Ainda estamos em outubro, mas a Volvo já celebra 2018 como o ano em que mais venderá carros desde que chegou ao Brasil. O crescimento até setembro comparado a 2017 já ultrapassou a casa dos 82%. E para 2019 a marca busca mais, quer brigar com o trio alemão, tradicionais dominantes do segmento premium de igual para igual.
Uma das suas principais apostas estará no reformulado sedã S60, que acaba de ser apresentado mundialmente para jornalistas na simpática cidade de Santa Mônica, na Califórnia, nos Estados Unidos. O modelo está confirmado para o Brasil e desembarcará em terras tupiniquins em meados do próximo ano.
A marca sueca ainda faz suspense em relação as configurações, motores e preços, por isso a comparação com o remodelado Mercedes-Benz Classe C, a nova geração do BMW Série 3 (que chegará no próximo ano) e a recém-lançada Audi A4 fica prejudicada. Mas pelo menos em um aspecto o sedã escandinavo já bateu os alemães, nas dimensões.
O novo S60 cresceu praticamente para todos os lados, isso deixou o sedã 7,5 cm maior que o Classe C (chegando a 4,76 m), 2,3 cm mais largo que o Série 3 e com um entre-eixos 5,3 cm maior que o Audi A4. O ponto negativo fica para o tamanho do porta-malas. Segundo a Volvo, o S60 acomoda 392 litros de carga, bem menos que os 480L do Classe C, por exemplo.
Outro ponto que deve incomodar o trio alemão é o design. As linhas do S60 são fluidas, simples e harmoniosas. Mesmo lembrando pouco a antiga geração, que era considerada bela, conseguiu ficar ainda mais marcante. O desenho com vincos sutis deu robustez para a carroceria, sem perder a elegância. Ao vivo, o S60 transpira requinte sem parecer esnobe, ou pretensioso demais. Ao lado dos alemães lembra um sedã de categoria superior.
Segundo T. Jon Mayers, diretor de design da Volvo e responsável pela equipe que desenhou o S60, uma das tarefas mais difíceis foi dar personalidade própria para o sedã, mesmo compartilhando diversas peças com seus irmãos XC40 e XC60. Além da plataforma modular que é comum a quase toda a linha Volvo. “O desafio foi utilizar algumas peças em comum com outros modelos, como as portas que são do XC40, e manter a proporcionalidade do sedã. Isso foi possível porque os projetos são pensados quase que conjuntamente. Os times de diferentes carros se comunicam para que haja uniformidade das entregas”, explicou Mayers, que, apesar de ser americano, conseguiu manter os traços do novo S60 fieis ao estilo escandinavo.
Por dentro, o S60 lembra muito o irmão XC60. São compartilhados volante, o quadro de instrumentos de TFT de 12,3 polegadas, boa parte do painel, incluindo o sistema de infotainment de nove polegadas (Sensus Conect) e detalhes da manopla de câmbio e console central. Peças bem montadas e que no sedã, apesar da diferença de tamanho da cabine, ficaram muito proporcionais ao espaço.
A qualidade do acabamento também chama a atenção, praticamente não se vê plásticos aparentes e muito menos rebarbas. Sem dúvida o material empregado é superior ao do trio alemão e equivalente aos veículos da Jaguar, que são uma referência no segmento de luxo.
Apesar do maior entre-eixos da categoria o espaço dentro do S60 é para quatro adultos, no máximo. Isso porque um grande duto central rouba espaço do meio do assoalho. A explicação está na adoção de um mesmo chassi, independentemente da versão. Mesmo sendo híbridas e com tração AWD (All Well Drive) apenas as variações de topo de gama.
Falando em versões, nos Estados Unidos, o S60 é oferecido em três variações: Momentum, Inscription e R-Design, além do pacote Polestar (que falarei mais detalhadamente à frente). Porém, a Volvo disponibiliza no mundo quatro configurações para o trem de força. São elas: T4, T5, T6 e T8 (híbrida).
O propulsor a combustão e a caixa de câmbio são os mesmos independentemente de configuração. Um 2.0L de quatro cilindros com turbo e uma caixa automática de oito velocidades (Geartronic). Porém, a regulagem de potência e torque varia em cada uma delas.
Na T4 Drive-E, por exemplo, o propulsor gera 192 cavalos de potência a 4.700 rpm e 30,5 kgf.m de torque máximo. Na T5 Drive-E, que equipa a versão Momentum do SUV XC60, o mesmo motor foi recalibrado para entregar 257 cv e um torque de até 35,6 kgf.m. Já a T6 Drive-E chega aos 324 cv e um torque de 40,7 kgf.m. Por fim, a versão híbrida T8, que combina um motor elétrico para as rodas traseiras com o propulsor 2.0L turbo entrega até 412 cv e um torque máximo de 65,2 kgf.m, entre 2.200 e 5.400 rpm.
O primeiro contato foi com a versão T6 equipada com o pacote R-Design. Mas antes de falar dela, aqui vale uma dica. Rodar com um carro pelas estradas da Califórnia, especialmente a Highway 1, que contorna a costa californiana com vista para o Oceano Pacífico é um passeio obrigatório, pelo menos uma vez na vida, para quem gosta de dirigir (e tem um bom dinheiro sobrando na conta bancária).
O S60 é ainda mais estável que o seu irmão XC60. A suspensão do tipo duplo wishbone na dianteira e multibraço com barra estabilizadora na traseira permite abusar das curvas sem comprometer o balanço da carroceria. De certa forma, a rigidez do conjunto somada as rodas de aro 18 e pneus de perfil baixo deixaram o S60 mais sensível as poucas imperfeições da rodovia. Comparado aos alemães, esse Volvo estaria entre a suavidade dos Mercedes-Benz e o controle dos Audi.
O S60 R-Design nesta configuração acelera rápido e tem respostas ágeis ao toque do acelerador. A transmissão é uma das mais precisas do mercado e as trocas são imperceptíveis. Porém, não espere por barulhos graves invadindo a cabine, pipocos do escapamento ou rodas destracionando em arrancadas que fazem o corpo grudar no banco. Essa não é a pegada do sedã. Se fosse para definir em poucas palavras: o S60 é rápido de uma forma sueca. Discreta, sem alardes e bem preciso.
Mesmo acomodando apenas quatro pessoas a cabine é espaçosa mesmo para um motorista de 1,90m. Outro ponto interessante e um avanço comparado aos alemães é a adoção de um teto solar panorâmico. É verdade que a abertura dele é bem limitada, mas o visual de um teto transparente dá um ponto extra para o Volvo.
Não dá para escrever sobre um modelo da Volvo sem falar dos itens de segurança e, agora mais recentemente, do uso de sistemas de condução semi-autônoma. E o S60 vai bem nestes dois itens.
Um dos principais equipamentos presentes no S60 é o Pilot Assist, mas pode chamar de direção semi-autônoma. O conjunto permite ao condutor dirigir sem as mãos no volante e o pé no acelerador para velocidades de até 130 km/h. O item foi lançado na Volvo com a nova família XC90.
O conjunto é relativamente fácil de ser operado. A ativação é muito semelhante a de um piloto automático convencional. Tudo pelo estiloso volante multifunção. Primeiro se estabelece a velocidade, depois se coloca a distância desejada do carro que vai a frente (já que o cruise control é adaptativo), por fim basta mover o botão para o lado para que o sistema semi-autônomo passe a controlar o veículo.
Já havia experimentado o recurso em outros modelos da marca, mas ainda assim os primeiros minutos são estranhos. A todo momento você espera por algo dar errado. Principalmente no trânsito real, aonde nem todos os motoristas se preocupam em dar seta ou invadir a sua faixa e imediatamente reduzir a velocidade.
A cada 30 segundos surge um aviso no painel que pede para que o motorista encoste a mão no volante (talvez para saber se você ainda permanece acordado), mas é só. Com o passar dos minutos, a sensação de medo vai dando espaço a um sentimento de relaxamento.
Porém, ainda o motorista que for experimentar o equipamento precisa ainda ficar atento a estrada. Os radares do S60 se baseiam nas faixas pintadas na rodovia, porém em alguns casos as marcações não estavam bem feitas e, em algumas oportunidades, foi possível observar o Volvo tender a fazer coisas que não deveria, como chegar muito próximo de um guard rail ou passar por cima de alguns olhos de gato. Nada muito preocupante, mas há espaço para aperfeiçoamentos, com certeza.
Outro ponto relacionado a segurança presente no novo S60 é o BLIS, ou sistema de alerta de ponto cego com assistência de direção. Trata-se de uma evolução dos sistemas de monitoramento de ponto cego já presente em outras marcas. No caso do sedã sueco, além de avisar o motorista por sinais sonoros e luminosos da existência de um carro na faixa ao lado, o sistema intervém na direção caso o motorista tente mudar de posição e devolve o veículo para dentro da faixa.
Outra inovação da linha do XC60 presente no sedã é o City Safety II, que auxilia o condutor em manobras bruscas para evitar possíveis colisões. O sistema fica ativo entre 50 e 100 km/h e atua na direção e freios do modelo. O sistema detecta carros, motos, pedestres e animais de grande porte à frente do veículo e assim que o condutor inicia o movimento de evasão o sistema vira completamente o volante, aciona os freios da parte de dentro para diminuir o raio de giro e muda de trajetória rapidamente.
A única versão confirmada para o Brasil é a Polestar, divisão esportiva da Volvo. Ela será a variação topo de gama por aqui. Feita para bater de frente com as versões apimentadas das concorrentes alemãs.
Combinando motores elétricos com um propulsor 2.0L quatro cilindros turbo a versão esportiva é capaz de entregar até 428 cavalos de potência máxima. Segundo a marca, o S60 Polestar é capaz de acelerar de 0 a 100km/h em 4,3 segundos, já a velocidade máxima é limitada eletronicamente em 250 km/h.
Apesar da potência extra e o dimensionamento de algumas peças - as pinças dianteiras, por exemplo são da marca Brembo, as rodas podem ser de 20 polegadas e a suspensão dianteira recebeu uma barra estabilizadora, além de componentes esportivos da marca Öhlins – as mais de duas toneladas do carro, somado a um comportamento sem excessos colocam o S60 Polestar um degrau abaixo dos Mercedes AMG, BMW M e Audi RS em termos de brutalidade.
A Volvo espera vender cerca de 1.500 unidades em um segmento que gira em torno de 9.000 carros comercializados por ano. Bons atributos para convencer o comprador o S60 demostrou ter neste primeiro contato. O sedã sueco surge como uma boa alternativa para quem cansou da disputa entre modelos alemães. Mas o ponto mais importante para saber se a Volvo poderá comemorar outro recorde de vendas em 2019 ainda permanece um mistério.
O preço do novo S60 poderá ser um fator determinante para o seu sucesso ou não nas vendas, principalmente em uma das categorias com os compradores mais fieis do mercado.
Viagem feita a convite da Volvo