Internet não é oficina nem assistência técnica

Quantas vezes você consultou o manual do proprietário do seu carro ou moto? Aliás, quando foi a última vez que procurou o livreto no porta-luvas ou na gaveta, em casa? Pois muita gente compra um carro ou uma moto, guarda o manual e jamais o consulta, ou sequer dá uma espiada por mera curiosidade.

No mundo moderno de hoje, a prática mais comum é ir direto pra internet. Alguns ainda se dão ao "trabalho" de dar alguns cliques para pesquisar no Google, mas muita gente vai direto nas redes sociais, e nos grupos que reúnem os donos de um mesmo veículo para tirar dúvidas. São questões frequentemente banais, como a pressão de calibragem dos pneus, ou algo totalmente subjetivo, como o que poderia estar causando um determinado barulho.

Tanto de uma forma quanto de outra, está errado. Internet não é oficina nem assistência técnica. Se o dono do veículo quer saber a correta calibragem dos pneus, qual o tamanho do tanque de combustível ou quais velas usar naquele motor, por exemplo, a resposta absolutamente certa está em um só lugar: o manual do proprietário.

O manual do proprietário do veículo tem todas as especificações técnicas do veículo, e frequentemente traz até alternativas. Por exemplo, indica o uso de uma determinada vela no motor, mas pode apresentar mais uma ou duas opções diferentes. Ao perguntar no mundo livre da internet, o proprietário do veículo corre o risco de receber informações equivocadas ou tão diversas que, na prática, não terá a resposta mais correta.

Já no caso de problemas no veículo, seja ele carro ou moto, naturalmente existem coisas simples cujas soluções podem ser obtidas nas redes sociais. Mas problemas mais sérios - em motor, transmissão, freios ou suspensões - devem ser submetidos à análise de um bom mecânico, pessoalmente.

Redes sociais têm sua utilidade

Se a dúvida é sobre o consumo médio do veículo ou onde encontrar uma peça mais difícil ou um acessório específico, claro que vale pesquisar no Google ou perguntar a quem tem um carro ou moto similar. A troca de informações entre proprietários de um mesmo carro ou uma mesma moto é importante e muito útil, principalmente quando se trata de modelos fora de linha ou antigos.

Mas "entregar" a manutenção do veículo à opinião alheia é um equívoco completo. Aliás, vale aqui um lembrete: atualmente é possível baixar os manuais do proprietário e de serviços de um enorme números de carros e motos. Ou seja, ninguém vai errar por falta de informação.

Luiz Carlos Secco, diretor da Secco Consultoria, jornalista com enorme experiência no setor automotivo e voz do podcast "Muito além de rodas e motores", destaca a importância do manual do proprietário na correta manutenção de um veículo:

- Cada dia é mais importante que o usuário use e consulte o manual do proprietário, porque os carros de hoje têm muito mais equipamentos eletrônicos e tecnologias do que os de 10 ou 20 anos atrás - afirma ele.

Secco lembra que alguns desses equipamentos entram em operação sem qualquer intervenção do motorista, como o start/stop, mas mesmo um controle automático de velocidade (o popular "piloto automático") varia de montadora para montadora, ou até mesmo de modelo para modelo, e requer alguns instantes de atenção para que se aprenda como usá-lo.

E no caso dos carros modernos, outros dispositivos demandam explicação para seu correto uso. É o caso, por exemplo, do Parking Assist de estacionamento automático, do Lane Assist de alerta de mudança de faixa e do Brake Assist de frenagem de emergência que entra em ação quando o carro se aproxima de outro à frente ou de um obstáculo, evitando a colisão.

Usar esses recursos de forma errada pode até causar acidentes. E, paradoxalmente, todos esses sistemas são itens de condução semiautônoma que a cada dia estarão mais presentes nos veículos pela segurança e bem-estar que proporcionam para prevenção e redução de acidentes.

Um exemplo da vida real

Secco lembra que, certa vez, um de seus filhos viajou para o exterior e alugou um carro convencional. Mas, na hora da retirada do veículo, a locadora entregou um modelo superior e com tecnologia híbrida.

O motorista não conseguiu sair do lugar, porque não achou a alavanca de câmbio para acionar o "D" de drive. Ela não estava no console central, na posição habitual, mas na coluna de direção - onde costumamos acionar o limpador do para-brisa.

Na mesma ocasião, o sistema Lane Assist não somente alertava sobre a mudança de faixa, como também freava o veículo. Isso que causou surpresa e susto nos ocupantes.

Mas quem faz os manuais do proprietário? São pessoas como o engenheiro Nelson Luiz Otti, que começou a trabalhar na elaboração dos manuais no Departamento de Serviços da Ford em 1997, e editou os manuais de modelos como Fiesta, Courier, Escort, Ka, Ranger, novo Fiesta dos importados Taurus, Explorer, Mondeo, EcoSport, Focus, F-250, F-350, F-4000 e Cargo.

Otti ressalta que o manual do proprietário ajuda os motoristas conhecer as peculiaridades de cada modelo, os itens de manutenção, os cuidados com o veículo e sua condução, seu uso adequado e detalhes técnicos. E também mostra como fazer serviços simples, como trocas de lâmpadas e fusíveis, alinhamento de direção e balanceamento das rodas, entre outros. Por fim, ainda tem informações importantes, como períodos de troca de óleo e até a garantia do veículo.

E aquelas luzinhas no painel? O que cada uma indica? É só ir no manual, que isso está lá, explicado com gráficos para facilitar a compreensão. Muito mais certeiro e inteligente do que perguntar nas redes sociais "para quem serve aquela luzinha vermelha em cima do velocímetro?".

Para quem não tem paciência para folhear um livreto, resta um consolo: cada vez mais as marcas estão abolindo os manuais impressos e entregando versões digitais, ou mesmo apenas informando um link - para que seja consultado via internet. Ainda assim, é uma opção melhor do que os "mexânicos" e nem tão entendidos das redes sociais.

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