Até alguns anos atrás, os automóveis tinham a simples função de transportar o motorista e passageiros de um determinado ponto A para um ponto B. Porém, atualmente, outras características e atribuições foram conferidas ao carro, que além de ser responsável pela locomoção também tem a função de gerar mais conforto durante todo o trajeto, conectividade, segurança, e (por que não?) status.
Porém, tudo isso exige um preço. De acordo com especialistas, os recentes reajustes nos preços dos carros são justificadas através de diversos fatores, como a crise na indústria automotiva, gerada pela falta de insumos, inflação, e claro, o novo perfil do consumidor brasileiro.
Sobre o assunto, ao ser questionado a respeito dos atuais preços dos carros, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, explica que além de novas regras e legislações que impõem mais itens de equipamento e segurança nos veículos, o consumidor busca por mais conectividade. Como consequência, esse pacote encarece o produto final.
“Já não existem modelos sem retrovisores e com bancos de plástico. Nosso regulatório obriga que todos os veículos tenham determinados itens, além de adequar às normas de emissões. Também há exigências do consumidor para conectividade. Então, o produto está mudando porque o regulatório e a sociedade exigem”, explica Moraes.
Como comprovação, no início do ano, quando a Renault renovou o subcompacto Kwid, o carro mais barato do mercado automotivo atual, a empresa decidiu descontinuar a configuração de entrada.
De acordo com a montadora, a variante mais simples (e portanto a mais barata) representava um percentual muito pequeno de vendas, e não compensava mantê-la em linha.
Atualmente, as montadoras disponibilizam, até para os carros mais em conta, itens de conectividade que, até anos atrás, eram vistos apenas em configurações mais completas. A central multimídia é uma delas, seja como item de série, ou como opcional.
De acordo com recente pesquisa realizada pelo Webmotors Autoinsights, dos 5.480 entrevistados em âmbito nacional, 72% revelaram a intenção de investir mais em um carro que ofereça itens de conectividade a fim de ter mais comodidade e segurança.
“No passado, as pessoas que precisavam de um veículo, mas tinham um orçamento mais limitado, acabavam optando por adquirir um veículo mais básico, os chamados 'carros de entrada'. Com o avanço da tecnologia, percebemos uma mudança no perfil do consumidor. Hoje, o comprador entende que adquirir um carro com itens de conectividade pode se tornar um investimento com retorno na hora de vender esse veículo”, explica a CMO da Webmotors, Cris Rother.
De acordo com o levantamento, a central multimídia com espelhamento do celular, através do Android Auto ou Apple Carplay, tem a preferência de 61% dos brasileiros, seguida pelo sistema keyless para abertura das portas por aproximação, que representou 34% de interesse dos entrevistados.
O wi-fi integrado ao carro também ganhou destaque na pesquisa, com cerca de 32% de interessados. “Um zero-quilômetro básico hoje não sai da concessionária por menos de R$ 60 mil. Enquanto isso, um modelo usado em ótimo estado, com diversos itens que garantem a comodidade do motorista, acaba custando o mesmo preço”, compara.
Em relação aos itens de segurança, 4.309 consumidores responderam que os sensores de estacionamento dianteiro e traseiro (63%) e o sensor crepuscular para acionamento automático dos faróis (36%) fazem toda a diferença no momento da decisão.
Diferenciais como sensores de movimento e câmeras também figuram como essenciais entre os entrevistados.
Ao analisar o acumulado dos emplacamentos dos carros mais vendidos durante o primeiro trimestre do ano levantados pela Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave), é possível conferir a presença de veículos mais equipados e completos nas primeiras posições.
Entre os 10 mais emplacados carros como o VW T-Cross, Jeep Compass, Hyundai Creta, obtiveram melhores resultados em vendas no comparativo com o Renault Kwid, por exemplo, que finalizou o trimestre em oitavo lugar.