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Pandemia leva F1 a reduzir ainda mais seus custos

Líderes da competição definiram novas limitações de gastos para o campeonato que, espera-se, comece em julho

por Livio Oricchio

A reunião das principais lideranças da F1, via videoconferência, na última segunda-feira (6/4), debateu essencialmente como encarar a grave crise mundial sem danificar em demasia a sua imagem de excelência. Vamos ver o que está em curso na F1, como a competição deverá ser diferente do que conhecemos tão logo dê a largada?
Começo nossa conversa com uma notícia já esperada. François Dumontier, o responsável pelo GP do Canadá, confirmou na terça-feira (7/4) que a corrida de Montreal não poderá ser realizada na data original, 14 de junho.
Era para ser a nova etapa do calendário, mas a exemplo das oito primeiras teve de ser adiada ou mesmo cancelada por causa da pandemia do coronavírus.
O próximo GP da lista é o da França, dia 28 de junho. Mas o próprio presidente francês, Emmanuel Macron, alertou a nação de que o assustador número de mortos pela Covid-19 - ao redor de 500 por dia – ainda não representa o máximo esperado pelas autoridades de saúde.
Esse quadro sugere ser difícil para o grupo esportivo francês, liderado por Eric Boullier, manter a prova no Circuito Paul Ricard na data programada. A exemplo de outros, o GP da França deverá ser adiado.
Até agora, oficialmente, os GPs da Austrália, dia 15 de março, a princípio o de abertura, e o de Mônaco, sétimo, 24 de maio, estão cancelados. Os demais, apenas adiados.

Mas será difícil para a Formula One Management (FOM) e a FIA conseguirem reinserir etapas como as do Barein, Azerbaijão e Canadá no calendário quando as condições no mundo permitirem o início da temporada. Fazer zigue-zague pelo planeta custa muito dinheiro e demanda tempo, as duas maiores carências hoje da F1.
Nesse momento, a estimativa de Chase Carey, o diretor executivo da FOM, de Jean Todt, presidente da FIA, e dos representantes das equipes é de começar o campeonato dia 5 de julho com o GP da Áustria - originalmente o 11º do ano.
Para isso a pandemia terá de ser controlada em uma velocidade maior da que estamos assistindo até o momento na Europa. Um desafio e tanto.

Dinheiro, tema principal

Podemos falar, agora, das deliberações da reunião entre Carey, Todt e os diretores das dez escuderias da F1.
Se você fosse um deles, o que mais considera ser importante debater? Dinheiro, não? Sim, porque sem corridas o fluxo de dinheiro na F1 quase deixar de existir. E sem dinheiro várias equipes, que nada mais são do que empresas, têm enormes dificuldades para simplesmente continuar ativas.
Elas já começaram a receber da FOM, este ano, em função da sua classificação no Mundial de Construtores de 2019 e também o valor fixo determinado por sua importância histórica para o evento. Há um repasse mensal para todas. Mas a FOM também precisa de receita para continuar com os pagamentos.
Nem todos sabem. A FOM possui lá sua reserva, isso porque cada promotor de GP tem de fazer um depósito antecipado na conta da FOM. Ou seja, a holding que administra a F1 recebeu por algo que ainda não entregou. Ok, não por sua responsabilidade, mas o fato é que boa parte dos promotores já pagou a caríssima taxa cobrada pela FOM.
O que não está claro, provavelmente nem para os homens da FOM e promotores de GP, é o que fazer com o dinheiro já depositado se o evento não será realizado. Carey o devolverá ou servirá já para a edição de 2021?
Como descrito, não é pouco. O Azerbaijão, por exemplo, paga US$ 60 milhões, R$ 300 milhões. Os GPs na Europa, exceto Mônaco, US$ 25 milhões, R$ 125 milhões, cada.
Zak Brown, diretor do Grupo McLaren, e Claire Williams, sócia e diretora da Williams, já anunciaram que reduziram os salários de vários de seus funcionários e mesmo licenciaram outros.

McLaren e Williams são times com algo como 600 integrantes cada. Imagine o custo para manter esses profissionais qualificados na folha de pagamentos, com todos os elevados encargos sociais britânicos.
Mercedes e Ferrari, por terem uma segunda fábrica, a das unidades motrizes, se aproximam dos mil integrantes. A Renault tem um pouco menos.
Carey deu o exemplo também, ao impor corte substancial nos gastos com pagamento aos cerca de 500 funcionários da FOM. O seu, inclusive.
Essa é a realidade da economia mundial hoje: conter despesas porque, com a reclusão compulsória da sociedade, a indústria, o comércio e os serviços caíram exponencialmente.

Sedes das equipes seguem fechadas

Esse quadro contencioso, financeiro e de deslocamento, obrigou os líderes da F1 a encaminhar algumas soluções.
As sedes das equipes terão de permanecer fechadas não mais por três, mas cinco semanas. Isso quer dizer que este mês, abril, e mesmo no início de maio, os funcionários das equipes vão permanecer em casa.
Verdade, nada os impede de se manterem conectados e continuar trabalhando no desenvolvimento digital do modelo desta temporada. E é o que estão fazendo.
Do início da volta às atividades nas sedes, provavelmente na segunda quinzena de maio, até a primeira corrida do ano – quem sabe em Spielberg, no começo de julho – os diretores técnicos teriam total liberdade para trabalhar em seus carros. Mas na Áustria, ou onde for que a temporada irá se iniciar, esses carros seriam homologados.
Todos os seus componentes mecânicos seriam registrados pela FIA e nada poderia ser mudado não apenas até o fim do ano, senão até o término do campeonato de 2021! Essa proposta está bem avançada. Há boas chances de ser aceita.
Os elementos do conjunto aerodinâmico, no entanto, poderiam ser revistos pelos engenheiros. Aqui também está em discussão a redução no número de horas permitidas no túnel de vento, hoje de 40 por semana, e dos estudos aerodinâmicos digitais (CFD).

Limitação de tokens

Há a possibilidade de cada time dispor de determinado número de tokens para ser usado no desenvolvimento do carro.
Por exemplo: cada um teria 40 tokens por ano, 2020 e 2021. Se você substituir o aerofólio dianteiro, pagará 8 tokens. O traseiro, 5. Já a troca do assoalho, 10. Um defletor lateral, 2 tokens. Até atingir os 40 autorizados. Atingido o limite, a escuderia não poderia mais modificar o carro.
Isso havia sido implantado a partir de 2015 para o desenvolvimento das unidades motrizes, ou motores. Mas no fim de 2016 a FIA decidiu dar total liberdade para seu desenvolvimento, baniu o sistema de tokens, já que o regulamento limitaria a três o número de unidades motrizes por piloto por campeonato.

Mercedes, Ferrari, Honda e Renault teriam, dessa forma, três versões evoluídas de unidades motrizes ao longo do ano - com cada uma sendo usada por sete GPs, em média. É assim até hoje.

Congelar os motores

Mas está em discussão também o congelamento do desenvolvimento das unidades motrizes. A versão apresentada no GP de abertura seria homologada. As quatro só poderiam rever aspectos da confiabilidade, resistência da unidade motriz. Não seria permitido melhorar a performance.
Mercedes, Ferrari, Honda e Renault querem que o seu limite orçamentário seja maior que o das demais equipes se não houver congelamento. Faz sentido, elas vão gastar dinheiro do limite orçamentário para melhorar suas unidades motrizes, enquanto as que apenas pagam por seu uso, não as produzem, não têm essa despesa.
Por falar em teto de investimento, a regra original previa US$ 175 milhões, ou R$ 875 milhões, mas já conseguiram baixar para US$ 150 milhões, R$ 750 milhões, enquanto a proposta é chegar a US$ 125 milhões, R$ 625 milhões.
Vale lembrar: esse teto orçamentário vale a partir do ano que vem. Ainda: o valor pago aos pilotos, a três diretores da equipe e o investimento em marketing estão fora do limite.

Se puderem, ricos vão gastar

A limitação de mexer somente nos elementos do conjunto aerodinâmico, este ano, reduziria as possibilidades de investimento dos mais ricos, funcionaria como um teto orçamentário.
Como poucos acreditam que Mercedes, Ferrari e Red Bull limitariam seus gastos, enquanto o regulamento permite gastar, os menos ricos propuseram o sistema de tokens mencionado.
Em 2021, você talvez se recorda, as equipes vão concentrar seu trabalho no projeto e construção dos complexos modelos de 2022 - quando uma nova F1 vai começar. Este ano elas não podem trabalhar no monoposto de 2022.
Os carros terão o chamado efeito asa, maior pressão aerodinâmica, as rodas passam de aro 13 para aro 18, com profundas implicações mecânicas e aerodinâmicas. E, como mencionado, teremos a histórica introdução do limite orçamentário.
Nos próximos dias essas propostas vão estar melhor definidas. Vamos seguir acompanhando tudo de perto.


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