Visitamos o túnel de vento de R$ 1 bilhão, da Ford

Saiba porque a marca investiu tanto dinheiro na nova instalação, que tem uma turbina movida por um motor com 7.000 cv

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Rodrigo Ferreira
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Depois de sete anos gastos na construção e mais de R$ 1 bilhão investidos, a Ford passou a operar, este ano, o túnel de vento mais moderno do mundo, capaz de avaliar aerodinamicamente veículos a uma velocidade de até 322 km/h.

Você pode estar se perguntando por que gastar tanto dinheiro e tempo em uma ferramenta capaz de, no máximo, fazer o ar passar melhor pelo seu veículo. Para tentar entender melhor esse assunto, o WM1 foi até Dearborn, em Michigan, nos Estados Unidos, para, entre outras coisas, visitar o Rolling Road Wind Tunnel (RRWT), como é chamado a nova instalação da marca.

T├║nel De Vento Da Ford (3)
Técnicos preparam mais uma avaliação usando o túnel de vento: estudos aerodinâmicos
Crédito: Divulgação
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A resposta pode não parecer óbvia, mas já te adianto que ela irá mudar os rumos de como será o seu carro daqui a alguns anos. Mas antes de eu te contar mais sobre este assunto, deixa eu te dar alguns números superlativos. Uma enorme turbina de oito metros de altura é responsável por mover o ar dentro do túnel. Esta máquina é movida por um motor que gera até 7.000 cv de potência (apenas como comparação, um Chevrolet Onix 1.0 tem 82 cv).

Este "ventilador" gigante é capaz de deslocar até 150.000 metros cúbicos de ar, por minuto. A temperatura de 22 graus dentro da cabine é sempre constante. John Toth,

supervisor de Engenharia de Túneis de Vento da Ford, conta que o "sistema é sensível o suficiente para acusar se você colocar o telefone no lado esquerdo do carro e movê-lo para o lado direito do carro. Esse é o nível de sensibilidade e precisão do sistema".

A imagem mostra o tamanho do ventilador principal do túnel de vento: cada palheta custa de R$ 300 mil
Crédito: Divulgação
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Somente a tela usada para impedir que qualquer poeira ou detrito comprometa as medições custou um milhão de dólares (R$ 5 milhões). O valor para trocar cada uma

das 12 palhetas de quase dois metros de comprimento que são acopladas à turbina sai por R$ 300 mil (60 mil dólares) e leva até um ano para ser confeccionada, na Europa.

Todos os novos modelos de veículos da Ford, antes de serem lançados, precisam obrigatoriamente passar por este equipamento. "Todos os novos programas de lançamento da Ford saem deste local, e isso vale para todas as nossas linhas de produtos, não apenas os da América do Norte. Modelos europeus, da América do Sul, da América Central, do Canadá, de todos os países da Ásia-Pacífico, todos os nossos programas passam por aqui”, complementa Toth.

E por que vale tanto o investimento?

A Ford está comprometida com a eletrificação dos seus modelos. E quer disputar a liderança mundial neste quesito. Tanto que, quando decidiu lançar seus primeiros

modelos 100% elétricos, não teve dúvida: apostou nos ícones Mustang e F-150.  Além disso, a montadora já anunciou que até 2030 irá vender somente carros elétricos na Europa.

"A Ford está realizando uma transformação global, focada no consumidor, em tecnologia e na eletrificação", contou Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford para a

América do Sul.

E é exatamente neste contexto que um túnel de vento pode ser decisivo para o acerto ou não desta estratégia. Dois dos maiores problemas dos carros elétricos na atualidade são preço e alcance - e aspecto está diretamente ligado ao outro. A lógica não é simples, mas vou tentar explicar.

É sabido que o custo da bateria altera significativamente o preço do carro. Quanto mais unidades, maior o valor. O aumento na quantidade de baterias também eleva o

peso do carro. O resultado disso é menor autonomia. Para tentar resolver esta charada, achar o tal santo graal, as montadoras precisam

buscar soluções que permitam levar baterias mais eficientes e que façam os carros não perderem eficiência ao percorrer as distâncias.

E é exatamente aí que entra o fator coeficiente aerodinâmico. Quanto melhor, menor resistência do ar e menos energia o carro precisa para se deslocar. E qual é a melhor ferramenta para melhorar a aerodinâmica de um carro? O túnel de vento!

A ilustração mostra a passagem do vento por todas as superfícies do muscle car Mustang: eficiência máxima
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"O que estamos tentando fazer aqui (no túnel de vento) é minimizar o coeficiente de arrasto, o que minimiza as nossas emissões de CO2 e torna os nossos carros mais eficientes. Gera uma melhor autonomia aos nossos veículos elétricos, mais litros por quilômetro (no caso de carros a combustão e híbridos), tentando maximizar esses números, para que possamos usar baterias menores nos nossos EVs e reduzir o custo, explica Toth.

A Ford não revela quanto já conseguiu economizar em custo com soluções aerodinâmicas, mas a redução de dez centavos de dólar em uma peça gera uma economia de meio milhão de reais em um carro que tenha um milhão de unidades vendidas, por exemplo.

Próximos elétricos serão como trens bala

A influência dos túneis de vento na próxima geração de carros elétricos será tão grande que, segundo os executivos da Ford, eles serão parecidos a trens bala. Rogelio Golfarb explica que a eficiência aerodinâmica será um dos fatores fundamentais para tornar os veículos mais eficientes.

"A segunda geração de veículos elétricos será diferente de tudo que você está acostumado a ver", comenta Golfarb, sem dar mais detalhes.

Darren Palmer, vice-presidente global para veículos Elétricos da Ford, dá uma dica melhor de quanto a marca está comprometida com modelos elétricos mais eficientes.

Sensibilidade máxima: o sistema pode identificar se você pegar o celular e botar em cima do banco do carro
Crédito: Divulgação
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"Estamos investindo 50 bilhões de dólares (R$ 250 bilhões) em desenvolvimento nos próximos quatro anos. Isso é realmente muito dinheiro, obviamente. E isso se aplica a um conjunto totalmente novo de produtos de tecnologia e veículos elétricos. Cada um deles é uma mudança de jogo trazendo algo que nunca existiu no mundo. Não temos carros chatos que só têm motor e nada mais. Nenhum. Zero. Não vendemos mais isso" - afirmou ele.

E Palmer vai além: "Começaremos com nossa 3ª linha no próximo ano, sobre a qual não posso dizer mais nada, mas não é nada do que você espera. E são os produtos de tecnologia que trazem ao mercado coisas que nunca fizemos, e falamos sobre o T3, que é a próxima geração de picapes", explicou ele.

Pensando por este lado, até que aplicar R$ 1 bilhão num túnel de ventos não é um investimento tão alto. Certo?