Na coluna deste mês, vou responder uma questão que muita gente já me perguntou e muitos fãs de automóveis, não só de muscle cars, sempre tiveram: por que as benditas asas traseiras dos Dodge Charger Daytona e Plymouth Roadrunner Superbird - ambos do final dos anos 1960, competidores da Nascar e conhecidos como os "Winged Warriors" da Chrysler - são tão grandes?
"Muscle Culture" é a coluna de André Deliberato (@andredeliberato no Twitter e no Instagram) no WM1, portal de notícias da Webmotors, que traz curiosidades, notícias e informações sobre uma das mais tradicionais filosofias de carros norte-americanas dos anos 1960 e 1970, mundialmente conhecida e representada pelos muscle cars.
Esses dois nomes - na verdade, os sobrenomes dessas versões especiais de homologação dos modelos, utilizadas em corridas da Nascar - arrepiam a alma de todos os fãs de muscle cars. O Dodge veio primeiro, em 1969, e o Plymouth foi apresentado depois, em 1970, logo após o sucesso estrondoso do Daytona.
Construído com base no Charger R/T de 1969, o Daytona tinha freios melhores, suspensão mais firme e um motor V8 Magnum 440 como itens de série - o Hemi 426 Big Block era opcional. Na carroceria, para-choques e para-lamas dianteiros eram específicos, assim como o capô - e tinha também a polêmica asa gigante lá atrás. O sucesso foi tanto que seu nascimento deu origem ao Charger 1970.
Foram 503 exemplares feitos em 1969 - regulamento da Nascar daquela época exigia que pelo menos 500 carros fossem construídos para que a versão de competição pudesse ser homologada às ruas. Fez história: foi simplesmente o primeiro carro a ultrapassar a marca de 200 mph (320 km/h) em circuito fechado - a velocidade máxima dos modelos de rua era de 290 km/h.
Agora olhe para a traseira do carro, observe a tampa do porta-malas e a resposta parece óbvia: a asa era gigante para que essa tampa pudesse ser totalmente aberta, de baixo para cima. Ok, mas não era só por isso. A peça de 58,4 cm servia principalmente para estabilizar a traseira e evitar eventuais escorregadas do carro, algo bem comum em modelos de tração traseira.
Para ter ideia de como o coeficiente aerodinâmico (cx) do Charger Daytona era eficiente por conta desse formato, com essa construção o esportivo conseguia entregar o número de 0,28 - apenas para efeito de comparação, o Dodge Viper da década de 1990, com todas as curvas que seu desenho lhe oferecia, tinha cx de 0,55, praticamente o dobro.
O "primo" Roadrunner Superbird surgiu pouco tempo depois, em 1970, ano do tricampeonato mundial da seleção brasileira de futebol. Era uma espécie de "Daytona da Plymouth", pois compartilhava o mesmo perfil de carroceria e plataforma. Foram fabricados mais de 1.900 exemplares naquele mesmo ano.
Isso porque a regra da Nascar havia mudado: o regulamento e o número de exemplares exigidos para a homologação não era mais de 500 unidades, mas sim o de um carro para cada dupla de concessionárias da respectiva marca nos EUA - e a Plymouth tinha mais de 900 lojas naquela época.
O Plymouth Superbird (o nome, como muitos de vocês imaginaram, é uma homenagem ao desenho animado do Papa-léguas) era mais refinado que o Daytona. A asa traseira era maior e ligeiramente mais inclinada, o que comprova que ela não tinha aquele tamanho somente para facilitar a abertura da tampa do porta-malas, e sim para favorecer a aerodinâmica do muscle car.
O Superbird também podia ser equipado com o V8 Magnum 440 ou com o Hemi 426 e prometia repetir o desempenho do Charger Daytona. Viraram clássicos: hoje, nos Estados Unidos, um exemplar em bom estado de qualquer um dos dois modelos dificilmente é vendido por menos de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões), mesmo restaurado, e não original.