, mas estão longe de ter a extravagância do Mustang. O Mach-E tem opções de tons mais claros e existe revestimento de tecido sobre o sistema de som assinado pela B&O. O material é semelhante ao utilizado nas caixas portáteis da grife e envolve os 10 alto-falantes que totalizam 560 watts de potência.
Também há presença de materiais específicos no porta-malas frontal. Ele foi feito para carregar coisas sujas, como roupas de banho após um dia na praia. Tem capacidade para 136 litros, o suficiente para carregar uma mala de pequeno porte, e tem até suporte para copos. Já o compartimento traseiro tem 821 litros.
Se por dentro, o Mach-E carrega influências da Tesla, por fora, o modelo quer ser pioneiro. Com a missão de ser uma releitura futurista do Mustang, o SUV tem maçaneta minimalista e abertura das portas acionada por botão.
Já quando o assunto é a recarga das baterias, não há revolução. Segundo a Ford, em um sistema de 150 kW, é possível restaurar o equivalente a 75 quilômetros de autonomia em 10 minutos. A Ford também vai fornecer estações de carregamento em casa, em um sistema de até 240 volts.
A montadora informou ainda que o modelo terá a disposição mais de 12.000 estações de recarregamento nos Estados Unidos, sendo a maior rede pública de reabastecimento elétrico do país.