Aquele clichê de que em time que está ganhando não se mexe vale para os veículos só até a página dois. O Land Rover Range Rover Evoque - sim, este é o nome completo do SUV -, quando foi lançado, em 2011, causou furor no mercado sobretudo por um grande atrativo: o visual. O utilitário esportivo revolucionou o design dos carros da Land Rover e foi responsável por atrair uma gama de clientes à marca que sequer considerava a compra de um Land Rover. A prova disso são as 800 mil unidades vendidas no mundo desde seu lançamento.
O design, embora continue atual, estava cansado. Afinal, não é difícil ver um Evoque desfiando por aí, além disso, já se passaram oito anos. A Webmotors foi à Grécia conhecer a segunda geração do SUV e afirmamos que desta vez, o principal atrativo não se vê por fora.
Não, não erramos a imagem. Esta é a dianteira do novo Evoque, com faróis mais afunilados e arestas arredondadas. Os vincos deram lugar a uma carroceria lisa, tão lisa que as maçanetas estão embutidas imitando seu irmão Velar. Calma, o Evoque ainda está ali! Se você ficar na dúvida olhe a lateral do SUV e a silhueta é inconfundível. A linha de cintura alta afunilando com a linha do teto cupê irão te dizer que se trata de um Evoque. Pela primeira vez ele não dita tendência, mas segue a da família.
Mas vamos ao que de fato interessa, o modelo chega ao Brasil no segundo semestre importado da Inglaterra e com preços que variam dos R$ 270 mil a R$ 320 mil. Neste primeiro momento serão duas opções, ambas com um motor 2.0 quatro cilindros turbo, porém com potência de 240 cv flex ou 290 cv a gasolina, combinados a um câmbio automático ZF de nove velocidades e tração integral.
Os pacotes de equipamentos ainda não foram definidos para as terras tupiniquins, mas na ocasião do lançamento pudemos experimentar a versão R-Dynamic, que entrega 249 cv a 5.500 giros e 37,2 kgf.m de torque a partir dos 1.300 rpm.
Se no futuro vamos ter que lembrar de plugar o carro na tomada quando chegarmos em casa, o Evoque começou bem oferecendo um sistema híbrido leve para toda a gama de motores, exceto a versão mais básica. Porém, isso só vale para os modelos vendidos na Europa, é o tal 48-volt MHEV. Uma opção híbrida plug-in, com um motor elétrico no eixo traseiro além do motor a combustão, foi prometida para 2020. Segundo a Land Rover, a tecnologia MHEV será vendida no Brasil na versão P300, equipada com motor de 300 cv. Já o híbrido plug-in ainda não foi confirmado.
Não existe um modo puramente elétrico, no novo Evoque um gerador - vulgo alternador - trabalha integrado ao virabrequim por meio da correia do motor e ele transforma a energia mecânica desperdiçada nas desaceleracões em energia elétrica e a envia para uma bateria alocada no assoalho do Evoque. Essa energia acaba dando um empurrãozinho ao motor nas pequenas aceleracões, precisamente em velocidades de até 17 km/h. É um sistema semelhante ao do Merceres-Benz Classe C EQ Boost. A ideia é ajudar a economizar combustível e poluir menos o meio ambiente.
A 130 km/h, limite da maioria das estradas da Grécia, o conta-giros ficava na casa dos 2.200 rpm e o câmbio cravado na nona marcha. Tantas marchas contribuem para a economia de combustível, mas também fazem o câmbio trabalhar demais quando exigimos respostas mais rápidas do motor. Basta olhar o painel de instrumentos para ver as reduções de três marchas de uma vez a cada ultrapassagem e, mesmo se não olhar o ‘cluster’, você sentirá as trocas de marcha que não são se mostraram tão suaves nessas situações. Se isso te incomodar, opte pelas borboletas atrás do volante.
Se o Evoque sempre fez fama pelo seu design, desta vez é por baixo da nova ‘casquinha’ que está a verdadeira revolução. O SUV estreia a nova plataforma modular PTA (Premium Transverse Architecture), desenvolvida para os modelos menores da marca com motores transversais de quatro cilindros. A plataforma foi pensada para o uso de tecnologias híbridas que utilizam baterias sob o assoalho. A nova geração do Discovery Sport deve ser a próxima a usar a PTA.
A Land Rover garante que 99,9 % da estrutura é nova e só sobraram as dobradiças para contar história. Com maior quantidade de aços de alta resistência, o carro ficou 13% mais rígido. Por conta da maior rigidez torcional, a suspensão não precisa trabalhar no limite para evitar a rolagem da carroceria nas curvas e o Evoque passa a ser oferecido pela primeira vez com rodas aro 21” de fábrica. Não se empolgue porque a marca não deve trazer a opção para o Brasil, por aqui a gama deve ir até 20”. E a parte boa é que mesmo com aro 20 e pneus de perfil baixo o Evoque se mostrou extremamente confortável, coisa que não acontecia na geração anterior. Agora ele sustenta a combinação “rodão + pouca borracha” e mesmo assim ninguém reclamará da buraqueira dentro do carro.
A suspensão também merece seus méritos, já que está bem mais refinada. Na dianteira é do tipo MacPherson com buchas hidráulicas, para minimizar as vibrações sentidas no volante. Já a traseira é do tipo Integral Link, a mesma do Velar, que se comporta diferentemente para lidar com as forças laterais e longitudinais. Outra evolução são os amortecedores adaptativos oferecidos como opcionais, eles contam com sensores que continuamente analisam os a posição dos amortecedores e as condições de piso, fazendo ajustes a cada 100 milésimos de segundo nas quatro rodas.
A plataforma é nova, mas o tamanho é basicamente o mesmo. São 4,37 m de comprimento, 1,64 m de altura e 2,10 m de largura contando com os retrovisores. No entanto, a nova plataforma permitiu que o espaço da cabine aumentasse, o entre eixos cresceu em pouco mais de 2 cm e as novas colunas B e C tornaram o acesso mais fácil para ambas fileiras. Há mais espaço no porta-luvas e o porta malas está 10% maior, com capacidade para 591 litros.
Esqueça o acabamento do Evoque anterior. Para fazer jus ao refinamento da família, quem entrar no novo Evoque poderá escolher uma gama completa de materiais de alto padrão para a cabine de seu carro, do mais sofisticado couro legítimo ao politicamente correto KVadrat, uma opção de revestimento - bem bonita, por sinal - que mescla ao tecido um tipo de camurça feito de garrafas pet. Por carro, este tecido utiliza 53 garrafas pet. Interessante, não?
Um ponto que merece elogios é o isolamento acústico. Não se escuta nada do motor no interior do veículo, nem o pneus rolando no asfalto. Na cabine, apenas o barulho do vento é ouvido. Impressionante.
Tecnologia é ponto ponto alto do novo Evoque, o modelo está mais ‘esperto’ do que nunca e inaugura alguns sistemas que ainda não estão disponíveis nos outros veículos da marca. Um deles é o ClearSigh Rear Mirror View, uma câmera em alta definição instalada na antena traseira no teto que capta as tudo o que acontece na parte de trás do veículo e transfere para o retrovisor central. O que você acha que é um retrovisor comum, na verdade é uma tela em HD. O sistema é muito útil no Evoque por conta do vidro traseiro em tamanho reduzido e pode ser de grande valia quando a visão estiver obstruída pelas malas no bagageiro ou até mesmo pelos ocupantes do banco traseiro.
O ClearSight Ground View é outra tecnologia que estreia no Evoque. Em velocidades de até 30 km/h, câmeras instaladas nos retrovisores laterais e na grade mostram tudo o que está acontecendo na dianteira do carro como se o capô e o motor não existissem. No teste, dirigimos o Evoque sobre uma linha do trem em uma ponte a 40 metros de altura. Ou seja, sem margem para erro, o sistema cai como uma luva para vermos onde estamos colocando os pneus dianteiros. É muito útil também em situações off-road, mas caso você não seja tão aventureiro assim, ele vai te salvar de ralar uma roda quando for estacionar o carro na cidade.
O sistema de infoteinment Touch Pro Duo também passa a ser oferecido no Evoque. Então em vez da central multimídia convencional, você controla as funções de áudio, telefone, mídia, navegação, ar-condicionado, entre outros sistemas, por duas telas sensíveis ao toque que dominam a parte central do painel. Outra boa notícia é finalmente o Evoque traz Apple CarPlay e Android Auto em sua central multimídia. Soa inacreditável, eu sei, mas esses sistemas não eram compatíveis com a central da geração anterior.
No mais, estão disponíveis alguns sistemas de auxílio à condução, tais como controle de cruzeiro adaptativo, assistente de permanência em faixa e frenagem autônoma de emergência.
Eu sempre repito a mesma coisa quando volto dos eventos da Land Rover: os caras não têm dó do carro e nos colocam para testar seus veículos em condições que poucos clientes fariam. Rodamos por estradas de cascalho repletas de hairpins, atravessamos leitos de rios, passamos por mato, terra e lugares que eu jamais pensaria em levar um Evoque calçado com rodas aro 20 se ele fosse meu. Eu não levaria, mas o que a marca me mostrou é que o Evoque pode encarar esses desafios com a tranquilidade de um passeio no shopping.
Isso porque ele é equipado com o Terrain Response 2, sistema conhecido dos carros da Land Rover, que prevê como o carro deve atuar de acordo com o terreno. É possível selecionar o tipo de solo (areia, neve, lama, cascalho) pelo painel ou deixar que o modo automático decida o que é melhor.
Se você não tem muita habilidade em dirigir na terra, não se preocupe. Além do controle de descida convencional, o All Terrain Progress Control te ajuda também nas subidas. Parei o carro em uma subida daquelas bem íngremes e tirei o pé do freio conforme a solicitação do instrutor. Os 1.893 kg de Evoque não desceram um milímetro sequer. Santa tecnologia!
A capacidade de atravessar trechos alagados também melhorou, agora são 10 cm a mais. Se antes ele atravessava trechos com água até 50 cm, agora encara 60 cm de profundidade.
BELEZA E CONTEÚDO NA MEDIDA CERTA
A Land Rover conseguiu adicionar a nova identidade visual da família Range Rover ao visual icônico do Evoque, porém trouxe muito mais conteúdo ao SUV. Além de muita tecnologia embarcada e mais espaço, o conforto e refinamento são características marcantes da nova geração. Trocando em miúdos, sua relação com o novo Evoque dificilmente será de amor a primeira vista, como aconteceu com a geração anterior. Você vai preciso chamá-lo para sair primeiro e depois que isso acontecer, vai ser difícil largar. Não diga que não avisamos.
A jornalista Karina Simões viajou a convite da Land Rover do Brasil