Assim como todas as outras áreas, a seara desportiva também teve de se adaptar às novas condições, ao, perdão por ser repetitivo, "novo normal". A pandemia de covid-19 causou atrasos nas competições e, assim que elas puderam começar, trouxe desafios para organizadores, equipes e, evidente, pilotos.
Não à toa, a coluna observou com muito carinho as performances individuais nas mais diversas categorias, considerou resultados, máquinas e regularidade durante o ano. Com esses tópicos como base, selecionamos os 10 melhores pilotos, na nossa opinião, de 2020.
Antes do ranking, contudo, deixamos aqui menções honrosas para Scott Dixon (IndyCar Series), Daniel Ricciardo (Fórmula 1), Mike Conway (WEC), Callum Ilott (Fórmula 2), Nico Müller (DTM), Chase Elliott (NASCAR), Oscar Piastri (Fórmula 3), Gianluca Petecof (Fórmula Regional Europeia), Thiago Camilo (Stock Car), Ricardo Zonta (Stock Car), Naoki Yamamoto (Super Formula) e Charles Leclerc (Fórmula 1).
À exceção da etapa da Turquia - na qual seu Toyota Yaris WRC apresentou problema no motor -, Sébastien Ogier foi mais uma vez dominante no Mundial de Rali. Maior estrela da categoria após Sébastien Loeb, o francês conquistou seu sétimo título mundial com muita facilidade numa temporada reduzida. Destaque para sua performance brilhante no México, último evento antes da pausa por conta da pandemia do novo coronavírus.
Em um dos melhores grids do ano, de todas as categorias do automobilismo, Mick Schumacher prevaleceu e conseguiu conquistar o título. Feito absolutamente incrível do piloto da Prema, que, graças à regularidade - e atuações espetaculares em Monza e em Sochi - desbancou fortes adversários como Callum Ilott, Yuki Tsunoda, Robert Shwartzman, Guanyu Zhou e Felipe Drugovich.
Na próxima temporada, o filho do heptacampeão Michael Schumacher deixa a F2 para ingressar na Fórmula 1, pela Haas. Conhecido por demorar a engrenar nas categorias por onde passou, o alemão não terá vida fácil e precisará se adaptar rapidamente ao carro e às regulamentações da F1.
O português não tomou conhecimento dos adversários e dominou o grid da Fórmula E, e conquistou o título com duas provas de antecedência. Félix da Costa subiu ao pódio em seis das 11 etapas disputadas na temporada 2019-2020 e conquistou três vitórias - duas, em ePrix realizados em Berlim, dignas de mestre. Não à toa, ele terminou o campeonato 71 pontos à frente do vice-campeão, o ex-F1 Stoffel Vandoorne. Embora o carro da DS Techeetah fosse superior aos demais, as corridas limpas, sem erros, do português foram um deleite.
O britânico é, sem dúvidas, um campeão do mundo em potencial. Ao volante do limitadíssimo Williams FW43, Russell realizou a proeza de ir ao Q2 em nove oportunidades. Em qualificações, ele "espancou" o medíocre companheiro de equipe, Nicholas Latifi, por 16 a 0. Nem mesmo a batida durante safety car em Ímola pode tirar o brilho de sua campanha. Todavia, não foram só as ótimas performances pela Williams que deram ao jovem de 22 anos um lugar no ranking dos 10 melhores pilotos de 2020.
Russell teve a missão de substituir Lewis Hamilton, que à época testou positivo para Covid-19, no GP de Sakhir. O britânico largou na primeira fila e não tomou conhecimento de Valtteri Bottas - deixou o finlandês para trás logo de cara. George arrancou volta mais rápida atrás de volta mais rápida e mostrou ao volante do W11 um ritmo de corrida avassalador. Não fosse um erro primário da Mercedes, teria vencido o grande prêmio com o pé nas costas.
Em Sakhir, Russell ficou à frente dos adversários por 59 voltas. Isso o coloca como o quarto piloto que liderou por mais tempo uma corrida durante a temporada 2020. Além disso, o britânico anotou ainda a volta mais rápida da prova. É preciso ficar de olho em George Russell. Ele é o futuro da Fórmula 1.
Ricardo Maurício teve um ano irretocável na Stock Car. Ele foi o piloto que mais andou na frente durante a temporada: foram 55 voltas na primeira posição. Ele deu ainda, vale frisar, 48 em terceiro. De uma regularidade impressionante.
O paulistano garantiu o tricampeonato da Stock Car com uma vitória dominante em Interlagos, na última prova da temporada. Antes já havia triunfado em outras duas oportunidades. Em um grid dificílimo, repleto de talentos, que mesclou pilotos experientes com jovens promissores, Ricardinho prevaleceu. Por isso, merece a sexta posição do nosso ranking.
Checo foi do inferno ao céu em 2020. Com início de temporada fraco se levarmos em consideração o potencial do RP20, o mexicano soube ainda que perderia a vaga na Racing Point para Sebastian Vettel em 2021 e teve também de lutar contra a covid-19. Por causa do coronavírus, viu Nico Hülkenberg sentar no cockpit do seu carro nos GPs da Inglaterra e dos 70 Anos da F1. No retorno às pistas, Pérez conquistou um ótimo quinto lugar na Espanha. No entanto, o melhor ainda estava por vir.
Depois de uma atuação apagada na Bélgica - onde foi ultrapassado de forma humilhante por Pierre Gasly na Eau Rouge - e de corrida discreta na Itália, Checo engrenou e emendou três corridas excepcionais na Toscana, na Rússia e no GP de Eifel. Depois, conquistaria ainda um brilhante segundo lugar na Turquia.
O ponto alto da temporada de Sergio Pérez, contudo, foi em Sakhir. Numa atuação impressionante, o mexicano foi do último ao primeiro lugar e garantiu sua primeira vitória na Fórmula 1. Checo terminou o campeonato mundial de pilotos em quarto, atrás apenas de Lewis Hamilton, Valtteri Bottas e Max Verstappen. O mexicano, inclusive, será companheiro de Verstappen em 2021, em substituição a Alexander Albon, na Red Bull.
É inegável: Max Verstappen é um fenômeno. Tudo bem que o RB16, projeto de Adrian Newey, foi desenvolvido a fim de atender aos seus caprichos, mas o holandês conseguiu extrair um algo a mais do carro. Único piloto do grid a desafiar Lewis Hamilton e Valtteri Bottas, Max conquistou 11 pódios, duas vitórias (GP dos 70 Anos e GP de Abu Dhabi), uma pole e anotou três voltas mais rápidas (70 Anos, Eifel e Barein) na temporada.
O ritmo de treino de Verstappen também foi impressionante. Não à toa, o holandês deixou Alexander Albon mal na fita e anotou uma sonora goleada de 17 a 0 na qualificação. Em 2020, Max também se tornou o piloto mais jovem a ganhar 10 corridas na Fórmula 1 - ultrapassou Sebastian Vettel, Lewis Hamilton, Fernando Alonso e Michael Schumacher. É mole?
Pierre Gasly teve uma temporada colossal. Aquele cara sem confiança, enxotado do time A da Red Bull em 2019, se tornou o que esperávamos: um piloto rápido aos sábados e domingos, consistente, arrojado e capaz de liderar uma equipe ao sucesso. Com seu AlphaTauri AT01, Gasly terminou na zona de pontuação em 10 das 17 corridas do ano. Além disso, conquistou uma incrível vitória no GP da Itália, ao segurar Carlos Sainz nas últimas voltas como se fosse um veterano.
O sucesso em 2020 foi fruto de muito trabalho. Gasly esteve envolvido em praticamente todas as discussões sobre o desenvolvimento do AT01 e, assim, ajudou a AlphaTauri a implementar upgrades no carro que deram ao time ´ótimos resultados. Tanto que a equipe manteve o francês para 2021 com um sorriso no rosto. No entanto, Pierre já demonstrou que é capaz de alçar voos mais altos e, quem sabe, abiscoitar uma vaga na Alpine ou em outra equipe de ponta em 2022.
A regularidade de Josef Newgarden impressiona. Embora tenha perdido o título para Scott Dixon, o piloto da Penske o igualou em número de vitórias (quatro cada) e o derrotou em oito das 14 etapas da IndyCar Series no ano.
Newgarden também foi quem mais liderou voltas na temporada: 455. Além disso, conquistou três poles e anotou uma volta mais rápida. Não fossem erros de estratégia, o bicampeão certamente teria adicionado mais um título para a sua coleção. Sua pilotagem em 2020 foi, assim como em 2019, assustadoramente limpa. Aos 30 anos, Josef Newgarden está no ápice da carreira. Dá gosto de vê-lo na IndyCar Series.
Não teríamos como colocar outra figura no topo do ranking dos melhores pilotos de 2020. Entra ano, sai ano, e Lewis Hamilton continua a provar que é um gênio das pistas. O britânico se igualou a Michael Schumacher em número de títulos, com sete, e se tornou o maior recordista de vitórias na história da F1, com 95. E não é "só isso" que o deixa no topo da lista.
As atuações espetaculares na Inglaterra e na Turquia merecem ser assistidas à exaustão por qualquer fã do esporte a motor. Além disso, Lewis fez 10 poles, anotou seis voltas mais rápidas, venceu 11 das 17 etapas e liderou o pelotão, pasmem, por 613 voltas no ano. Se isso ainda não é suficiente, o heptacampeão encarou batalha contra a covid-19 e teve tempo de lutar por pautas de suma importância para a sociedade. Lewis Hamilton é o verdadeiro mito.
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Toda a última quarta-feira do mês a coluna Chicane traz reflexões e histórias do mundo do automobilismo, em especial a Fórmula 1, com Marcus Celestino.
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