O universo dos muscle cars foi um dos momentos mais marcantes da indústria automobilística mundial. Carros poderosos, bojudos, musculosos, com frentes imponentes, traseiras curtas, muita potência e, de certo modo, pouca habilidade de fazer curva. Surgido nos anos 1960, seu sucesso foi imediato: logo os apaixonados por esportivos quiseram colocar um pony car em sua garagem.
Muscle Culture é a coluna de André Deliberato no WM1, portal de notícias da Webmotors, que traz curiosidades sobre a famosa filosofia norte-americana dos anos 1960 e 1970. Clique para rever o 1º capítulo e/ou aqui para ler o segundo texto da série.
O mundo mudou. Carros compactos e subcompactos surgiram, além de sedãs, picapes e peruas. Depois vieram os SUVs, carroceria que já tem a preferência do consumidor há alguns anos e ainda veremos no topo do interesse público por muitas e muitas temporadas.
Mas os muscles cars ainda existem. São poucos, mas eles estão aí - ou melhor, nos Estados Unidos. Outros precisaram mudar de carroceria, mantiveram somente o nome e deixaram de ser um legítimo muscle, como por exemplo o Dodge Charger, que acabou por se tornar um sedã... Com motor V8, é verdade.
Abaixo, vamos listar os poucos sobreviventes dessa categoria tão apaixonante que nasceram como muscle e ainda podem ser encontrados à venda com esse tipo de carroceria. Ou seja, carros que surgiram como muscles e ainda mantêm essa essência.
Um dos primeiros muscle cars da história - ao lado do Plymouth Barracuda, como diz a clássica discussão - existe até hoje e passou por diversas modificações. Em algumas delas chegou até a perder sua essência, virou um cupê esportivo compacto, hatch ou mesmo uma perua, mas desde 2003 retomou a filosofia muscle, que mantém até hoje.
No ano passado, o Mustang ainda serviu de base - pelo menos com seu nome - para um SUV elétrico, o inédito Mach-E. Portanto, o jeito é torcer para a versão tradicional continuar em linha. Atualmente o carro pode ter motores turbo de quatro cilindros ou V8 e câmbio manual ou automático, mas sempre com tração traseira. E tem as versões preparadas pela Shelby, que são ainda mais apaixonantes.
Muitos lugares dizem que o Chevrolet Corvette é muscle car, mas há controvérsias sobre essa ideia - e falaremos sobre isso na coluna oportunamente. Agora, quem não deixa dúvidas sobre ser um verdadeiro pony car é o Camaro, grande rival do Mustang há mais de cinco décadas.
O carro da GM é outro muscle car que nasceu na década de 1960 para combater o modelo da Ford, grande sensação de 1964 - para ser exato, dois anos depois, em 1966.
Passou por maus bocados nas décadas seguintes, chegou a virar um cupê esportivo em determinadas gerações, mas voltou com tudo no começo dos anos 2000. Em 2016, recebeu uma geração baseada no chassis de esportivos da Cadillac, com motor do Corvette e, acredite, muita capacidade de fazer curva. Isso tudo sem perder a essência de um legítimo muscle.
O Challenger, rival da Chrysler para Ford Mustang e Chevrolet Camaro, nasceu dentro dessa filosofia e jamais saiu dessa linha. Ele surgiu em 1970, foi vendido até 1974 nos Estados Unidos, parou de ser produzido e só voltou à vida em 2008, já com linhas mais modernas, mas sem perder a essência principal, de um verdadeiro muscle car.
Na prática, isso significa que entre os três carros mencionados até agora, ele é o único que não se desvirtuou do lema principal da filosofia muscle car. Atualmente, o esportivo é vendido nos EUA em várias versões, das quais R/T, SRT, Hellcat e Demon são as mais conhecidas. O motor pode ser V6 ou V8, mas a tração é sempre a mesma... Traseira, para delírio dos puristas.
Infelizmente, essa filosofia tem data marcada para acabar. O futuro desses brutamontes beberrões e queimadores de pneus (traseiros) é incerto em um mundo onde cada vez mais incentiva-se o uso de tecnologias sustentáveis, motores eletrificados, câmbio CVT e... tração dianteira.
Prova disso foi o que aconteceu com a dupla Chevrolet Corvette e Dodge Viper, modelos que para muitos fãs podiam ser enquadrados como muscle cars: o primeiro virou um legítimo esportivo de motor central, rival de cupês de Ferrari, Porsche e Lamborghini; o segundo até recebeu o incentivo de uma nova geração em 2013, mas infelizmente deixou de existir em 2017.
Resumo: em 2020, apenas Ford Mustang, Chevrolet Camaro e Dodge Challenger são vendidos com a mesma essência dos muscle cars dos anos 1960. E a tendência é que isso diminua nos próximos anos. O que nos resta é torcer para que eles durem mais algumas temporadas.
Todos os meses a coluna Muscle Culture traz curiosidades e informações sobre a famosa filosofia norte-americana de muscle cars, com André Deliberato. Instragram/Twitter: @andredeliberato.