Você também sente uma sensação gostosa toda vez que o campeonato da F1 está prestes a dar a largada? É, no próximo fim de semana a F1 estará de volta, a 71ª temporada da sua rica história que deu ao Brasil oito títulos mundiais - mas, pelo terceiro ano, o país não terá representante no grid.
Já a partir das 22 horas da quinta-feira a TV vai transmitir os primeiros treinos livres do GP da Austrália, etapa de abertura do mundial, no Circuito Albert Park, em Melbourne. Todos nós que gostamos de F1 nessa época do ano por vezes nos surpreendemos pensando como deverá ser a disputa nas primeiras etapas.
Depois do evento na Austrália, a F1 vai já na semana seguinte, de 20 a 22, para o Barein, primeira pista de verdade do ano, o Circuito de Sakhir, no meio do deserto. Albert Park não é permanente. E isso tem implicações na competição, seu asfalto é pouco aderente, por vezes mascarando a real ordem de forças dos times.
E o melhor do campeonato deste ano: há dúvidas sobre o eterno favoritismo da Mercedes. É uma novidade na era da tecnologia híbrida, iniciada em 2014.
A referência para termos uma ideia de quem é quem no início do ano na F1 não é muito confiável: o que cada equipe fez nos testes realizados no Circuito da Catalunha, em Barcelona, com seus modelos de 2020. Este ano foram duas sessões de apenas três dias cada, de 19 a 21 e de 26 a 28 de fevereiro.
Você tem razão: como o regulamento técnico nesta temporada é o mesmo de 2019, também podemos levar em conta o desempenho de cada time no ano passado. Isso ajuda a compor o quadro, embora não de maneira conclusiva. Há sempre espaço para surpresas. Felizmente. Já imaginou se tudo fosse previsível demais?
Pude ler o seu pensamento. Você: “O que esse cara (eu) está falando se faz seis anos que a Mercedes ganha tudo, os seis títulos de pilotos e os seis de construtores? Onde é que estão essas surpresas? Não as vejo desde a substituição dos motores V8 aspirados pelos V6 turbo híbridos, há seis anos.”
Pois reforço o seu argumento: em 2019, a Mercedes conquistou o seu sexto título seguido nas duas competições, com 15 vitórias (10 com Lewis Hamilton e 5 de Valtteri Bottas), enquanto a Ferrari e a Red Bull venceram somente três GPs, cada. Uma distribuição de algo como 71,42 % do sucesso para a equipe alemã diante de 14,28 % para a Ferrari e 14,28 %, Red Bull.
Se desejarmos estender esse raciocínio para toda a era híbrida, a coisa fica feia para a concorrência: dos 121 GPs disputados desde 2014, a Mercedes venceu 89, ou 73,5%, restando 26,5% para todos os adversários dividirem entre si!
Os adversários da Mercedes ganharam seis GP em 2019. E é o que se espera que aconteça este ano novamente, talvez em uma proporção maior. Daí dizermos existir certa imprevisibilidade no desenvolvimento do campeonato.
Podemos ir até além. Historicamente, quando o regulamento técnico é mantido, há a tendência de a diferença de performance entre os times ser reduzida, o grid compactar um pouco. Atente ao termo “tendência”, não garantia.
Antes que você me chame de louco, deixa eu explicar, por favor. Não é que a Mercedes, de repente, deixará de ser a organização melhor preparada para seguir conquistando títulos.
Hamilton e Bottas, em termos de velocidade, demonstraram nos seis dias de testes no Circuito da Catalunha dispor de outro carro extraordinário, o modelo W11. Nas simulações de corrida até assustou a concorrência.
Mas, pela primeira vez desde 2014, surpreendentemente mostrou-se frágil. Nada menos de três unidades motrizes tiveram de ser substituídas. Sem contar que outras duas romperam no modelo FW43 da Williams.
Será preciso que já para a prova em Melbourne, e depois no Circuito de Sakhir, a escuderia alemã tenha resolvido seus problemas de confiabilidade. Desafio grande para o pouco tempo disponível.
É isso que deixou muitos profissionais da F1 sem saber ao certo o que esperar dos GPs da Austrália, do Barein e mesmo da terceira etapa, de 3 a 5 de abril, no veloz e quente traçado de rua de Hanoi, no Vietnã -estreia do país no calendário da F1. O W11 da Mercedes parece ser o mais veloz dentre os modelos, mas não o mais resistente.
Se a versão do W11 que a Mercedes levar para Melbourne suportar as 58 voltas do circuito de 5.303 metros, 16 curvas, Max Verstappen, da Red Bull, e Charles Leclerc, da Ferrari que se cuidem. Ao menos pelo demonstrado em Barcelona, Hamilton e Bottas podem se impor novamente na competição e torná-la, nesse caso, mais previsível.
Amigos, é isso o que mais gostaria de dizer sobre a temporada que está prestes a começar. Mas há muito mais que precisamos ter em mente para entender como poderá ser o início do campeonato, a exemplo da possível luta ponto a ponto pelo quarto lugar no mundial de construtores, entre Racing Point, McLaren e Renault.
Sérgio Perez e Lance Stroll, da Racing Point, podem ser a surpresa desse início de temporada, pelo evidenciado nos treinos. No terceiro pelotão, há indícios de que deverá haver um revezamento entre Alfa Romeo, Haas e Williams nas últimas colocações do grid. A conferir.
Acredito que estamos maduros para percorrer os boxes das dez equipes que aguardam apenas o sinal verde dos boxes no Circuito Albert Park para liberar seus carros a entrar na pista. Dando, oficialmente, a largada para a última temporada do atual regulamento.
A F1 de 2021 será profundamente distinta da que estamos acostumados. Será a maior revolução desde a sua criação, em 1950. Nós vamos discutir o tema em detalhes ao longo do ano.
Apenas antecipo que, por exemplo, os times terão um limite de orçamento, os modelos de 2021 vão gerar bem mais pressão aerodinâmica, com a volta do conceito do carro-asa, e os pneus passam de aro 13 para 18 - redução importante do seu perfil. São mudanças estruturais.
Cito essa questão para explicar que as escuderias têm um superdesafio este ano: concentrar-se no desenvolvimento do modelo de 2020 e estudar a fundo o carro de 2021, por conta da profunda revisão conceitual que está orientando os projetos.
E haja dinheiro para tudo isso.”Será a temporada mais cara da história da F1”, afirmou Christian Horner, diretor da Red Bull. Essa característica do campeonato poderá fazer com que as diferenças entre grandes e pequenos na F1 cresça ainda mais em 2021.
De volta a 2020, não se esqueça de que a Pirelli colocou à disposição de todos, nos treinos de Barcelona, os seus cinco tipos de pneus para asfalto seco: o C1, duro; C2, médio; C3, macio; C4, ultramacio; e C5, hipermacio.
Ao ler o tempo de cada piloto a seguir, atente para o pneu utilizado. Saiba: o C5 é, na média, 0s45 mais rápido que o C4. Este permite 0,3 de performance a mais que o C3. Este, 0s45 mais que o C2, enquanto o C1, por ser muito duro, não foi, a rigor, usado.