Você pode achar que o título é pegadinha, mas garanto que não. Durante o nosso teste de um mês com o novo Volvo XC40 elétrico fizemos um ida e volta entre São Paulo e Ribeirão Preto. O gasto foi de apenas R$ 14 reais. Ou o equivalente ao preço de pouco mais de dois litros de gasolina na capital paulista.
A ideia não era ganhar uma prova de mais mão de vaca ou de Tio Patinhas, mas sentir na prática o que é ter um carro elétrico. Adianto que a viagem foi com emoção.
O primeiro passo foi encher o tanque, ou melhor, as baterias do SUV. Por sorte, encontrei um carregador do tipo 2 num estacionamento a duas quadras de casa. Porém, para utilizá-lo, como a maioria dos carregadores em locais privados, foi preciso pernoitar com o carro no local. Nem havia andado um quilômetro da minha viagem e já tinha um recibo de R$ 14 do estacionamento no bolso.
Mas, enfim, teste é teste. Malas no carro, patroa acomodada e destino traçado. Veio a primeira surpresa, o sistema Google instalado na nova central multimídia do Volvo, além de calcular a rota do trajeto te indica com quanto de carga o utilitário irá chegar no destino. E o resultado foi desanimador.
Levaríamos 3h42 até Ribeirão. Até aí tudo bem, percorreríamos 314 km, pela rota mais curta, ok. Mas, segundo a estimativa, chegaríamos com apenas 2% de carga na bateria. Isso foi bem assustador. Segundo a Volvo, a autonomia máxima do XC40 Recharge Pure Drive é de até 418 km, porém não era isso que o assistente do Google me indicava na central multimídia.
Nem havia começado a viagem e já estava estressado. Imagina ficar parado na rodovia, sem carga e com um carro que não pode ser rebocado. Nada bom.
Apesar do prognóstico desanimador, a missão estava dada, então bora. Para evitar trânsito, sai às 7h, do sábado. Entre a minha casa e a Rodovia dos Bandeirantes um pequeno trecho de trânsito mais lento na Marginal Pinheiros e, para a minha angústia, o assistente refez as contas e eu chegaria em Ribeirão com 0%. Ou seja, não chegaria.
Será que o peso extra das malas, o meu modo de condução, os trechos de subida, o que será que fazia o computador calcular que não conseguiríamos chegar? Enfim, mil pensamentos, mas não tinha o que fazer, o jeito era continuar e torcer.
O percurso mais curto indicava um bom trecho da Rodovia dos Bandeirantes, uma das melhores do país. O asfalto liso e a velocidade constante fizeram bem para os cálculos de autonomia. Nos primeiros 50 km o marcador voltou a indicar que não só chegaríamos até Ribeirão Preto como ainda teríamos 3% de energia no tanque, ops, nas baterias.
Tem coisas que só um elétrico te proporciona. Por conta da regeneração da bateria, frear para pagar o pedágio ajuda para aumentar a autonomia. E como o que mais tem entre São Paulo e Ribeiro Preto é pedágio em pouco tempo o indicador já marcava 6% até o destino.
Porém, a vitória ainda não estava garantida e por um descuido meu não saí para a Rodovia Anhanguera na região de Campinas e continuei pela Bandeirantes. Não chegou a ser um erro, porque os dois caminhos levam a Ribeirão (além disso é mais seguro e confortável ir por este trajeto), mas o acréscimo de alguns kms baixou a expectativa da bateira a 0% na chegada. E o pior, ainda perdi um ponto de recarga num posto Graal no meio do caminho.
Confesso que neste momento a esposa perdeu o sorriso, sacou o celular e começou a ver alternativas de carregamento. Encontramos um carregador de carga rápida (150 KW) no Graal Coral, em Pirassununga.
O único problema é que até o Graal faltava mais de uma hora de viagem e uma distância de 120 km. Tenso. Quem já rodou com pouco combustível no tanque, sem saber se vai encontrar um posto pela frente, sabe do que falo.
No nosso caso, a gente até sabia que encontraria o abastecimento, mas não sabíamos se o carregador estaria em funcionamento e, pior, se não estaria em uso. Nessa altura da viagem, só nos restava torcer. Mil pensamentos vinham à mente. Teríamos que chamar um guincho, abortar a viagem, voltar para casa de táxi, cancelar a visita aos amigos...
Foi angustiante, não vou negar. O aperto só passou quando vi o carregador, no fundo do posto, quase no meio do mato, livre, sem carros e, o que foi melhor, funcionava!! Comemoramos como gol numa final de campeonato. Que alívio. É Goooolll.
O aparelho é uma parceria do restaurante com a EDP e faz parte de um projeto de instalar carregadores de cargas rápidas em pontos chave nas rodovias. Por enquanto, o carregamento é grátis. Basta baixar o aplicativo da empresa e começar a carregar.
No caso do XC40, chegamos com 35% de bateria e em 34 minutos carregamos até os 84%. Segundo o marcador da “bomba” foram entregues 41,6 Kwh no “tanque”. Mais do que o suficiente para irmos até Ribeirão. De quebra, aproveitamos a parada para tomar um café e fazer um pit-stop no banheiro.
Ribeirão Preto é uma das maiores cidades do estado e uma das mais ricas também. Porém, em termos de eletrificação ainda há uma longa estrada a seguir. Não há muitos carregadores públicos e, vários dos que estão disponíveis, ficam em concessionárias. Que fecham aos finais de semana.
A solução foi usar uma vaga no Shopping Iguatemi, que conta com carregadores da Volvo e, para minha surpresa, não cobram para estacionar. Deixamos o carro pernoitar no local.
Baterias 100% carregadas. Bora voltar. Mais descolados, fizemos uma parada estratégica no mesmo posto Graal de Pirassununga para encher as baterias, mesmo sem precisar. Com isso, eliminamos o problema de chegar à São Paulo quase sem “combustível”.
Mesmo assim, fizemos mais uma parada no caminho. Também em um Graal (125). Só para testar o sistema. Também achamos a vaga livre e o carregador em funcionamento.
Depois de quatro horas e meia, chegamos em casa com 31% de carga nas baterias. Parar no caminho preventivamente foi uma boa sacada, mas aumentou em mais de uma hora o nosso tempo de chegada.
Sim, conseguimos fazer o percurso com gasto de apenas R$ 14 para encher o “tanque”. Mas o saldo final não foi de todo positivo. Ficar estressado sem saber se conseguiria achar um carregador em funcionamento, uma vaga livre e perder parte do seu tempo de lazer para abastecer não foi tão legal. E este é o preço para quem quer sair na dianteira e ter um carro elétrico na garagem.