Teste: aceleramos a exótica Tesla Cybertruck

A Cybertruck, picape elétrica exótica da Tesla, finalmente chegou às estradas dos Estados Unidos. Mas não tem qualquer possibilidade, hoje, de ser vendida no Brasil oficialmente. Então, a pergunta que fica é a seguinte: será que estamos perdendo muita coisa?

Bom, para responder essa pergunta, recorremos ao teste que o jornalista Thomas Geiser fez para nossos parceiros da Carsales, o maior ecossistema de compra e venda de carros da Austrália.

Tesla Cybertruck

Poucos veículos elétricos são tão debatidos nas redes sociais quanto a Tesla Cybertruck, mas quase ninguém já sentou em uma, muito menos a dirigiu. Enquanto poucos brasileiros ainda sonham com a chegada da picape ao Brasil, a Cybertruck está, neste momento,  sendo entregue a compradores norte-americanos, o que abriu o caminho para nossa viagem inaugural ao Texas. É um ímã para os espectadores e rápido de sair da linha, mas a tão esperada Tesla Cybertruck não é um veículo para uso diário confortável – é mais um acessório para exibicionistas.

Quanto custa a Tesla Cybertruck?

Após longos atrasos, Elon Musk começou a liberar os primeiros exemplares da Tesla Cybertruck 2024 para clientes dos EUA no final do ano passado. Os preços começam em  US$ 60.990 (aproximadamente R$ 305 mil, em conversão direta) para o modelo básico de tração traseira. Isso é US$ 33 mil (R$ 165,6 mil) a mais que o preço inicial definido quando o protótipo foi revelado, quatro anos antes, mas poucos reclamaram.

A partir daí, a configuração da Cybertruck com tração nas quatro rodas parte de US$ 79.990 (R$ 401,5 mil), enquanto a opção com três motores, conhecida como Cyberbeast, chega a US$ 99.990 (R$ 502 mil).

A RWD Cybertruck de motor único tem autonomia de 402 quilômetros, enquanto a AWD de motor duplo conduzido neste teste consegue rodar até 547 quilômetros com uma única carga. A Cyberbeast, de motor triplo, tem alcance de 515 quilômetros - muito bom, convenhamos.

O que é bom na Tesla Cybertruck?

Seja nas fazendas em direção a Fredericksburg, ou em New Braunfels com os primeiros colonizadores alemães no centro de Austin, ou em frente à moderna churrascaria de Terry Black, o Texas é uma região de picapes. Pelo menos um em cada três carros na estrada é uma Ford F-150, uma Chevrolet Silverado ou uma RAM 1500 – mas, de vez em quando,  aparece a Tesla Cybertruck 2024.

Afinal, o modelo mais recente de Elon Musk está saindo da linha de produção nos arredores da capital do Texas, e vários clientes têm vindo à fábrica todos os dias desde novembro passado para receber a exótica caminhonete.

Um deles foi Shaheen Badiyan, que encomendou a Cybertruck no primeiro dia em que a carteira de pedidos dos EUA foi aberta, há cinco longos anos. E embora a própria Tesla se oponha a todos os test-drives, o especialista em software foi persuadido a nos deixar ficar com seu carro por algumas horas.

Assim, abordamos a deslumbrante e excêntrica cabine dupla com a mesma curiosidade que todos aqui têm por ela. Embora ninguém realmente se vire para olhar uma picape normal no Texas, a Cybertruck atrai a atenção de todos.

Os transeuntes param e batem no vidro supostamente à prova de balas dos semáforos, outros motoristas na rodovia competem entre si pela melhor posição da câmera com seus celulares na mão e, onde quer que você saia da picape, você se envolve em uma conversa – sobre a Tesla, claro.

É preciso entender que com 5,70 metros de comprimento, a Cybertruck é bastante modesta em comparação com suas concorrentes. Está mais próxima da Ford Ranger do que da F-150, mas com uma frente tão alta e plana quanto uma escavadeira, impõe o respeito de todos na estrada.

Entre todas as caminhonetes clássicas com suas grades poderosas e flancos musculosos, o tanque de aço inoxidável com seus painéis planos e bordas quase afiadas realmente parece coisa de um cowboy espacial que pegou a saída errada na Via Láctea. Raramente um nome foi tão apropriado quanto Cybertruck.

Ok, então não é a picape mais luxuosa ou prática do mercado. Não importa. Pelo menos, não para Badiyan. Afinal, ele não é fazendeiro nem cowboy, mas ganha dinheiro com segurança cibernética, e só comprou o Cybertruck porque é muito diferente. E porque ele é um dos primeiros e-drivers.

A Cybertruck de tração traseira monomotor de 235 kW (219 cv) não deverá estar disponível antes do próximo ano, e a Cyberbeast de 621 kW (845 cv) – com seu tempo de sprint insano de zero a 100 km/h em 2,7 segundos – já está sendo entregue, mas em números muito pequenos. O preço pedido acima de US$ 150 mil (R$ 753 mil) é alto, para dizer o mínimo, então Badiyan está dirigindo o Cybertruck All-Wheel Drive.

O certificado de matrícula do veículo mostra 453 kW (607 cv) e a autonomia WLTP registrada é de 547 quilômetros. A Tesla não lhe disse o tamanho da bateria, mas Badiyan estima que tenha bons 100 kWh. Documentos da EPA dos EUA sugerem 122,4 kWh.

De qualquer forma, ele ainda não esgotou a bateria nas primeiras duas semanas e também não testou a taxa de carga rápida de 250 kW – e se uma Supercharger pode realmente lidar com isso. A Tesla afirma que 235 qulômetros podem ser adicionados em 15 minutos nesta taxa DC máxima. “A caixa de carregamento na parede de casa é suficiente para mim, não dirijo tão longe”, afirma o proprietário da nossa picape.

E é por isso que ele decidiu comprar a opção de extensor de alcance da Cybertruck, que é uma bateria adicional montada na carroceria que dá à picape uns bons 200 quilômetros a mais de alcance - a Tesla afirma que a autonomia passa para 755 quilômetros, no total.

Então Badiyan me diz seu PIN, que eu digito obedientemente na tela como faria em um telefone celular, e depois fico envergonhado olhando ao redor do volante ou em qualquer outro lugar em busca de uma alavanca de câmbio. A direção na Cybertruck é determinada na tela, assim como tem sido há dois anos nos Tesla Model S e no Model X.

Então, deslizo o carro para frente no canto superior esquerdo e, de um momento para o outro, a Cybertruck me transporta do que Elon Musk chama de Idade da Pedra automotiva para o futuro, e Ben Cartwright, do Rancho Ponderosa, torna-se o Capitão Kirk em seu caminho através da galáxia.

Em vez do barulho de um motor de oito cilindros, tudo que você ouve é um zumbido, e atingi o limite de velocidade do Texas em pouco tempo.

Mesmo com esta fera de chapa metálica, 4,3 segundos são suficientes para acelerar de zero a 100 km/h – e o fascínio aumenta com a massa de três toneladas que se desloca tão facilmente.

O fato de a Cybertruck poder atingir velocidades de até 180 km/h, enquanto a F-150 e similares são normalmente limitadas a cerca de 160 km/h – o que não é ruim - também impressiona.

O que não é tão bom no Tesla Cybertruck?

Claro, a Tesla Cybertruck 2024 atrai a atenção de todos, mas você não pode olhar tão de perto se não quiser estragar o fascínio.

Depois de apenas uma semana em sua posse, a caminhonete de Badiyan ainda está livre das manchas de ferrugem que estão causando furor nos fóruns da Tesla. Mas mesmo que o orgulhoso proprietário esteja constantemente polindo-a, o aço brilha em todos os tipos de tons diferentes e sempre tem manchas por toda parte.

E, sim, a precisão no trabalho em chapa metálica é diferente.

As diferenças entre o novo e o antigo mundo das picapes são particularmente marcantes no interior. Como todo Tesla, a Cybertruck é “mobiliado” de forma tão simples quanto uma cela de mosteiro, enquanto Ford, Chevy e similares, com suas poltronas e sofás macios, couro grosso e todos os acabamentos cromados, são mais como salas de estar sobre rodas.

E embora o número de telas – uma grande no modelo da Tesla, em breve meia dúzia na nova RAM 1500 REV – ainda possa ser discutível, a Cybertruck carece de todas as virtudes práticas que amadureceram nas outras. Mais de meio século: uma grande plataforma e uma pequena caçamba por si só não fazem de uma picape um veículo comercial prático.

Nosso entusiasmo inicial provocado pela forte aceleração da Cybertruck logo acaba.

Por mais prática que seja a suspensão pneumática para reduzir a altura de entrada ou aumentar a distância ao solo para mais de 40 cm fora de estrada, a cabine dupla de cinco lugares luta para lidar com os solavancos da estrada na condução diária.

Como se o conforto moderado da suspensão não bastasse, a direção também leva algum tempo para se acostumar – e isso para dizer o mínimo.

A combinação da tecnologia drive-by-wire com transmissão de relações variáveis ​​e feedback moderado, um eixo traseiro direcional muito pronunciado, pneus Goodyear robustos em aros de 20 polegadas e o volante quase em ângulo reto proporcionam algumas manobras de direção desagradavelmente angulares, especialmente quando no trânsito da cidade e em locais mais apertados.

Depois de meio dia rodando por Austin, é difícil imaginar a excêntrica prateada como um carro texano onipresente e como uma substituta – ou pelo menos uma adição séria – às tradicoonais F-150, Silverado e Ram 1500.

Talvez Austin seja o lugar errado, apesar da fábrica ser na periferia da cidade. Da próxima vez, seria melhor ir de carro até Houston, onde fica a sede da NASA e a vista se estende até o espaço.

Talvez a Cybertruck esteja em melhores mãos na capital dos astronautas do que com todos os cowboys.

A Tesla Cybertruck é uma boa compra?

Claro, a Tesla Cybertruck 2024 é um veículo fascinante e, acima de tudo, uma afirmação espetacular. E, com o seu design radical, rouba a cena de qualquer Lamborghini Urus.

Mas, convenhamos, a Cybertruck é mais um acessório para exibicionistas e vanguardistas do que uma picape para uso diário nos EUA – e assim será no Brasil, caso apareça aqui.

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