O avanço na venda de automóveis elétricos continua no mercado europeu, o que mais se aproxima das preferências dos compradores brasileiros. Por aqui, apesar de vários comentários sobre a “realidade” do carro elétrico, isso não tem se refletido nos números reais. Percentualmente os valores de crescimento enchem os olhos, mas como a base comparativa é bastante baixa, cria-se um entusiasmo longe dos fatos.
Ao final de 2023, os veículos elétricos a bateria (BEV, na sigla em inglês) deverão responder por menos de 1% do total comercializado no Brasil. Até outubro, as estatísticas da Anfavea, entidade que reúne os fabricantes nacionais, apontavam a seguinte distribuição nos segmentos de automóveis e comerciais leves: 2,6%, gasolina; 0,6%, elétrico; 3,3%, híbrido; 83,5%, flex e 10%, diesel.
Na Europa há incentivos encorajadores para quem deseja comprar um modelo 100% elétrico e a participação deve terminar perto de 20% este ano. Entretanto, há uma certa preocupação entre os fabricantes, que captaram os primeiros sinais de desaceleração de crescimento. Alguns, como Volkswagen e Ford, resolveram adiar a construção de novas fábricas de baterias.
Os motivos são previsíveis: os preços não estão caindo como se imaginava; os compradores resolveram esperar mais por essa queda e por avanços prometidos em termos de alcance em viagens rodoviárias; há dúvidas sobre a desvalorização no mercado de usados; a rede de recargas não se expandiu como o previsto; e as mudanças na matriz de geração elétrica têm ocorrido de forma lenta e desigual entre os países na União Europeia.
Na Europa, a oferta de carros a hidrogênio - que são conhecidos pela sigla FCEV (em inglês, Veículo Elétrico com Pilha a Combustível) - é limitada a modelos como os Toyota Mirai e Crown, além do Hyundai Nexo. O hidrogênio é o quarto elemento químico mais abundante no planeta, atrás do oxigênio, do silício e do alumínio, nesta ordem.
O hidrogênio verde, quando obtido a partir de energia elétrica de fontes renováveis pelo processo de eletrólise, é considerado a melhor fonte alternativa aos BEVs por meio dos FCEVs. Entretanto, ainda não se pode prever quando isso ocorrerá de fato. Alguns cientistas preveem um prazo de 10 anos para uma posição de destaque no mercado. Isso, no entanto, deve ser antecipado.
A grande vantagem é o tempo para abastecer, de cerca de três minutos, praticamente igual ao dos combustíveis líquidos atuais. O alcance também se destaca porque a energia contida no hidrogênio não diminui com o tempo e nem com a distância percorrida (depende apenas do tamanho do tanque pressurizado a 800 bares, quatro vezes mais que o gás natural veicular). E também não depende de cobertura da rede elétrica.
Para Chun Fung Lee, analista de trem de força da GlobalData, empresa inglesa de análise e consultoria de dados, há obstáculos no avanço dos FCEVs em curto e médio prazos. A degradação do caro catalisador à base de platina é a principal limitação da vida útil de uma pilha a hidrogênio. Todavia, um novo catalisador à base de ferro foi desenvolvido para substituir o de platina.
A garantia de 100.000 quilômetros, no caso do Mirai, fica abaixo da oferecida para a maioria dos BEV (160.000 quilômetros ou mais). A falta de infraestrutura para abastecimento também atrapalha muito. O custo do quilômetro rodado é mais alto, entre 1,3 e 4,3 vezes, no mercado europeu. Os preços de venda ficam entre 65.000 e 70.000 euros (de R$ 345.000 a R$ 372.000) e o preço médio, em 2022, dos BEV era de 56.000 euros (R$ 298.000). Lee acrescenta que “incentivos governamentais são cruciais para apoiar a adoção de tecnologias inovadoras. A maioria dos membros da União Europeia tem atuado nessa direção, assim como já acontece com os BEVs.
Contudo, os incentivos são insuficientes para a produção de hidrogênio e para a infraestrutura de distribuição”. Lee destaca um lado positivo: “Vemos um esforço para tornar os FCEVs mais atraentes globalmente no segmento de automóveis de passageiros. Por exemplo, estes foram o principal meio de transporte nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em 2022. Isso mostrou que, com apoio governamental adequado, há um grande potencial para ser amplamente utilizado.”
A Toyota, maior produtora de veículos do mundo, continua apostando no hidrogênio. Um grande avanço acontecerá em 2026, quando lançará a terceira geração de sua tecnologia para FCEV. Oferecerá ciclos de vida mais longos, maior alcance e custos significativamente reduzidos. Igualmente a BMW tem o SUV iX5 Hydrogen e o presidente da empresa, Oliver Zipse, é assertivo: “O hidrogênio é a peça que faltava no quebra-cabeça da mobilidade livre de emissões, porque uma única tecnologia não será suficiente para tornar possível a mobilidade neutra em termos de clima em todo o mundo”. A marca alemã lidera o mercado mundial de automóveis premium.